Moda

Por Paola Churchill, redação Marie Claire — São Paulo

Quem pensa que a moda é simplesmente ditar o que as pessoas devem ou não usar se engana. Um olhar mais aprofundado percebe que o que é desfilado — e por quem é desfilado -- é um retrato da sociedade atual.

As passarelas do inverno 2023 e o anúncio do retorno do desfile da Victoria’s Secret -- com uma campanha em que modelos icônicas (e magras) como Gisele Bündchen e Naomi Campbell voltam a ser celebradas, com espaço para apenas uma modelo midsize, a Paloma Elsesser --- não passaram ilesos a um questionamento: depois de tanto apelo à diversidade na moda, por que não vemos modelos gordos nas passarelas?

Na Paris Fashion Week o corpo magro foi exaltado nas passarelas — Foto: Reprodução/Instagram
Na Paris Fashion Week o corpo magro foi exaltado nas passarelas — Foto: Reprodução/Instagram

Nos últimos anos, trazer mais diversidade para o casting e combater a magreza fizeram parte dos discursos das marcas. A mídia também passou a criticar mais os padrões tóxicos ligados ao corpo, sobretudo de mulheres. Na última coleção, entretanto, as referências aos anos 2000 vieram à tona novamente. E não somente no estilo Y2K, mas com a exaltação do corpo magro. A influenciadora de moda e do body positive Ju Romano percebeu essa retomada "meio brusca" nas passarelas internacionais. E ela não foi a única.

Backstage da Paris Fashion Week, em julho deste ano — Foto: Richard Bord/Getty Images
Backstage da Paris Fashion Week, em julho deste ano — Foto: Richard Bord/Getty Images

Segundo um levantamento feito pelo portal The Fashion Spot, um estudo nos desfiles de inverno de 2022 das semanas de moda de Nova York, Londres, Milão e Paris mostrou que as modelos plus size representavam apenas 2,34% das profissionais contratadas por apenas 17 marcas. Na temporada anterior, elas correspondiam a 27,16% do casting.

Na opinião de Juliana, o problema está no uso discursivo da diversidade: atendendo a pautas do consumidor, a indústria da moda acrescentou corpos diversos porque era algo que o mercado pedia, não no que realmente acreditavam.

“Algumas marcas podem ter essa ideia de: ‘Olha só abracei aqui a diversidade, mas foi só uma tendência passageira, deixa passar. Na próxima estação a gente escolhe outra coisa’. Mas, os nossos corpos não são tendências da moda que vão embora”, pontuou.

Na contramão dessa cena, a moda brasileira tem mostrado acenos à aceitação de diferentes corpos. Na última edição do São Paulo Fashion Week, por exemplo, Rita Carreira entrou na passarela para 11 marcas na 54ª edição do SPFW. O número mais alto de sua trajetória em temporadas de moda até aqui. Letticia Munniz e Raphaella Tratske contabilizam cinco e quatro desfiles, respectivamente.

Os motivos do desaparecimento

Paloma Elsesser é uma das poucos modelos mid size no setor; aqui,  em desfile de 2022 para Vogue World — Foto: Sean Zanni/Getty Images for Vogue
Paloma Elsesser é uma das poucos modelos mid size no setor; aqui, em desfile de 2022 para Vogue World — Foto: Sean Zanni/Getty Images for Vogue

A criadora da feira Pop Plus, maior feira de moda plus size da América Latina, Flávia Durante, analisa a ausência de corpos gordos e a normalização da magreza nas passarelas de forma semelhante a da influenciadora. “Acho um retrocesso, era para estarmos muito mais avançados em algumas questões. Porque existe um mercado plus size muito grande e pessoas que querem consumir essas peças”, começa.

“Claro que existem marcas que realmente são inclusivas, muitas brasileiras inclusive, como a Isaac Silva e as nossas parceiras na Pop Plus. Mas, tem umas maiores que colocam duas modelos gordas nas campanhas, e quando se chega nas lojas, cadê os números maiores? É só algo que colocam para parecerem inclusivas, quando, na verdade, não é bem assim”, acrescenta.

Flávia pontua que o casting inclusivo diminuiu ainda mais por fatores sociais ligados a preconceitos com pessoas gordas -- um rescaldo, inclusive, da pandemia -- e ao aumento da popularização dos remédios usados para emagrecimento, como o Ozempic. “Na pandemia, os corpos gordos foram colocados como o grupo de risco. Então, há retomada do preconceito contra esses corpos e isso se reflete nas passarelas", analisa. "Porém, a pessoa ser gorda não é reflexo de que ela não é saudável”, diz.

A criadora de conteúdo, consultora e palestrante de Moda, Dani Rudz acrescenta na conta a recessão econômica e o retorno dos desfiles comerciais. Tudo isso, acrescenta a especialista, ganha força com o fato de influenciadoras e figuras públicas também se tornarem espelhos dos corpos que todo mundo quer ter que são, invariavelmente, magros. O ciclo de opressão às pluralidades se fecha.

Em entrevista a Marie Claire, as criadoras de conteúdo e ativistas body positive Dani Rudz, Flávia Durante e Ju Romano explicam as razões para essa mudança — Foto: Reprodução
Em entrevista a Marie Claire, as criadoras de conteúdo e ativistas body positive Dani Rudz, Flávia Durante e Ju Romano explicam as razões para essa mudança — Foto: Reprodução

Ela dá como exemplo as Kardashians. As irmãs que sempre eram conhecidas por terem corpos com curvas, de uns tempos para cá começaram a aparecer cada vez mais magras. “Isso acaba reforçando ainda mais o discurso problemático”, revela.

Vale dizer que não é de hoje que ser magra tem um valor para a indústria da moda. Nos anos 1960, com o avanço das revistas de moda da época, a magreza era enaltecida e muito procurada, tanto que o maior nome da época era a Twiggy, apelido dado para a modelo Lesley Lawson, que, em tradução livre, significa “graveto".

“Tendências vem e vão. Tudo é um reflexo das questões comportamentais e do pensamento de cada geração. Então, [para as marcas], dialogar com outros corpos e entender que a diversidade é o caminho para o aumento do consumo seria uma saída interessante”, acrescenta.

Um fio de esperança

Apesar de algumas marcas retomarem a visão de que corpos magros são os únicos que podem ser exaltados, modelos como Ashley Graham, Precious Lee e brasileiras como Rita Carreira, Mayara Russi e Flúvia Lacerda ainda abrem portas para outros modelos gordos entrarem no mercado.

E se o mercado internacional voltou com a ideia ultrapassada, Dani lembra que a última edição da SPFW contou com 70% das marcas desfilando com modelos curvy ou plus size. “Foi impressionante ver a semana de moda do Brasil, ela caminhou na contramão dessas tendências eurocentradas. É um encontro de identidade da moda brasileira”, completa.

Atrelado a isso, iniciativas como a Pop Plus também são uma contrapartida no mercado. “A gente faz tudo de forma independente e dá certo. Claro que se tivesse mais incentivo, seria mais fácil, mas continuaremos lutando pelos corpos gordos serem reconhecidos”, finaliza Flávia.

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