DEAC: o ataque cardíaco que atinge mulheres jovens saudáveis e é pouco conhecido pelos médicos

Uma condição chamada dissecção espontânea de artéria coronária afeta 9 mulheres em cada 10 pacientes, a maior parte delas entre os 45 e os 55 anos, e pode ser fatal

Por Marcella Centofanti, Colaboração Para Marie Claire — São Paulo


Uma condição chamada dissecção espontânea de artéria coronária afeta 9 mulheres em cada 10 pacientes, e pode ser fatal Unplash

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as brasileiras. No entanto, esses males são vistos pela sociedade, e até pelos médicos, como uma condição masculina. O cenário é ainda mais desfavorável para as mulheres com uma doença chamada dissecção espontânea de artéria coronária (DEAC).

Trata-se de uma enfermidade que atinge 9 mulheres em cada 10 pacientes, a maior parte entre os 45 e os 55 anos. No entanto, também pode acontecer em pessoas mais jovens e é uma ameaça sobretudo para as gestantes.

Nos Estados Unidos, a doença é responsável por 1 a 4% dos problemas cardíacos agudos todos os anos. Cientistas acreditam que a real prevalência possa ser maior, considerando que a DEAC não costuma ser diagnosticada.

A dissecção coronária é responsável por 35% dos infartos do miocárdio em mulheres com menos de 50 anos e a causa mais comum desse mesmo mal em gestantes (43%).

O que dissecção espontânea de artéria coronária?

A DEAC é uma condição caracterizada pela ruptura abrupta de uma camada da parede da artéria. Essa lesão pode retardar ou bloquear o fluxo sanguíneo para o coração, causando um ataque cardíaco, problemas nas batidas do órgão ou mesmo morte súbita.

“As pessoas pensam que o infarto acontece somente pelo entupimento do vaso sanguíneo por uma placa de colesterol que cresceu. Essa é a causa clássica, mas não a única”, atesta Cristina Milagre, cardiologista do Hcor.

“Várias condições desencadeiam as síndromes coronárias agudas. A ciência tem estudado cada vez mais as mulheres, porque elas têm características que favorecem algumas formas de infarto diferente dos homens
— Cristina Milagre, cardiologista

Quais são as causas de DEAC e como preveni-la?

Uma peculiaridade da DEAC é que ela não está associada necessariamente a fatores de risco conhecidos das doenças cardiovasculares, como obesidade, diabetes, hipertensão, tabagismo e colesterol alto.

Cientistas especulam que a dissecção coronária possa estar relacionada a fatores genéticos, influências hormonais, presença de doenças inflamatórias — a exemplo de lúpus e artrite reumatoide — e histórico familiar de doenças do coração. “Mas nada disso é determinante, ainda não há consenso sobre as causas”, diz a médica.

Por não ter fatores de risco estabelecidos, a condição não pode ser prevenida.

Quais são os sintomas de dissecção espontânea de artéria coronária?

Os sintomas associados ao infarto são diferentes em homens e mulheres. Nelas, eles podem incluir:

- Dor ou desconforto no peito;
- Dor no pescoço, na mandíbula ou na garganta;
- Dor na parte superior do abdômen ou nas costas;
- Náusea;
- Vômito;
- Cansaço inexplicável ou excessivo.

Os sinais de alarme valem para todo mundo, mas com uma estrelinha no caso das grávidas e de quem deu à luz há pouco.

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“Se uma gestante ou uma mulher no puerpério tiver uma dor no peito, a hipótese [de DEAC] não pode ser descartada”, avisa Milagre. Segundo a médica, uma grávida com histórico da doença será aconselhada a não engravidar novamente, tamanho o perigo do quadro.

Diagnóstico

O diagnóstico do DEAC é outro desafio para médicos e pacientes, uma vez que o eletrocardiograma — o exame básico para avaliar a saúde cardiovascular — pode não acusar a obstrução na artéria.

“Às vezes, o eletro dá normal, e o que detecta o infarto é a troponina, uma enzima que mostra que o músculo do coração sofreu um dano. A paciente vai para o cateterismo e só então recebe o diagnóstico de dissecção coronária”, explica Milagre.

Na consulta médica, o machismo e a ignorância entram em cena. “O atendimento é diferente. Quando chega uma mulher com uma queixa de dor no peito, muitas vezes o sintoma dela é atribuído à ansiedade. A gente precisa olhar para a mulher, porque as estatísticas estão aí para provar. Trinta anos atrás, o infarto atingia um homem para cada oito mulheres. Hoje a prevalência está igual”.

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