Alexandre Herchcovitch revisita carreira em exposição em SP: 'Moda em museu no Brasil é algo raro'

O estilista, que é um dos grandes, senão o grande, nome da moda brasileira contemporânea, ganhou mostra que remonta os 30 anos de sua carreira no Museu Judaico, em São Paulo. Em entrevista exclusiva a Marie Claire, ele contou sua história por meio das roupas que estão presentes na exposição "Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda"

Por , Redação Marie Claire — São Paulo (SP)


Alexandre Herchcovitch — Foto: Divulgação

"Expor moda em museu no Brasil é algo raro. Me sinto lisonjeado pelo convite e muito feliz em poder mostrar uma parte importante do meu acervo. Para fazer uma exposição grande é preciso guardar, conservar e isso depende muito da vontade de cada marca. Algumas acham importante, outras não." É isso que o estilista Alexandre Herchcovitch fala no primeiro áudio que recebi via WhatsApp dele e eu não poderia concordar mais. Expor moda em museu no Brasil é algo raro, muito raro.

São diversos os motivos pelos quais isso acontece, desde a compreensão de que moda não é um fenômeno cultural digno, apenas mercadológico, até esse fato que Herchcovitch pontua, de que as próprias marcas não dão a devida importância aos seus acervos e suas histórias. Mas a verdade é que somente alguém do calibre do estilista tem relevância o bastante na indústria da moda para ganhar uma exposição como a "Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda" que ficará em cartaz até setembro, no Museu Judaico, no centro de São Paulo.

Alexandre Herchcovitch — Foto: Cláudia Guimarães

Adentrar a extensa sala expográfica, que teve as paredes todas cobertas por lambe-lambes de imagens de arquivo do estilista e o chão acarpetado por um tapete com uma estampa de correntes, marca registrada do estilista, é como ler o diário do designer. Afinal, toda criação que colocamos no mundo é um pouco uma confissão que fazemos. Em entrevista a Marie Claire, Herchcovitch contou a sua história por meio das "confissões" mais icônicas que estão presentes na exposição. Veja os principais trechos da conversa a seguir:

MARIE CLAIRE Alexandre, a exposição acontece no Museu Judaico, e você tem uma coleção de outono/inverno 2012, em que você revisitou as roupas de judeus ortodoxos. Como foi a escolha do lugar para receber essa mostra?

AH A escolha não foi minha, eu recebi o convite para expor lá e aceitei na hora. Estudei minha vida inteira numa escola ortodoxa judaica e, como tudo que eu vivi, recebi claras influencias da vestimenta ortodoxa. Em 2012, decidi explicitar essa influência numa coleção com todos os signos da indumentária hassídica (linha ortodoxa da religião judaica). Muitas das peças, inclusive, estão na exposição.

Roupas da coleção de 2012, que reelem as vestimentas dos judeus ortodoxos. No caso da imagem, o padrão foi concebido a partir da repetição de várias estrelas de davi, símbolo da cultura judaica — Foto: Isabella Valentini, produtora de vídeo da Marie Claire

MC Sua mãe te ensinou a costurar e ela é uma figura central na sua vida. Conta um pouco sobre o vestido que você fez para ela, o que tem olhos no lugar dos seios? Ela o usou em alguma ocasião especial?

AH Fiz este vestido quando tinha 14 anos, em 1985. Queria fazer algo surreal, algo que não estivesse normalmente em um vestido de festa, fiz dois olhos com lágrimas de pérolas. Ela usou em um casamento.

Primeiro vestido feito por Alexandre Herchcovicht — Foto: Isabella Valentini, produtora de vídeo da Marie Claire
Regina Herchcovitch — Foto: Reprodução/ Instagram @alexandreherchcovitch

MC Você e Johnny Luxo travaram uma parceria importante ao longo dos anos. Pode falar um pouco sobre as criações que fez para ele usar na noite paulistana ?

AH Johnny é uma pessoa que não tem preconceitos ao se vestir, não distingue gênero no vestuário e isso sempre me encantou. Ele tem uma estética muito original e gosta muito de roupa e de moda, foi isso que nos aproximou. Na exposição tem um macacão que fiz pra ele em xxx e a releitura dele feita de neoprene, que fez parte da minha coleção de inverno 2023.

À direita, Jhonny Luxo com macacão preto e, à esquerda, o modelo em um releitura para a coleção de inverno 2023 — Foto: Reprodução/Instagram @alexandreherchcovitch

MC Correntes, máscaras e chicotes estão no DNA das suas criações. Como a estética sadomasoquista entrou na sua vida? E qual peça da exposição você elencaria como a mais importante desse estilo?

AH Eu sempre gostei da estética pelos materiais e relação com o corpo e com liberdade. Verniz, vinil, couro, látex, metais são uma combinação que extrapolou essa estética na minha marca, ganharam outras interpretações. Elencaria a máscara de couro e as peças em látex como os melhores exemplos que estão expostos.

MC Nas suas últimas coleções, você sempre revisita ícones da sua carreira. Como são essas releituras?

AH Parte do meu DNA criativo está em explorar formas simples como a camiseta e o moletom, usar o símbolo da caveira, fazer peças em látex e trazer modelagens e tecidos da alfaiataria artesanal. Então, sempre lanço mão desses ícones para compor as novas coleções.

Herchcovictch;Alexandre em editorial para Marie Claire — Foto: @jorgeewald

Serviço:

Exposição "Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda" no Museu Judaico

Endereço: Rua Martinho Prado, 128 - Bela Vista, São Paulo - SP

Data: 20 de abril a 08 de setembro.

Horário de funcionamento: 3ª, 4ª, 6ª, sáb e dom. das 10h às 18h (entrada até 17h), 5ª, das 12h às 21h. A entrada é gratuita somente aos sábados. No resto da semana o ingresso custa R$ 20,00 (a inteira) e R$ 10,00 (a meia).

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