Desde que era muito criança, Tatiana Mônico olhava para o céu e pensava que um dia queria voar tão alto que iria alcançar as estrelas. Ela e sua família moravam em Mozarlândia, cidade pequena do interior do estado de Goiás, e a piloto de avião se lembra de seu pai a levando para ver os hidroaviões.
“Eu ia acampar com meu pai desde pequena e via os aviões voando baixinho perto do Rio Araguaia. Quando falava que um dia seria eu, ele me dava o maior apoio, falava para todo mundo que a filha dele ia ser piloto. Eu cresci e me tornei mesmo. Eu não sabia por onde começar, por onde seguir, mas sabia que era meu destino”, conta Tati em entrevista a Marie Claire entre uma escala e outra.
E enquanto ia ficando mais adulta, o desejo foi só aumentando. Foi no último ano do ensino médio que começou a pesquisar melhor qual era o curso que teria que fazer para colocar seu sonho em prática. Com 17 anos, ela passou em oitavo lugar na PUC de Goiás para cursar Ciências da Aeronáutica e por muito tempo foi a única menina da turma, cumprindo todas as etapas exigidas para pilotar: “Eu escutei vários comentários machistas que queriam me fazer desistir".
"Tive que enfrentar desafios desde cedo. Tirei meu brevê [a permissão para pilotar] antes mesmo da carteira de motorista. Enfrentei horas de voo, aulas teóricas e o machismo enraizado na indústria. Por diversas vezes, pensei em desistir"
O machismo e o preconceito que Tatiana enfrentou foram obstáculos frequentes em sua jornada. "Muitas vezes, fui rejeitada por ser mulher. Comandantes, donos de aviões... todos se recusavam a me contratar", revela. "Cheguei a desistir algumas vezes, mas o amor pela aviação sempre falava mais alto."
![Tatiana Mônico e a família — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/V6igRbUYvns-VMlNwFT-h_2AC-8=/0x0:720x1280/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/J/M/yxickjSQCy5zwCZnNzlw/whatsapp-image-2024-03-14-at-18.02.03-1-.jpeg)
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Além de sofrer com o machismo, Tati também lembra que precisou pausar um tempo por causa do alto custo da faculdade, que era em torno de 200 mil reais. Ela então tentava pegar alguns extras: começou pelo Táxi Aéreo. “Mas falavam que não contratavam mulheres porque era mais dinheiro gasto para quartos separados. E também existiam os rumores que não chamavam mulheres, pois elas podiam engravidar”, aponta.
Tati conseguiu então um fixo como piloto de uma dupla sertaneja, mas a alegria durou pouco: “Estava tudo certo, até as namoradas deles falarem que não me queriam pilotando, pois não queriam outras mulheres por perto”, relembra.
No entanto, Tatiana encontrou apoio inesperado em Sebastião Aires, seu primeiro mentor na aviação: "Ele me deu uma chance quando ninguém mais acreditava em mim. Foi um ponto de virada em minha carreira". Em 2010, foi contratada por uma grande empresa de aviação brasileira, mesmo ano que conheceu seu marido, Mario Lima. “Nos primeiros cinco anos, eu mal parava em casa, ficava fora até cinco dias. Quando pegava voos até Orlando eram escalas de uma semana”, explica.
Mesmo consolidada na profissão, Tatiana viu sua vida mudar ao descobrir que seria mãe. Em 2015, teve Luna e, em 2017, Eric, os dois no espectro autista. "Descobri o autismo de meus filhos durante a pandemia, o que trouxe novos desafios financeiros", compartilha. "Foi então que decidi usar as redes sociais não apenas como uma plataforma para minha carreira, mas também para conscientização sobre o autismo."
Apesar dos obstáculos, Tatiana encontrou equilíbrio entre sua carreira e sua família. "A maternidade na aviação tem suas próprias leis e desafios", explica. "Mas com determinação e apoio, é possível conciliar ambos os papéis."
Hoje, Tatiana é uma figura respeitada na indústria da aviação, inspirando outros com sua determinação e coragem. "A jornada pode ser difícil, mas cada obstáculo é uma oportunidade de aprendizado", afirma. "E, no final, a sensação de voar é incomparável."