Angela Brito: 'Vivo no Brasil há 28 anos, mas sou eterna estrangeira'

Segundo ela, o trabalho começou a fluir quando passou a pensar na condição do estrangeiro no futuro. “Perguntei: Como eu quero que seja esse futuro? Então a coleção veio. Pensei no mundo daqui a 200, 300 anos. Não haverá mais estrangeiros, pessoas de fora, coisas de fora, lixo de fora... Acho que a gente vive numa sociedade em que o maior problema é o de fora. Se a pessoa é de fora, ninguém se preocupa", avalia. "Começamos a pensar nesse lugar, em como seria, e só depois veio a estética, os materiais. Dessa vez, estou trabalhando com um tecido mais tecnológico”, explicou ela.

Angela revela que Estrangeira traz muito de quem ela é e como enxerga o mundo. Com uma grande cartela de cores, diferente dos tons sóbrios encontrados em outros lançamentos da marca, ela comenta que possui uma identidade mutável. " Trabalho muito com a minha identidade. Então, obviamente, ela vai se movimentando assim como eu vou me movimentando. Não sou muito uma pessoa de usar cores, mas isso não quer dizer que eu tenha que estar sempre nesse lugar nas coleções".

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Entre as modelos que entraram na passarela neste sábado (19) para a marca, estava Camila Pitanga, amiga da estilista. "A minha cabeça, a minha identidade, elas se movimentam e se formam em outro lugar. A entrada da cor nas últimas coleções, paulatinamente, mas de maneira cada vez mais forte, chegando agora no dourado, é esse caminhar, essa mutação da minha identidade, e sabe-se lá o que vem pela frente', finaliza Angela.

Débora Carvalho, primeira-dama de Cabo Verde, que esteve presente no desfile de Ângela Brito, falou sobre a conexão entre o Brasil e país africano. "O Brasil e Cabo Verde estão muito ligados pela história. Os escravos que chegaram ao Brasil passaram por Cabo Verde. Se nós tivéssemos que falar uma linguagem atual, é tipo uma escala".

"E um dos produtos que a Ângela usou na coleção dela é o pano de terra, que é como chamamos o nosso pano tradicional. Esse pano era feito pelos escravos, então se você tira os fios do pano, é como se pudesse analisar a história entre Cabo Verde e Brasil. É muito significativo (...). A Ângela não nega as origens dela. Foi buscar o pano tradicional cabo-verdiano e traz agora, não através dos escravos como moeda de troca, mas pela moda. Então estamos muito orgulhosos, de ver todo o percurso dela", finalizou Débora