A Anacê apresentou nesta quarta-feira (13) seu primeiro desfile independente, fora do calendário tradicional de desfiles, na Herança Cultural, um espaço de curadoria de design e mobiliário brasileiro no bairro da Lapa, em São Paulo. Para chegar ao resultado final de sua segunda coleção solo, a diretora criativa Ana Cecília Gromann fez do tempo sua prioridade número um.
Não num sentido de agilidade, de correr para alcançar as tendências imediatistas da vez, mas o oposto: respeitando o próprio ritmo e aproveitando o período de pausa — a marca não fez desfiles em 2023 — para amadurecer processos, posicionamentos e a identidade da etiqueta, em um movimento que ficou mais palpável à medida em que cada modelo cruzou a passarela.
"Estamos sempre destruindo, construindo, repensando formatos. Esse momento atual faz parte do amadurecimento do que queremos apresentar, tanto dos valores quanto da busca pelo melhor produto possível", define Ana Cecília Gromann à Marie Claire. "A marca nasceu na pandemia em uma época de transformação do mercado e, de lá até aqui, tivemos tempo pra entender o melhor formato possível para apresentar esse produto. Esse desfile reflete um momento de respeito ao nosso processo criativo, de construção da peça e do próprio tempo da marca".
O título da coleção, "Córion", vem da membrana que envolve o embrião no útero materno. É uma camada que envolve e protege o interior — um paralelo ao desejo da Anacê de que a roupa seja como uma segunda pele, uma espécie de armadura para encarar o dia a dia. Entre as referências para o desenvolvimento das peças, a estilista cita o livro O casaco de Marx, de Peter Stallybrass. Na obra, o autor trata das ligações que estabelecemos com os objetos; na passarela, despertando reflexões sobre a durabilidade das roupas e seu papel como mediadora das nossas interações com o mundo.
"A partir dessas referências, escolhi materiais que pudessem ser duráveis, evitando fugir do consumo excessivo associado às tendências e buscando o que de fato seria perene em um guarda-roupa", destaca a diretora criativa. Bons exemplos são os jeans desenvolvidos com técnicas de construção de alfaiataria, os tricôs produzidos manualmente e os itens de látex amazonense, confeccionados por cooperativas de seringueiros da região. Assim como as camisas, as peças de látex têm um fator extra de versatilidade: são modelos dupla-face, multiplicando as possibilidades de combinações. Na linha mais festiva da coleção, ganham força os conjuntos assimétricos e os vestidos que desenham silhuetas inesperadas no corpo, seguindo uma paleta sóbria e sofisticada de tons outonais — do marrom ao marinho, passando por tons de cinza e toques pontuais de vinho.
A modelagem sem marcações de gênero segue, desde o início, como um dos pilares da Anacê. Desta vez, bermudas amplas com pregas, looks de alfaiataria e acessórios com detalhes metalizados (e um perfume vintage, mas nada antiquado) prometem ser os próximos itens-desejo para eles e elas.
Para além do empenho destinado à longevidade de suas criações, Ana Cecília também faz dos tecidos uma plataforma para comunicar as próprias emoções, memórias afetivas e laços com passado, presente e futuro. A estilista cita a artista francesa Louise Bourgeois como uma de suas inspirações, e o paralelo faz todo o sentido: as primeiras relações de Louise com a arte — que depois se expandiriam para muitos outros meios — aconteceram na oficina de restauração de tapeçaria comandada por sua mãe. Foi assim que ela começou a fazer dos tecidos uma maneira de falar sobre sua vida, suas relações familiares, e jogar para o mundo alguns de seus anseios mais profundos.
"Existem muitas mulheres artistas que ressoam no processo criativo da Anacê, em uma grande mistura do que estamos vivendo e de construções imagéticas que vamos criando de repertório ao longo da vida. A Louise [Bourgeois] é uma delas nessa coleção, principalmente em relação a essa roupa-escultura", comenta Cecília.
O espaço que serviu como cenário da apresentação ajuda a amarrar a história com precisão. Com uma seleção de móveis do design nacional, que vai desde jovens criadores a nomes icônicos, como Sergio Rodrigues, a Herança Cultural foi escolhida pela marca para reforçar a ideia dos objetos como uma extensão do corpo, abrindo, assim, outras possibilidades de externalizar as individualidades.
"Meu desejo é que a roupa da Anacê esteja na vida do consumidor como parte de quem ele é. Um produto do qual as pessoas possam, de fato, se apropriar", finaliza.
Cabelo molhado e make com dois produtos
Se as peças funcionam como uma segunda pele do corpo, a beleza da Anacê deixa brilhar a própria pele. Assinada por Helder Rodrigues, ela é prática, funcional e para todo mundo. "Costuma ser o visual de quem está com pressa, mas seja assim ou com tempo, ela consegue fazer com que o look fique especial", explica.
Com isso, os cabelos da passarela estavam "saí do banho e fui". "Fios molhados, com leave-in e um booster finalizador. Sabe esse cabelo que você passa um creme e sai para trabalhar e a textura vai secando e fica bagunçadinho?", conta o beauty expert. Os dois produtos utilizados são da GE Beauty.
Na maquiagem foram também dois produtos utilizados, o balm multifuncional marrom da Herô Beauté e corretivo Lâncome. "A pele ela aparece bem hitradada, não falo nem sobre glow, chamo de pele nutrida. A sobrancelha não foi penteada e também não usei curvex", detalha Helder Rodrigues.
"O desfile permite essa construção. Então por isso aqui a gente pode brincar com a beleza. Tem o marrom nos lábios quentes, que tem esse revival dos anos 90. Se você não ama, ao invés de usar na boca, usa como sombra, como contorno, blush, onde você quiser", ensina o maquiador.