Foram 38 anos e 129 desfiles. Agora, chega ao fim a trajetória de Dries Van Noten à frente de sua marca homônima. A última coleção assinada pelo estilista belga aconteceu no último sábado (22), durante a temporada masculina de primavera/verão 2025, em Paris. A aposentadoria do diretor criativo foi anunciada em março de 2024, seis anos após a venda da participação majoritária da etiqueta para o grupo espanhol Puig (que também tem grifes como Paco Rabanne, Carolina Herrera e Jean Paul Gaultier).
Dries, hoje com 66 anos, contou estar planejando sua despedida já algum tempo, desde que chegou aos 60. "Acho que chegou a hora de permitir às novas gerações a oportunidade de trazer o seu talento e visão para a marca", disse ele no comunicado que oficializou sua saída. Um novo diretor criativo ainda não foi anunciado, mas o que se sabe é que o estilista permanecerá como conselheiro dentro da empresa.
"No momento em que eu não aprender mais nada, é melhor parar. A última coisa que eu quero é que [meu trabalho] vire um tipo de sistema. Aí a diversão acaba", disse ele no documentário biográfico "Dries", lançado em 2017.
Nascido em uma família de alfaiates, Dries viu na moda uma escolha natural para seguir carreira. Ele despontou no cenário fashion depois de fundar o grupo Os Seis da Antuérpia (ou Antwerp Six) na década de 1980, ao lado de nomes como a estilista Ann Demeulemeester, que ajudou a colocar a Antuérpia, na Bélgica, no mapa da moda internacional. Com criações vanguardistas e experimentais, a turma abriu caminho para outros importantes criadores belgas, como Raf Simons e Martin Margiela. Desde o início, Dries Van Noten se destacou pelo trabalho excepcional com as cores, estampas e bordados, injetando frescor e vivacidade numa época em que reinava a estética minimalista de estilistas japoneses como Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto.
A grife belga, fundada em 1986, teve seu primeiro desfile em 1991, para a temporada de moda masculina de primavera/verão 1992. Sua primeira coleção feminina foi apresentada em 1994. Desde então, Dries Van Noten se consagrou como uma das marcas favoritas das mulheres que valorizam uma moda real, pensada para além das passarelas. Mais do que estampas florais de encher os olhos, que se tornaram uma das marcas registradas de Dries, ele apostou na alfaiataria com corte impecável, nos casacos exuberantes e nas silhuetas amplas e fluidas, que abraçam os corpos, e não os aprisionam.
Em 2017, Dries chegou ao marco do 100º desfile, celebrado na temporada de outono de 2017 com um casting de supermodelos — como Alek Wek, Liya Kebede, Sasha Pivovarova e Amber Valletta — e uma coleção-retrospectiva de sua trajetória até então. Até entrar para o grupo Puig, a etiqueta se manteve independente, avessa a jogadas publicitárias, campanhas de marketing e qualquer tipo de polêmica. O estilista, que sempre prezou pela discrição em sua vida pessoal, deixou com que as roupas falassem por si só.
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"Eu não quero chocar, essa é a última coisa que eu quero fazer. Mas eu quero provocar um pouquinho. Para mim, é mais interessante ter um elemento que faça sonhar", revelou no documentário do mesmo ano. "Não vejo sentido em fazer uma moda nostálgica. Eu amo o passado, quero saber, quero entendê-lo, mas não quero viver no passado. Eu quero viver no presente e no futuro, e quero fazer roupas para ambos. Mas não quero esquecer o passado, acho que precisamos da sabedoria que ele traz".
Veja mais looks do último desfile assinado por Dries Van Noten a seguir: