Cultura

Por Nathália Geraldo, redação Marie Claire

G.H. viveu o fim de uma paixão. Ao mesmo tempo, a trabalhadora doméstica que cuidava da casa dela, em Copacabana, no Rio de Janeiro, havia se demitido. A escultora resolve, então, começar a limpar o lugar por si mesma, e o quarto de empregada – um cômodo que revela tanto sobre as estruturas raciais e sociais do país – é o primeiro destino. Vê uma barata.

Foi preciso um tanto de coragem para levar essa história, A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector, para os cinemas, diz a atriz Maria Fernanda Cândido, que protagoniza o filme e fica quase o tempo todo sozinha na tela. Com estreia em 11 de abril, a produção dirigida por Luiz Fernando Carvalho, que também assina o roteiro com Melina Dalboni, é uma entrega de um texto “essencialmente político”, identifica Cândido, ao público.

Cena do filme A paixão segundo G.H. — Foto: Divulgação
Cena do filme A paixão segundo G.H. — Foto: Divulgação

“G.H. foi rotulado como um livro existencialista, uma coisa voltada para o mundo interior e tem esse mergulho, sim. Mas é essencialmente político, porque tem como cerne a própria subjetivação do feminino. Trata da existência do feminino no mundo. E não tem nada mais político hoje. E já era em 1964 [ano do lançamento], mas não tínhamos como ter essa leitura”, comenta. “Agora, temos a história pesando sobre nossos ombros. Por isso, é muito acertado e temos a obrigação de trazer o olhar para questões como a arquitetura do apartamento, de ter aquele quarto separado, e o fato de que essa mulher não mandou a empregada embora, por exemplo; está escrito que ela se despedira.”

Aspectos da história como G.H. ter começado pelo quartinho por supor que era o local que seria mais sujo da residência e de que dizer sobre o uniforme marrom sobre a pele preta da empregada, “que a deixava invisível”, também formam o intrincamento de uma “radiografia de uma situação social que vivemos até hoje”, diz a atriz. No longa-metragem, Samira Nancassa interpreta a trabalhadora.

Foi preciso coragem porque Maria Fernanda Cândido diz que não teve a sensação de estar preparada para estar ali em nenhum momento, mesmo durante a filmagem, o que aconteceu em 2018, enquanto o Brasil borbulhava na definição das eleições presidenciais. Ao mesmo tempo, era como se tudo se encaminhasse para aquilo e para a feitura do filme que tem a mulher como sujeito, considera.

A relação da atriz e do diretor com Clarice Lispector foi iniciada anos antes. De Cândido com a escritora, ainda nos tempos de vestibular, quando leu A Hora da Estrela. “Li com 17 anos, e gostei tanto que segui com A Maçã no Escuro, Laços de Família, A Descoberta do Mundo, que inclusive deixo na cabeceira da cama. Com uns 28 anos, Luiz Fernando me dava uns trechos de um livro copiado em xerox, e era de A Paixão Segundo G.H. Depois, me deu o livro com muito carinho. Isso foi muito forte para mim, mexeu muito comigo e me tornei uma leitora ainda maior de Clarice.”

Ao longo dos anos, a dupla trabalhou em produções audiovisuais como o filme Capitu e a série Correio Feminino, inspirada em crônicas da escritora. “Achei que ali seria nosso tributo a ela. Mas, em 2017, o diretor me liga e diz: chegou a hora de gravarmos A Paixão, como está sua agenda?”

“Ficamos um ano dentro de um galpão na Lapa, em São Paulo, em um trabalho de segunda a sexta, até oito horas por dia, com algo que envolvia corpo, improvisações, voz, conexão com a própria respiração, dança, workshops com especialistas da psicologia, da literatura, da psicanálise, historiadores, jornalistas. Além do trabalho com o texto, que li em voz alta com a equipe na íntegra. Aí parávamos para descobrir o que cada um entendia daquilo. Mas a preparação vai além disso. Ela é de uma vida inteira, tudo que eu vi, assisti, li e experimentei está sendo ofertado. Aliás, é uma vida toda permeada por Clarice Lispector e pela parceria com o Luiz.”

No mundo fora das gravações, o país se agitava. Maria Fernanda conta que ficou “perplexa” quando, sem ter nenhum contato com TV ou telefonemas, viu as notícias de que Jair Bolsonaro havia sido eleito. “Não saí para lugar nenhum naquele mês, porque filmava todos os dias e me lembro que aquilo me causou uma tristeza imensa. Fiquei perplexa.”

Uma despersonalização fiel

A atriz em cena do filme, em que trabalhou uma "despersonalização" da personagem — Foto: Divulgação
A atriz em cena do filme, em que trabalhou uma "despersonalização" da personagem — Foto: Divulgação

Para a atriz, uma das propostas mais evidentes de A Paixão Segundo G.H. é de uma despersonalização da protagonista, aliás, um dos alicerces da leitura existencialista do texto. E foi a isso que Cândido se ancorou para sua G.H.

“A gente foi fiel ao livro, porque ele propõe uma despersonalização. Tudo que fiz a vida inteira foi criar personagens, moldar o caráter deles, usar as máscaras sociais, criar estruturas. Isso é o que um ator ou uma atriz faz. Em G.H., meu trabalho foi o oposto disso. Tive que ir me desnudando de todas essas máscaras. E, quando você faz isso, o que fica? Para mim, esse é o filme. O que sou eu? Sem todas as minhas defesas?”, pondera. “Não teria como trabalhar com um roteiro absolutamente definido, que talvez reduzisse a existência dessa personagem. A gente precisou se lançar numa aventura de atravessar para chegar em outro lado.

Tivemos que respeitar essa premissa do livro. E o Luiz Fernando foi corajoso e eu também precisei da minha dose de coragem para embarcar nessa. Foi fascinante, tenho muito orgulho do que fizemos.”

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