Jules de Faria

Cresci acreditando que minha posição na família era apenas um detalhe. Mas, recentemente, descobri que ser a irmã mais velha moldou a mulher que sou hoje, para o bem e para o mal. Memes, piadas e trends on-line me abriram os olhos para a “Síndrome da Irmã Mais Velha”. Um termo que nomeia as pressões e responsabilidades únicas que recaem sobre nós, primogênitas. “Ser a filha mais velha finalmente foi reconhecido como diagnóstico oficial pela Associação Americana de Psiquiatria”, diz o site Reductress em um artigo satírico (portanto falso), mas que, para muitas de nós, soa como realidade. Nomear essa síndrome, ainda que de maneira empírica e baseado em humor, trouxe alívio e clareza para as primogênitas no mundo todo. Inclusive aqui. E buscando mais informações, descobri um livro publicado em 2016 chamado The Eldest Daughter Effect (em tradução livre, O Efeito Filha Mais Velha). As autoras Lisette Schuitemaker e Wies Enthoven aprofundaram a questão ao identificarem cinco características comuns em primogênitas: responsáveis, obedientes, atenciosas, eficientes e cuidadosas. Também comprovam que esse grupo demonstra inteligência acima da média e habilidades verbais mais desenvolvidas. Mas, por outro lado, carregamos um senso precoce de liderança e maturidade.

No entanto, nada disso se aplica aos meninos. E por que essa pressão recai sobre as filhas e não sobre os filhos primogênitos? Uma pesquisa da Universidade da Califórnia descobriu que a responsabilidade prematura, em certas circunstâncias, vem da necessidade de prestar cuidado aos irmãos mais novos. Essa adultização antecipada impacta no desenvolvimento cerebral e pode levar à ansiedade e ao perfeccionismo. As meninas, desde cedo, são condicionadas a cuidar de outros e da casa, dedicando horas extras a essas tarefas. As crises das primogênitas, portanto, são mais um aspecto perverso da “economia do cuidado”, um conjunto de atividades não remuneradas que historicamente são demandadas das mulheres. E mostra que a forma com a qual a sociedade lida com esse trabalho das mulheres – invisível, obrigatória, pouco valorizada – já impacta a vida delas desde a infância. Os efeitos se espalham por quase todos os aspectos da vida. A necessidade de sempre acertar, somada ao medo de decepcionar a família e à crença de que o erro não é permitido, cria um ciclo vicioso. As primogênitas se cobram excessivamente, o que pode limitar a espontaneidade e impedir sua plena capacidade de criar. Apesar de amarras estruturais, não precisamos ter nossas vidas completamente determinadas pela ordem de nascença. Validar nossos sentimentos por meio de novos termos e expressões já é algo que traz para a consciência muitos padrões. Essa movimentação tem sido tão positiva e libertadora a ponto de se criar possibilidades coletivas de mudança. Não à toa, na mídia e nas redes sociais, pessoas passaram a substituir a palavra síndrome por revolução. Sim, esta é a revolução das irmãs mais velhas.

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