Em uma realidade em que tudo é urgente e somos bombardeados o tempo inteiro com informações, muitas pessoas encontram dificuldades para focar no que realmente importa. Como desviar das notícias falsas e desinformação sem afundar na ansiedade e se posicionar nas redes sociais sem medo do cancelamento. Esse é o tema do sexto episódio do podcast Nat Geo, comandado por André Carvalhal, escritor e especialista em design para sustentabilidade, com participação da influenciadora digital Hana Khalil e do psicólogo e escritor Lucas Veiga.
O desejo de comunicar para milhões de pessoas surgiu cedo na vida da produtora de conteúdo, mas quando seu primeiro vídeo bateu 10 mil visualizações, ela entendeu que poderia abordar uma infinidade de temas. “Eu sempre tive como principal objetivo da minha vida expandir minhas criações, mostrar para as pessoas como eu consegui criar”, conta Hana Khalil à Marie Claire. Anos mais tarde, ela ganhou visibilidade ao publicar um vídeo sobre a indústria do leite. “Fui entender que eu queria trabalhar com comunicação efetiva, a comunicação de impacto”.
Os vídeos virais alavancaram sua carreira nas redes sociais como comunicadora, trouxeram milhões de seguidores e críticas, que nem sempre são construtivas. "Quanto mais alcance você tiver, diversos nichos você vai atingir, diversas opiniões você vai atingir. Você nunca vai conseguir ter uma opinião unilateral que consiga abraçar exatamente o que você gostaria que as pessoas pensassem daquilo, aquilo vai impactar as pessoas de forma diferente", refletiu.
"É impossível nós querermos alcançar muita gente e não receber diversas opiniões. Não adianta se sentir frustrada e como se o seu trabalho tivesse fracassado por você ler uma determinada opinião que não gostaria de um grupo de pessoas, porque se eu quero atingir mais pessoas, mais opiniões diversas e derivadas vão vir", afirmou Hana.
O jeito que o público projeta em Hana o que gostariam de ver no mundo, uma imagem de pessoa que está sempre correta e que sabe exatamente o certo a fazer, não preocupa a influenciadora, mas ela ainda acha problemático. "Acho muito pesado isso, nos botar como representantes, líderes ou modelos a serem seguidos", afirmou. "Eles esquecem que eu estou fadada a decepcioná-los em vários setores".
O impacto das notícias alarmistas na saúde mental
No episódio “Comunicação Para Transformação”, o psicólogo Lucas Veiga também aborda como as notícias alarmistas, veiculadas com a finalidade de gerar engajamento - já que o pânico e o terror engajam -, são capazes de gerar ansiedade nas pessoas. “Quando acordamos, por exemplo, pegamos o celular e começamos a ler notícias, as maneiras como as narrativas hoje no noticiários estão sendo encadeadas muito com essa finalidade da produção e engajamento, tem um efeito muito no ansiogênico, de produzir ansiedade.”
Quando se tratam das notícias relacionadas às mudanças climáticas, tema abordado pelos dois convidados do podcast, a situação não é diferente. De acordo com Veiga, a forma como essas informações são noticiadas produzem uma sensação de não ter o que fazer, “como se a situação climática que estamos inseridos no momento já não tivesse mais nenhum tipo de caminho possível para redução desses danos”, o que tem um efeito colateral muito significativo.
Eles seriam o processo de dessensibilização, em que as pessoas não se importam e não se sentem mais afetadas por essa discussão; o negacionismo, “em que diante disso que tá sendo veiculado de maneira muito alarmante, eu nego a veracidade”, porque se torna insuportável processar essa quantidade enorme de notícias; e no último caso, a dificuldade de pensar as questões de uma maneira menos individualizada e mais coletiva.
"Quando individualizamos as questões, perdemos a perspectiva coletiva em que estamos inseridos", completa Lucas. "E quando a gente culpabiliza também", acrescenta Khalil.
"O movimento vegano também tem muito isso. Eu sou vegana há 10 anos e fazia um ativismo pesado antes, mas as coisas ficaram um pouco difíceis para mim depois de um tempo, porque o movimento vegano culpabiliza muito as pessoas, individualiza muito o problema como se a culpa de tudo fosse de fato das pessoas que comem carne e não de um sistema que fez isso acontecer", pontuou Hana.