Com a camisaria e a alfaiataria como o core business da marca, a Anacê lança nesta quinta-feira (31) a coleção "Um olhar para o cotidiano", com peças já reconhecidamente baseadas em silhuetas livres, comuns à moda agênero, ou seja, que borra as fronteiras entre o que se diz que é feminino e o que se diz que é masculino. Inspirado na vida urbana e na possibilidade de se adaptar para o dia a dia, o trabalho da fundadora e designer Ana Cecília Gromann se configura como um guarda-roupa cápsula com suéteres, camisas, polos, underwear e a bolsa Lua, da coleção anterior, revisitada em uma versão com edição limitada. Tudo já está disponível para a venda no site da marca.
Cecília, que é nascida no interior de São Paulo, e que mantém o ateliê da Anacê no bairro da República, um dos mais movimentados da metrópole, explica que o paradoxo conceitual foi olhar para a aceleração da cidade e, a partir dela, construir uma roupa que se tornasse um item de memória. Para o exercício criativo, a estilista observou o cenário urbano e levou suas percepções para a alfaiataria, um dos códigos mais fortes da marca.
" A Anacê sempre partiu do regaste de um ofício tradicional, que é a alfaiataria. Nesta coleção, o que buscamos foi trazer um olhar descomplicado para o dia a dia, além da percepção da roupa como memória", explica Cecília. "A ideia é ter uma peça que não é aposentada depois que a pessoa faz uma foto do Instagram, que vai além da efemeridade".
A Anacê lança pelo menos duas coleções ao ano. Segundo Cecília, apesar de também contemplarem a lógica do varejo, as roupas são resultado de uma pesquisa mais abrangente da estilista, levando em conta não só a necessidade de consumo mais consciente, como a intencionalidade de ser parte da história de vida de quem veste a marca.
A alfaiataria como 'roupa livre'
"A alfaiataria é um ponto de encontro para uma roupa mais livre, sem distinção de silhueta. Ao mesmo tempo, é um símbolo de empoderamento feminino, veste a mulher no local de trabalho. Ela sempre esteve num campo de lutas de gênero", analisa Cecília. "A Anacê é sobre isso. A camisaria, por exemplo, não faz distinção de gêneros; e isso não é nem querer levantar uma bandeira, mas é pensar na roupa como livre".
A designer diz, inclusive, que o fato de ser uma produção sem gêneros -- borrando as definições do que é masculino e do que é feminino -- foi uma construção com o público consumidor. "Com o tempo, passamos a fazer peças de tricô mais justas, em que aparecia mais a pele, e tivemos adesão do público masculino, que se mostrou mais sensível para isso".
Lançamento
Para convidados e imprensa, a Anacê promove nesta quinta um evento no Espaço Alto, localizado no Centro Histórico de São Paulo. O prédio histórico recebeu a primeira exposição solo de Anita Malfatti, em 1917, e que inspirou a Semana de Arte Moderna de 1922.
"O evento também é uma forma de fazer parte da história urbana de São Paulo. Sem contar que o nosso ateliê está na República, um lugar de muito movimento artístico, de design, e que também me faz entender a cidade e traz uma revitalização para aquela área, o que é importante para mim", pontua Cecília.