Cultura

Por Paola Churchill, redação Marie Claire — São Paulo

No mundo mágico do teatro, onde histórias ganham vida e emoções são compartilhadas, Verónica Valenttino tem se destacado com sua interpretação marcante no musical Brenda Lee e o palácio das princesas.

Com sua voz poderosa ela canta em uma das músicas “Você não duraria nem ao menos 10 minutos / Se estivesse na minha pele / Pelas ruas da cidade". Verónica deu vida à protagonista Brenda Lee, a prostituta considerada a “anjo da guarda das travestis”, entre as décadas de 1980 a 1990.

O musical, composto por mulheres trans e travestis, além de ser um sucesso de público e crítica, também fez com que Verónica, junto com Marina Mathey, fossem as primeiras travestis a ganhar os Prêmios Bibi Ferreira e o Prêmio Shell.

"Nunca uma travesti foi indicada como Atriz Principal ou Atriz Revelação. Então para mim foi muito glorioso compartilhar desse momento com as minhas manas em ver todo elenco passando naquele rede carpet", relembra a atriz.

Nasce uma estrela

"Desde criança, eu sabia que queria estar no palco e contar histórias através da música e da atuação", revela Verónica. "Foi um caminho desafiador, mas repleto de paixão e determinação." A atriz iniciou sua jornada artística com a formação em artes cênicas no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), nos anos 2000. Nessa época, começou a integrar o coletivo As Travestidas, cujo elenco incluía o ator Silvero Pereira.

Desde cedo, a cantora mostrou interesse por diversas formas de expressão artística, desde o canto até a dança. Sua participação em corais e grupos de teatro amador contribuiu para o desenvolvimento de suas habilidades e para a descoberta de sua verdadeira vocação.

"Foi na faculdade que tive minha primeira experiência com teatro profissional, trabalhando ao lado de colegas talentosos", relembra a atriz. "Aquela foi uma época de descobertas e aprendizado, que me fortaleceu e me fez perceber que estava no caminho certo".

Verónica Valenttino tem uma banda — Foto:  @cmsphotographybrazil
Verónica Valenttino tem uma banda — Foto: @cmsphotographybrazil

Verónica decide ter uma banda

Além de sua dedicação ao teatro, Verónica sempre teve o sonho de formar uma banda. Esse desejo se concretizou quando ela se juntou a um grupo de amigos em uma reunião informal. No início, a ideia era criar uma banda de blues ou jazz, mas a energia e a identidade do grupo se revelaram no rock and roll.

"Foi uma revelação emocionante quando percebemos que estávamos fazendo rock and roll", conta Verónica. "Decidimos montar a banda e, sem ter um nome definido, embarcamos em nossa primeira apresentação no festival de teatro em Acopiara, no interior do Ceará."

A banda, que ficou posteriormente conhecida como Verónica decide morrer, surpreendeu o público com seu talento e energia contagiante. O grupo abriu o festival em um palco improvisado, conquistando a todos com sua música autêntica e performance marcante.

"Aquela foi a semente do nosso sucesso como banda", diz Verónica. "A partir dali, começamos a nos apresentar em diversos lugares e a ganhar reconhecimento pelo nosso som único." A banda conquistou uma base de fãs fiel e vem se destacando no cenário musical, trazendo uma mistura de influências do rock com mensagens de empoderamento e resiliência.

"Para mim, a música é uma forma de expressar minha essência e compartilhar histórias que tocam as pessoas", afirma Verónica.

Verónica Valenttino em 'Brenda Lee e o Palácio das Princesas' — Foto: @catan_ale
Verónica Valenttino em 'Brenda Lee e o Palácio das Princesas' — Foto: @catan_ale

Brenda Lee e o Palácio das Princesas

Com uma carreira sólida e uma paixão inabalável pelo palco, Verónica revela detalhes sobre seu processo de preparação e a importância de contar histórias como a de Brenda Lee.

"Fui informada sobre a audição do musical da Brenda Lee através de amigos e seguidores nas redes sociais. A pandemia exigiu que todo o processo seletivo fosse realizado online, em várias etapas de encontros virtuais com os responsáveis pelo elenco e preparação. Foi uma experiência desafiadora, mas recompensadora"

Verónica enfatiza que todos os momentos no palco são especiais e um tesouro: "Cada espetáculo, cada momento no palco é único. Seja cantando uma música solo, com a banda, realizando um monólogo ou contracenando com meus colegas, todos os momentos têm um significado especial. É difícil escolher apenas um, pois todos são preciosos para mim".

Vidas que precisam ser eternizadas

"Histórias como a de Brenda Lee são fundamentais de serem contadas. Ela foi uma mulher transexual e guerreira, que viveu uma jornada única e desafiadora. Ao trazer sua história para os palcos, podemos ampliar a compreensão e empatia em relação às experiências de pessoas trans. É uma oportunidade de promover a inclusão e o respeito, além de celebrar a diversidade em toda a sua forma".

A atriz também enfatiza a urgência de dar voz aos corpos que foram silenciados e invisibilizados: "Vivemos em um país onde corpos marginalizados, como o meu, foram e continuam sendo exterminados, calados e apagados. Em pleno 2023, não podemos mais aceitar isso como algo natural. Temos o dever de resgatar cada pedaço de memória, trazendo à luz histórias e narrativas que foram esquecidas. O Brasil é um país sem memória, e é nosso papel mudar essa realidade".

Verónica destaca a importância de resgatar as histórias que sobreviveram à marginalização e à violência: "Esses corpos que enfrentaram epidemias, que fizeram história em espaços de acolhimento e política, merecem ser reconhecidos. Precisamos resgatar essas memórias para que não sejam mais silenciadas. Meu corpo já é político, e é fundamental que cada um de nós se envolva nessa luta, honrando essas histórias e rompendo com o ciclo de violência."

Prêmios e o reconhecimento inédito

Por conta de seu trabalho, a atriz foi muito prestigiada, ganhando os prêmios Bibi Ferreira e Shell, que reconhecem seu talento e contribuição para as artes cênicas. Com orgulho e felicidade, Verónica fala sobre o significado especial de receber o primeiro ao lado de suas colegas Marina Mathey e tornando-se as primeiras travestis indicadas e premiadas em uma premiação que existe há 12 anos.

Ela descreve o momento como "glorioso" e destaca a necessidade de celebrar essas conquistas que desafiam as normas e rompem com as expectativas da branquitude e do elitismo. Verónica ressalta que, mesmo nesses espaços, ainda há resquícios de objetificação e marginalização, e que é preciso continuar lutando pela igualdade e pelo tratamento digno.

Ela expressa o desejo de receber convites para grandes produções teatrais sem passar por processos de audição desconfortáveis, onde seu corpo trans seja mais uma vez objetificado. Verónica espera que esses prêmios sejam o início de um movimento efetivo de reconhecimento e legitimação da presença e do talento das pessoas trans no teatro.

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