Beleza

Por Paola Deodoro

Uma das máximas mais inusitadas do universo da beleza é a de que existem mais astronautas formados pela Nasa do que perfumistas no mundo. O mistério em torno da função de nariz, modo como os criadores de perfumes são chamados, também se deve ao fato de envolver processos sigilosos, estudos de longo prazo e grandes investimentos. É um clube tão exclusivo que muitas vezes o talento é considerado uma herança – e em alguns casos passa, literalmente, de pai para filho.

Na Chanel foi assim. Quando Jacques Polge, icônico nariz criador de Egoiste, Chance, Bleu e Coco Mademoiselle, anunciou aposentadoria, em 2013, foi seu filho, Olivier Polge, quem assumiu. “Nunca pensei que faria isso. Em uma certa idade você não quer se identificar com seus pais, e eu passei por isso. Intensamente”, contou Olivier, em entrevista exclusiva a Marie Claire Brasil.

Parte de uma geração de profissionais com olhar sensível para as mudanças do mundo, Olivier tem trabalhado para ressignificar a história de fragrâncias icônicas, para que atravessem gerações. Sua missão atual é reapresentar o best-seller da maison, Coco Mademoiselle – único rival possível do Chanel N5. Depois de 15 anos representada por Keira Knightley, a fragrância, a partir de agora, tem o rosto de Whitney Peak. Nascida em Uganda e naturalizada canadense, a estrela do remake de Gossip Girl tem um estilo camaleônico e espírito livre. Sob medida para o desafio de se comunicar com esse público disruptivo, que busca sempre se reinventar.

A seguir, uma conversa com Olivier Polge, o nariz do momento.

Marie Claire Há dez anos à frente da perfumaria da Chanel, você é responsável por reinterpretações potentes, como o Chanel Nº 5 L’Eau. Qual o desafio nessa missão?

Olivier Polge Sempre me perguntam se não fico intimidado em criar um perfume para Chanel, onde existe um portfólio com um legado tão grande. Mas eu penso exatamente o contrário: é uma grande chance de se superar, porque é muito mais desafiador ser inspirado por uma identidade tão forte e tão verdadeira. Você tem que encontrar algo que te toque, te sensibilize. A partir de uma fórmula forte, potente, eu tenho a oportunidade de adaptar alguma faceta, mudar as proporções. Esses perfumes têm personalidades tão fortes que você sempre encontra um jeito de revelar um novo olhar.

MC Jacques Polge, seu pai, é um dos maiores perfumistas da atualidade. Você sempre soube que seguiria seus passos?

OP Quando eu era adolescente eu queria fazer qualquer coisa na vida, menos perfumes. Eu nunca pensei que eu faria isso. Em uma certa idade você não quer se identificar com seus pais, e eu passei por isso. Intensamente. Mas quando eu completei 20 anos, depois de alguns anos estudando História da Arte, me cansei de passar tanto tempo em museus ou com livros e senti necessidade de trabalhar com as minhas mãos. Então, entre outras coisas, acabei passando mais tempo no laboratório do meu pai. E me dei conta de que eu realmente gostava daquilo. Perfumes. Ele fazia coisas simples, muito trabalho manual. E depois de alguns meses eu cheguei para ele e perguntei como eu poderia aprender mais. Naquela época eu ainda não entendia todos os desafios da profissão. Então primeiro eu fui trabalhar longe, com outras experiências em outros laboratórios. E aos pouquinhos eu fui voltando para Paris para trabalhar com ele. Depois de 10 anos ele falou da sua vontade de se aposentar. E eu não entendia a força da minha decisão quando eu tinha 20 anos. Então, provavelmente, entre os aspectos que me encantaram e as dificuldades eu diria que cheguei em um equilíbrio. Na França existe uma expressão que diz que "cães não fazem gatos". Então, de alguma maneira, você é influenciado sobre para onde você vai. Às vezes eu me pergunto se isso não é muita falta de imaginação, minha! Mas talvez o meu DNA explique. Espero que sim, mas não tenho certeza.

Whitney Peak, o rosto do novo Coco Mademoiselle — Foto: Divulgação / Chanel
Whitney Peak, o rosto do novo Coco Mademoiselle — Foto: Divulgação / Chanel

MC O mercado de perfumes sempre foi muito tradicional. Mas hoje você faz parte de uma geração que promove mudanças sociais significativas. Coco Mademoiselle, por exemplo, é uma fragrância que sempre foi considerada moderna, com uma comunicação disruptiva e desafiadora. As campanhas com Keira Knightley, uma mulher consciente e disruptiva, foram super premiadas. Mas agora vocês anunciam um novo rosto para o perfume: Whitney Peak. O que essa mudança representa para a marca?

OP Eu acho que uma boa comparação é o próprio Chanel Nº5, que sempre gera curiosidade sobre a longevidade da fragrância. A explicação é que a Chanel sempre cuidou de Nº5 como se fosse um novo perfume. Sempre encontrando um novo rosto, sempre contando uma nova história em torno desse perfume. E agora que estamos aqui falando de Coco Mademoiselle, eu me dei conta de que estamos fazendo o mesmo. Apresentar Whitney Peak hoje é importante porque ela é uma bela forma de representar esta fragrância. O principal cuidado nessa comunicação é ter sempre alguém que represente essa energia, esse vigor. Como se o perfume tivesse sido criado há pouco tempo. Whitney personifica esse perfume que sempre foi a expressão de algo jovem e divertido. Então eu acho que ela representa muito bem a nossa intenção sobre o perfil de Coco Mademoiselle.

MC Para chegar a uma fragrância que acompanha o tempo, quais os segredos da formulação, da combinação de ingredientes?

OP Coco Mademoiselle combina dois aspectos muito importantes em um perfume. O frescor, que tem aquele colorido, aquele brilho dos cítricos. Mas por trás disso há algo com mais profundidade, com as notas de âmbar, patchouli, essas notas que tem características importantes, fortes. É um bom equilíbrio entre o frescor e a leveza com algo com calor e textura.

MC Que cara tem o perfume de hoje em dia? O que quer a mulher contemporânea?

OP O processo de criação de perfumes envolve muita liberdade. Existem muitos sabores do momento. Não há uma receita mágica que faça com que todo mundo ame um tipo específico de perfume. Mas para tentar te responder, hoje em dia existe um gosto mais forte, mais audacioso em relação aos perfumes que você usava antes. Há um desejo por perfumes mais fortes. Mas, no final, é o equilíbrio entre o material completo que garante o que vai fazer sucesso no momento.

MC – Isso tem a ver com o isolamento social e com o modo como as pessoas usavam perfume durante a pandemia?

OP – É difícil falar porque a pandemia foi percebida de maneiras diversas em diferentes lugares do mundo. Mas o que eu percebi depois é que nós ficamos tão afastados durante a pandemia que no final as pessoas ficavam felizes de sentir o cheiro de outras pessoas de novo. Acho que muita gente se deu conta de como os aromas são importantes. Foi uma chance de valorizar os aromas.

MC – Uma curiosidade: qual perfume você usa?

OP – Uso Pour Monsieur Chanel. Mas na verdade é uma pena, eu uso pouco. Porque quando vou trabalhar eu tento não usar perfumes. Eu faço tudo para estar em um ambiente neutro. Pintores precisam de luzes claras, telas brancas. Eu preciso fazer parecido com aromas. Assim eu consigo perceber melhor os cheiros que estão ao meu redor.

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