Retratos

Por Débora Miranda

Já pensou em um jogo de futebol masculino em que só houvesse mulheres na arquibancada? Foi o que aconteceu no último domingo (15), na partida entre Coritiba e Aruko, pelo Campeonato Paranaense.

O clube havia sido punido após uma confusão no clássico contra o Athlético-PR, em fevereiro de 2022, e havia perdido o mando de campo. Os dois clubes deveriam jogar neste ano com portões fechados, sem público.

A sugestão de colocar apenas mulheres e crianças de até 12 anos no estádio veio do Coritiba, e o TJD-PR (Tribunal de Justiça Desportiva) acatou. E 8.871 mulheres e crianças foram ao estádio Couto Pereira acompanhar a partida.

“Estava com amigas que vão sempre ao estádio e estávamos felizes. Mas a gente não sabia que ia se sentir diferente. Quando ecoou no estádio e nosso canto… Finalmente pudemos ouvir a nossa voz. O barulho era diferente. Nos sentimos em casa, com liberdade para nos expressar”, conta Natália de Oliveira, 26 anos, uma das criadoras do movimento Gurias do Couto, um coletivo feminino de torcedoras do clube.

A festa feminina foi elogiada inclusive pelo técnico António Oliveira durante a entrevista coletiva pós-partida. “Nunca tinha presenciado tal situação. É a imposição de um gênero, fiquei emocionado. Hoje, sem dúvida nenhuma, foi o estádio mais bonito do mundo. O apoio das mulheres foi fundamental para a vitória”, afirmou, sobre o jogo que acabou em 1 a 0.

Leia, abaixo, o depoimento de Natália sobre o que aconteceu no estádio.

Natália de Oliveira, 26 anos, uma das criadoras do movimento Gurias do Couto — Foto: Arquivo pessoal
Natália de Oliveira, 26 anos, uma das criadoras do movimento Gurias do Couto — Foto: Arquivo pessoal

“A gente teve só dois dias para se organizar e mobilizar as mulheres, porque a decisão saiu bem em cima da hora. Começamos a nos mobilizar nas redes sociais imediatamente e trabalhamos em parceria com as meninas do Império Alviverde, que é a maior torcida organizada do clube e também tem bastante mulher.

O Coritiba também entrou em contato conosco e nos pediu vídeos para que colocasse nas redes oficiais, divulgando a partida. Para entrar, bastava entrar no site, colocar seus dados, fazer um check-in e no dia levar um quilo de alimento.

Normalmente, nós e a torcida organizada assistimos ao jogo em espaços diferentes. Mas desde o início combinamos com elas de ficar todas juntas e fazer muito barulho. Tínhamos uma preocupação em convocar as mulheres, em encher o estádio –principalmente aquelas que não vão sempre. E acabou que 80% do público desse jogo foi de torcedoras que não eram assíduas.

Ainda tem muita mulher que não vai aos jogos por não sentir que é um ambiente acolhedor para elas. Ouvi ontem meninas mais novas dizendo que não encontram companhia. Tem também a condição financeira, claro, que pode ser um problema, mas o clima estava diferente nesse jogo. Propício, acolhedor, vi mulheres amamentando. São pequenas coisas, mas que nunca acontecem nos jogos. Essas mulheres se sentiram seguras.

Mulher amamenta na arquibancada do Couto Pereira — Foto: Arquivo pessoal
Mulher amamenta na arquibancada do Couto Pereira — Foto: Arquivo pessoal

Ao mesmo tempo, ontem, o Couto Pereira estava idêntico a todos os outros jogos. As meninas da torcida levaram faixas, bandeiras, os instrumentos para tocar. Tudo o que sempre tem no estádio.

Estava com amigas que, como eu, sempre vão ao estádio. Estávamos felizes com a notícias, mas a gente não sabia que ia se sentir diferente. Quando ecoou o nosso canto… Finalmente podemos ouvir a nossa voz. Estamos acostumadas a outro tom, o barulho, quando tem homens, é diferente.

Tantas mulheres cantando juntas. A gente não consegue ouvir a nossa voz com o estádio lotado. Ali a gente se reconheceu.

Nos sentimos em casa, encontramos mulheres conhecidas, demos risada. Sentimos liberdade para nos expressar. Normalmente, as mulheres precisam se provar muito quando querem comentar sobre futebol. Lá, pudemos falar o que quisemos, cornetar quando quisemos. Gritamos muito.

Eu pensava: ‘Meu Deus, que experiência inédita e diferente de tudo o que eu vivi no futebol. Faz 15 anos que frequento estádio, já viajei, já estive em torcida visitante. Nunca houve nada assim. A gente estava em êxtase e experimentando isso pela primeira vez, juntas. Nos sentimos seguras, acolhidas e livres para nos expressar. É até difícil por em palavras.

Ganhamos o jogo, mas a sensação de estar ali… ‘Meu Deus, esse lugar também é nosso!’.

No final do jogo, sempre cantamos ‘Vem, Coritiba’, para os jogadores virem até nós. Fizemos isso, eles vieram e aplaudiram muito. Nas redes sociais todo mundo comentou que as meninas deram show. Tudo isso é muito representativo, é uma ação afirmativa que leva as mulheres a sentirem que aquele lugar também é nosso.

Todo mundo viu que a gente é capaz de encher o estádio e fazer a mesma festa. Acho que essa poderia ser uma iniciativa permanente, não necessariamente ligada a uma punição. De repente abrir os estádios brasileiros para as mulheres uma vez ao ano. É uma ação que pode mudar o que tantas torcedoras sentem em relação ao futebol e aos estádios. Que pode mostrar que elas devem estar ali e que têm o espaço delas.”

No próximo sábado (21) é a vez de o Athlético-PR abrir seus portões apenas para as mulheres, em jogo contra o Maringá.

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