Jules de Faria

Por Jules de Faria

Jornalista, escritora e pós-graduada em neurociências e comportamento. À frente do Estúdio Jules como consultora criativa e mãe.

Quem presta atenção nas mudanças recentes do mundo pode chegar à conclusão de que precisamos de menos visionários. Menos gente para queimar recursos e combustível em foguetes, para criar gadgets ainda mais viciantes, para carregar velozmente roupas descartáveis de um lado a outro do mundo e atender modas que duram poucas semanas. Mas peço que você tenha a visão de imaginar como seria termos muito mais visionárias entre nós, porque, dentre tantas tragédias de um mundo à beira da distopia, perder a força dessas sonhadoras seria mais uma grande tragédia.

Existe um poder visionário que não está vinculado a proezas tecnológicas, mas que floresce em mulheres comuns, audaciosas o suficiente para sonhar com um mundo diferente. Sua força não reside em orçamentos milionários ou fama global, mas na habilidade de imaginar formas radicalmente diferentes de viver.

Outra ideia errada é a imagem do visionário como um gênio isolado inventando ou liderando o futuro. As verdadeiras sonhadoras não são “lobos solitários”. Pelo contrário, elas se nutrem pela empatia e por uma compreensão profunda da condição humana, qualidades frequentemente cultivadas por sua experiência de pertencerem a uma maioria minorizada. Essa perspectiva permite que enxerguem além do sucesso individual, criando visões de futuros que promovem o bem comum.

E esse bem comum também não precisa envolver a solução dos grandes problemas da humanidade. A ideia é ser uma visionária, não uma super-heroína. O importante é ter a coragem de desafiar o status quo, de imaginar alternativas que não só são possíveis, mas também desejáveis. É sobre usar a própria voz, independentemente do tamanho da audiência disposta a ouvir, para instigar diálogos e inspirar mudanças.

Pensem nas inúmeras mulheres que estão redefinindo a maneira como encaramos o trabalho, lançando negócios que colocam o impacto social acima do lucro dos acionistas. Ou considerem as artistas, escritoras e ativistas do cotidiano que empregam seus talentos para desafiar as normas sociais e espalhar as histórias de grupos marginalizados. Estas são as visionárias de nosso tempo, mulheres que coletivamente estão moldando um futuro mais promissor para todos nós.

O mundo nos força a resolver os problemas urgentes e pessoais – as entregas do trabalho, os pedidos dos filhos, as contas para pagar. Mas tente guardar algum tempo e energia para imaginar como seria resolver essas questões no longo prazo, para mais pessoas, de forma mais definitiva.

Fico feliz em ver que é o que está sendo feito por muitas mulheres “gente como a gente”, que estão usando suas vidas cotidianas para criar um mundo mais justo, equitativo e compassivo.

Elas são as que nos lembram que ter e implementar uma grande visão não se trata de fazer grandes gestos, mas do poder da imaginação para tornar o extraordinário possível. Elas são as visionárias que moldam nossas vidas e nossas comunidades para melhor – um pequeno ato de coragem, bondade e criatividade de cada vez.

Mais recente Próxima Divertida Mente e nós, mulheres totalmente ansiosas