Encontrar o look no tamanho certo, na cor desejada e a um preço acessível não é tarefa fácil estando nas ruas, em lojas físicas. Se a ideia então é fazer compras pela internet, o desafio fica ainda maior.
Por conta da pandemia, o e-commerce entrou de vez nos hábitos de consumo dos brasileiros. No entanto, com a impossibilidade de provar as peças de roupa, a preferência por comprar em lojas físicas ainda é comum. Uma pesquisa realizada pelo Google mostra que 42% das pessoas que compram roupas online não se sentem representadas pela imagens dos modelos. Do total, 59% já tiveram alguma decepção ao provar a peça adquirida pela internet porque parecia diferente do esperado.
É nesse contexto que os provadores virtuais estão sendo aprimorados com recursos de inteligência artificial generativa, com o objetivo de promover uma experiência imersiva e mais assertiva para o consumidor, sem que ele tenha que sair de casa.
Recentemente, o Google lançou uma ferramenta de inteligência artificial que permite que clientes vejam como uma peça de roupa fica ao ser vestida por diversos corpos, do PP a G3, incluindo diferentes etnias, tons de pele e cabelos. Lançada nos Estados Unidos, a funcionalidade "Try On" [experimente/prove em português] fica na aba de pesquisa do Google e atualmente está funcionando em anúncios de blusas femininas das marcas Anthropologie, Everlane, Loft e H&M.
+ Venda bilionária: parte da Valentino é comprada por grupo da Gucci e Balenciaga
A ferramenta foi lançada com 40 modelos femininas de variados tamanhos, idades e biotipos. Dessa forma, a usuária pode escolher aquela que melhor lhe representa para ter uma noção de como a roupa cairá em seu corpo a partir de uma técnica de IA chamada "difusão", que cria uma imagem realista de uma pessoa vestindo uma peça específica. Uma vez escolhida, a modelo ficará salva para testes futuros. Ainda neste ano, o Google pretende lançar a versão masculina.
O recurso ainda não está disponível no Brasil, no entanto, investidores brasileiros também se arriscam a desenvolver ferramentas de IA no universo da moda. É o caso da recém-lançada plataforma Doris.
"O cliente poderá entrar em um site parceiro onde haverá um botão 'vista em você'. Lá, ele será encaminhado para a plataforma, que irá pedir para que tire duas fotos [uma de frente e uma de perfil]. É como entrar em uma loja virtual e poder provar a peça", explica Marcos de Moraes, CEO da empresa.
+ Compactos, bonitos e potentes: nova geração de smartphones dobráveis une design com portabilidade em telas maiores e mais experiência
Ele diz que a plataforma oferece as medidas corretas do usuário em até oito segundos. Utilizando uma tecnologia totalmente própria, que une computação visual e inteligência artificial, a extração automática das medidas garante uma eficácia de 96% de precisão nas medidas dos usuários, segundo o CEO.
Testamos
Marie Claire experimentou a tecnologia, que, por ora, está disponível apenas no e-commerce das marcas de moda masculina Reserva e Zapalla. É um recurso que funciona melhor pelo celular e é fácil de encontrar na tela ao clicar em uma peça do catálogo.
O site irá mostrar uma caixa perguntando altura, peso e idade e, em seguida, abrirá a câmera para o cliente tirar as fotos. Em cerca de 10 segundos foi possível ver como a peça ficava no corpo e fazer combinações com outros looks. Ainda disponível apenas para o gênero masculino, a empresa pretende estender o recurso para outras expressões de gênero conforme os sites parceiros.
Desafios e facilidades dos provadores virtuais
Para a estudante de comunicação Vitória Antunes, 22, a grande dúvida do e-commerce de moda é saber se o look vai servir. "Às vezes você está no impulso de querer comprar e a única coisa que te segura é justamente essa. Pode ser uma peça que nem sabemos se será confortável, mas acabamos comprando. Nem sempre a gente sabe se vai ter como usar, se combina com outras roupas", conta.
Com 1,68m de altura, a estudante de jornalismo Júlia Neves, 22, costuma comprar calças tamanho 40. Porém, quando se trata de fazer compras online, nem sempre a medida da loja condiz com o seu corpo. “O grande problema do provador virtual é comprar calça. Por mais que tenham as medidas, elas variam de uma loja para a outra, além da experiência não ser a mesma de provar em uma loja física. Todas as vezes que comprei no virtual, ou a calça veio totalmente apertada, ou veio muito larga”, diz.
Tradicionalmente, a indústria da moda é criticada por promover padrões de beleza inatingíveis e um dos principais investimentos dos provadores virtuais que usam a inteligência artificial é a capacidade de atender à diversidade de corpos.
“Realmente existem diferenças muito grandes de padrão e isso é um problema. A inteligência artificial também vai aprendendo as peculiaridades de cada marca com o tempo. Isso é importante porque corpos da mesma idade e do mesmo peso não iguais”, reforça Moraes.
Vitória conta que sente-se mal e frustrada quando algo não serve, mesmo em lojas físicas. "Parece que você perde seu tempo", diz. “Na pandemia acabei engordando muito e comecei a comprar muita roupa. Me senti mais segura com o meu corpo porque eu observava as proporções que o provador virtual me dava, colocava as medidas exatas e acabava me surpreendendo positivamente quando as roupas, de fato, serviam”, completa.
E essa confiança vai além da autoestima. Com medidas precisas, há menos devoluções e menor impacto ambiental na cadeia de consumo.
Tamanha a necessidade de um serviço como este (além de uma padronização de tamanhos assertiva), Júlia lembra da seção de comentários da Shein. A gigante do varejo, fundada totalmente online, incentiva as clientes a postarem fotos e análises dos produtos para que atestem se, realmente, estão de acordo com as medidas disponíveis no site.
“Mesmo com a inteligência artificial, nunca vai ser a mesma coisa, cada pessoa tem um corpo. Às vezes as mulheres têm o corpo parecido, mas, quando experimentam a roupa, percebem as dificuldades que a peça pode trazer, como falta de movimento. Por isso acredito que compartilhar experiências seja um diferencial”, diz Vitória.
Mesmo que ainda tenham um longo caminho pela frente, os provadores virtuais e a inteligência artificial estão transformando a indústria da moda, tornando-a mais inclusiva, personalizada e sustentável. "Sabemos que a pandemia proporcionou um aumento significativo nas vendas online, mas as buscas por produtos nem sempre são convertidas em vendas, muitas vezes por falta de informação sobre o tamanho ou até mesmo o caimento da peça. Com esse tipo de investimento, esse problema tende a acabar”, finaliza Moraes.