• Ana Posses, Duília de Mello e Geisa Ponte*
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Por que a atmosfera é um bem valioso do nosso planeta (Foto: Reprodução/www.grc.nasa.gov/)

Por que a atmosfera é um bem valioso do nosso planeta (Foto: Reprodução/www.grc.nasa.gov/)

Ficou sabendo que com meio milhão de dólares você pode pegar uma nave, voar a 80 km de altitude pela atmosfera e experimentar gravidade zero como se fosse um astronauta? A empresa Virgin Galactic, fundada pelo britânico Richard Branson, é a primeira a oferecer esse tipo de voo, também conhecido como turismo espacial. Já a Blue Origins, companhia do norte-americano Jeff Bezos, promove algo parecido, só que ultrapassa 100 km de altitude.

Mas, cá entre nós, quem acompanhou os dois primeiros lançamentos que aconteceram neste mês provavelmente viu que esses voos não vão até o espaço como geralmente se imagina, já que não chegam a sair da atmosfera da Terra. Ainda assim, com certeza é algo bem empolgante e, mais do que ver o cosmos, o mais bonito certamente é admirar nosso planeta de cima!

Agora imagine que existam turistas espaciais reais, vindos de outro sistema solar. Como você acha que eles descreveriam o que viram ao passar por aqui? Seria algo como “Terra: terceiro planeta, rochoso, azul, com belos oceanos e fina atmosfera; flora e fauna abundante, tendo uma única espécie senciente e que domina conceitos básicos de ciência e tecnologia.” É uma descrição razoável, dependendo da época em que isso acontecesse, concorda?

E como você descreveria a Terra para um alienígena se encontrasse algum longe daqui, em uma das esquinas da Galáxia? Contaria da transformação do planeta durante os últimos 4,5 bilhões de anos? A Terra é geologicamente viva, cheia de vulcões ativos que continuam a direcionar a evolução do planeta. O vulcanismo, nos primórdios terrestres, ajudou na formação dos continentes e teve papel importante para o surgimento da vida. Existem hipóteses de que a química e as condições de temperatura e exposição à luz solar das "sopas primordiais" das regiões vulcânicas possam ter contribuído para o início da história dos nossos primeiros antepassados.

Erupção do vulcão Eyjafjallajokull, na Islândia, em 2010 (Foto: David Karnå/Wikimedia Commons)

Erupção do vulcão Eyjafjallajokull, na Islândia, em 2010 (Foto: David Karnå/Wikimedia Commons)

Ainda hoje, quando um vulcão entra em erupção, mesmo que seja em uma ilha distante, pode afetar o planeta todo. Isso porque a Terra tem algo maravilhoso, a atmosfera. Quando os vulcões explodem, a poeira emitida fica suspensa nas camadas atmosféricas de todo o globo, afetando rotas de aviões e até interrompendo voos, como aconteceu quando Eyjafjallajökull, um vulcão na Islândia, entrou em erupção em 2010. A poeira na atmosfera altera também a qualidade do céu noturno e interfere nas observações astronômicas.

Contudo, se não fosse a atmosfera e essa combinação com o vulcanismo, não estaríamos aqui. E não só porque respiramos o oxigênio existente na atmosfera, que é composta na maioria por nitrogênio (78%) e oxigênio (21%), mas também porque ela nos protege de raios solares nocivos à vida humana, como o ultravioleta. A atmosfera também nos protege do constante “bombardeio” de pedregulhos espaciais ou meteoros. A maioria deles acaba sendo destruída já ao entrar no nosso planeta, pois o atrito com a atmosfera faz o meteoro incandescer e se despedaçar. Quando algum objeto maior consegue resistir, acaba diminuindo um pouco de tamanho ao atravessar as camadas superiores e, assim, causa um estrago menor ao colidir com o solo.

A atmosfera terrestre tem várias camadas, que se estendem por centenas de quilômetros. A estação espacial internacional (ISS), o telescópio espacial Hubble e muitos dos satélites, por exemplo, estão na chamada termosfera, que se estende até 400 km, aproximadamente. Mas a atmosfera que contém o nível de oxigênio para respirarmos não chega a 5 km de altitude, por isso precisamos de máscara de oxigênio se o avião despressurizar durante o voo. Essa atmosfera que permite a nossa existência é uma fina película levando em conta o tamanho da Terra (12756 km de diâmetro). Por exemplo, se compararmos os tamanhos do nosso planeta e sua atmosfera com os de uma maçã e sua casca, a atmosfera terrestre é ainda mais fina que a casca da fruta, em termos proporcionais.

Mas, se o encontro com o alienígena realmente acontecesse, será que você contaria para  ele o estado atual do mundo em que vivemos? Falaria das mudanças climáticas e do nosso papel nisso? Contaria que essas mudanças já estão trazendo consequências sérias para nossa própria sobrevivência? A atmosfera contém outros gases que não são transparentes à luz solar, como é o caso do dióxido de carbono, o CO2, que é um dos principais produtos da poluição causada por atividades humanas.

Uma boa notícia que você poderia dar a um visitante extraterrestre é que, mesmo que não dê mais para reverter a situação completamente, podemos torná-la "menos pior". Por exemplo, se plantarmos mais de 1 trilhão de árvores, conseguimos criar florestas que controlarão a quantidade de CO2 na atmosfera.

Só isso, porém, não seria o suficiente! Temos que despoluir os oceanos e desenvolver uma cultura de sustentabilidade que diminua significativamente os prejuízos causados pelos humanos. Daí porque o Brasil é tão importante para o futuro do planeta, já que possuímos recursos hídricos abundantes, uma costa litorânea extensa e um vasto território com biomas ricos em biodiversidade e que cumprem um papel importante na absorção de CO2 — como a Amazônia e a Mata Atlântica. Essa última, aliás, tem apenas 12,4% de sua cobertura original e um grande potencial de restauração.

O desmatamento da Mata Atlântica entre 2019 e 2020 foi pior na cidade de Iporanga (Foto: Eduardo Rosa/SOS Mata Atlântica)

Mata Atlântica perdeu 13 mil hectares entre 2019 e 2020 (Foto: Eduardo Rosa/SOS Mata Atlântica)

Não podemos esquecer de olhar para nós mesmos e modificar comportamentos individuais também, antes que seja tarde demais. Ou aquele nosso amigo alienígena vai encontrar um planeta bem diferente do nosso Planeta Azul: uma Terra árida, suja, sem beleza e se sentirá solitário, já que não estaremos mais aqui para recebê-lo.

Mulheres das Estrelas (Foto: Ana Posses, Duília de Mello e Geisa ponte são astrônomas que querem mostrar ao Brasil a importância da ciência. Trabalham para atrair mais jovens — especialmente as meninas — para esse campo. (Fotos: arquivo pessoal))

Ana Posses, Duília de Mello e Geisa Ponte são astrônomas que querem mostrar ao Brasil a importância da ciência. Trabalham para atrair mais jovens — especialmente as meninas — para esse campo. (Fotos: arquivo pessoal))