Parto humanizado: precisa de doula, pode tomar remédios? Tire dúvidas

Fazer um parto humanizado consiste em respeitar as vontades da mulher e do casal, assim como o bem-estar do bebê

Por Em Colaboração Para Marie Claire


Entenda o que caracteriza um parto humanizado e quais são os direitos da mulher e do casal Olivia Anne Snyder na Unsplash

Ao pensar em parto humanizado, é possível que sua mente seja tomada por imagens de gestantes em banheiras, acompanhadas por doulas e em ambientes caseiros.

Esses elementos, de associação comum ao termo, podem estar presentes, mas o que define um parto humanizado é “um nascimento de maneira respeitosa, com respeito e atenção às escolhas da gestante e parceiro/parceira, e baseado em evidências científicas”, afirma Tatiane Boute, ginecologista e obstetra do Fleury Medicina e Saúde.

“Eu, particularmente, não gosto muito do termo parto humanizado porque acredito que todo atendimento de saúde deve ser humanizado, gentil e acolhedor. Mas o conceito vem para confrontar o que a gente via acontecer antigamente no atendimento à muitas gestantes, e que ainda acontece, que é a violência obstétrica, marcada por atos desrespeitosos, violentos, e que devem obviamente ser banidos da prática clínica”, complementa Wagner Rodrigues Hernandez, obstetra do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista.

Para entender melhor o que é o parto humanizado e tirar dúvidas sobre como o procedimento funciona – e o que nunca deve ser feito – confira abaixo algumas das principais questões sobre o tema respondidas por especialistas.

1. No parto humanizado a gestante pode tomar remédios para aliviar a dor?

Se for a escolha da gestante, sim. É possível aliviar a dor tanto com medicações, como anestesia peridural, e, em certa medida, com opções não-farmacológicas, como massagem, hidroterapia, técnicas respiratórias e exercícios.

2. Além dos elementos já conhecidos, como luz baixa e banheira, o que mais as gestantes podem ter no parto humanizado?

“Eu já fiz partos humanizados nos quais as gestantes pediram luz acesa, ou para escutar rock pesado, música eletrônica… E não quero a presença de mais ninguém porque isso me deixa desconfortável. Isso não deixa de ser um parto humanizado. O que importa é respeitar a vontade e as preferências da gestante e do casal naquele momento tão importante”, explica Hernandez.

3. Um parto cesárea também pode ser humanizado?

Sim, caso a cesárea se mostre a via mais segura para aquele nascimento, é possível que ela seja realizada de forma respeitosa. “Algumas medidas incluem um ambiente tranquilo, contato do bebê com a mãe logo após o nascimento, clampeamento tardio do cordão umbilical, e estímulo à amamentação na primeira hora”, indica a médica do Fleury Saúde.

4. Quais são os benefícios para a gestante e para o bebê?

“O nascimento se torna uma experiência mais positiva para aquela família e há maior vínculo mãe-bebê, pelo contato e amamentação imediatos. Há também alguns benefícios específicos como menor chance de depressão pós-parto e prevenção de anemia no recém-nascido devido ao clampeamento tardio do cordão”, afirma Boute.

5. Quais características tem um parto não-humanizado?

O contrário do parto humanizado é justamente a violência obstétrica, explica o ginecologista e obstetra Wagner Rodrigues Hernandez.

“É um parto no qual não há nenhum cuidado com a pessoa, às vezes com o tratamento frio e até agressões verbais, assim como afastar a mulher de um acompanhante na hora do parto – algo que está previsto na lei – fazer manobras inadequadas (como subir em cima da barriga da mulher ou usar doses exageradas de citocina a fim de acelerar o parto)… Tudo isso são atos de violência obstétrica que saem do escopo do parto humanizado".

Além do direito da presença do acompanhante, citado pelo médico, há, também, leis específicas que asseguram a presença das assistentes de parto (doulas) em alguns locais no Brasil. É o caso do estado do Rio de Janeiro (Lei 9.135/2020), que garante a assistência durante o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, para as mulheres que queiram o serviço por suporte físico ou emocional.

Cada parto é único e tem ritmo próprio

As diretrizes da OMS (Organização Mundial da Saúde) reconhecem que cada trabalho de parto e nascimento são únicos e que a duração de sua primeira etapa ativa varia de uma mulher para outra. Geralmente, um primeiro trabalho de parto não se estende além de 12 horas. Os partos seguintes, para as mulheres que engravidam novamente, geralmente não se estendem além de 10 horas.

"Muitas mulheres querem um nascimento natural e preferem confiar em seus corpos para dar à luz, sem o auxílio de intervenção médica", alega Ian Askew, diretor do Departamento de Saúde Reprodutiva e Pesquisa da OMS. "Mesmo quando uma intervenção médica é desejada ou necessária, a inclusão das mulheres na tomada de decisões sobre os cuidados que recebem é importante para garantir que atinjam o objetivo de uma experiência positiva de parto".

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