Por que ainda não vemos representatividade entre as categorias do Oscar?

Apesar da indicação de Angela Bassett na categoria de "Melhor Atriz Coadjuvante" e a da cantora Rihanna na categoria de "Melhor Canção Original", ambas por Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, a não indicação de diversos outros nomes que lideram as disputas como Viola Davis, Jordan Peele e Danielle Deadwyler vieram como uma amarga decepção.

Enquanto isso, a indicação surpresa de Andrea Riseborough por To Leslie evidenciou, mais uma vez, a diferença de parâmetros entre pessoas negras e brancas aos olhos dos membros da Academia. Embora campanhas como #OscarSoWhite tenham sido iniciadas para promover a diversidade, a falta de comprometimento real da indústria e dos profissionais brancos que a compõe deixam claro que a Hollywood atual ainda é permeada por racismo.

No entanto, há um aspecto positivo na premiação deste ano: o protagonismo recorde de artistas asiáticos entre os indicados. Isso além de ser uma vitória inesperada, renova as esperanças de que, apesar da lentidão e da não-linearidade, mudanças estão acontecendo. Mas somente a esperança não é suficiente.

É necessário também ter comprometimento e fazer um esforço ativo para que essa mudanças aconteçam por toda a indústria, desde a escrita até a distribuição. Isso pode ser feito através de iniciativas simples e que já se provaram eficazes como a criação de oportunidades para artistas não-brancos, mulheres, LGBT+, com deficiência e outras minorias sub-representadas, que podem trazer valorização e reconhecimento às narrativas criadas por essas pessoas.

Mas opiniões formadas a partir da lógica do individualismo e do medo de "perder espaço no mercado" só mostram o quão essencial e urgente é a necessidade de transformar a indústria audiovisual, tanto a nível global quanto a nível nacional, em um ambiente justo e de equidade

* Gautier Lee é diretora e roteirista queer negra e uma das fundadoras do Macumba Lab, um coletivo de profissionais do audiovisual negro no Rio Grande do Sul. Trabalhou em séries para a Amazon, Netflix, Globoplay e Comedy Central. Gautier também levanta a bandeira em relação à luta de pessoas trans na sociedade.