• Wendy Whitman Cobb*
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Por que a viagem de Jeff Bezos é um marco na exploração e turismo espacial (Foto: Divulgação)

Por que a viagem de Jeff Bezos é um marco na exploração e turismo espacial (Foto: Divulgação)

Para a maioria das pessoas, chegar às estrelas nada mais é do que um sonho. Mas em 5 de maio de 2021, no 60º aniversário do primeiro voo suborbital, esse sonho se tornou um pouco mais realizável.

A empresa espacial Blue Origin anunciou que começaria a vender passagens para voos suborbitais na periferia do espaço. O primeiro voo ocorreu nesta terça-feira (20), e a empresa de Jeff Bezos leiloou uma única passagem pelo maior lance. Mas quem deu o lance vencedor não será o primeiro turista a chegar ao espaço.







Em 28 de abril de 2001, Dennis Tito, um rico empresário, pagou US$ 20 milhões (cerca de R$ 105 milhões) por um assento em uma espaçonave russa Soyuz para ser o primeiro turista a visitar a Estação Espacial Internacional (ISS). Apenas sete civis fizeram o mesmo em 20 anos desde então, mas esse número deve dobrar nos próximos 12 meses.

Há muito tempo, a Nasa hesita em receber turistas espaciais, então, a Rússia –  em busca de fontes de dinheiro pós-Guerra Fria nas décadas de 1990 e 2000 – tem sido a única opção disponível para quem procura esse tipo de aventura extrema. No entanto, parece que o surgimento de empresas espaciais privadas tornará ainda mais fácil a chance de pessoas comuns vivenciarem o espaço.

Foguete New Shepard levando Jeff Bezos ao espaço  (Foto: Reprodução/Youtube)

Foguete New Shepard levando Jeff Bezos e tripulação ao espaço (Foto: Reprodução/Youtube)

Segundo minha perspectiva como analista de política espacial, anúncios recentes de empresas como Blue Origin e SpaceX são a abertura de uma era em que mais pessoas podem experimentar o espaço. Na esperança de construir um futuro para a humanidade fora da Terra, essas empresas estão buscando usar o turismo espacial como uma forma de demonstrar a segurança e a confiabilidade das viagens espaciais para o público em geral.

O desenvolvimento do turismo espacial

Voos para o espaço como o de Dennis Tito são caros por um motivo. Um foguete deve queimar muito combustível de alto valor empregado para viajar alto e rápido o suficiente para entrar na órbita da Terra.

Uma possibilidade mais barata é um lançamento suborbital, com o foguete voando alto o suficiente para alcançar a borda do espaço e voltando para baixo. Este é o tipo de voo que a Blue Origin está oferecendo agora. Além dos passageiros em uma viagem suborbital experimentarem leveza e vistas incríveis, esses lançamentos são mais acessíveis.

A dificuldade e o custo de qualquer uma das opções significam que, tradicionalmente, apenas estados-nação foram capazes de explorar o espaço. Isso começou a mudar na década de 1990, quando uma série de empreendedores entrou na arena espacial. Três empresas lideradas por CEOs bilionários emergiram como as principais investidoras: Blue Origin, SpaceX e Virgin Galactic. Embora nenhuma tenha levado clientes particulares pagantes para o espaço, todas planejam isso em um futuro muito próximo.

Mark Bezos, Jeff Bezos, Oliver Daemen e Wally Funk. A tripulação civil que voou no foguete particular da Blue Origin (Foto: Blue Origin/Divulgação)

Mark Bezos, Jeff Bezos, Oliver Daemen e Wally Funk. A tripulação civil que voou no foguete particular da Blue Origin (Foto: Blue Origin/Divulgação)

O bilionário britânico Richard Branson construiu sua marca nos negócios, mas também em seu amor pela aventura. Na busca do turismo espacial, Branson trouxe ambos. Ele fundou a Virgin Galactic após comprar a SpaceShipOne – uma empresa que ganhou o prêmio Ansari X-Prize ao construir a primeira nave reutilizável.

Desde então, a Virgin Galactic tem procurado projetar, construir e voar uma segunda nave maior, a SpaceShipTwo, que pode transportar até seis passageiros em um voo suborbital.
Mas o andamento da ideia tem sido mais difícil do que o previsto. Enquanto Branson previu a abertura do negócio para turistas em 2009, a Virgin Galactic encontrou alguns obstáculos significativos – incluindo a morte de um piloto em um acidente espacial em 2014. Após o ocorrido, engenheiros encontraram problemas significativos com o design do veículo, que exigiu modificações.

Elon Musk e Jeff Bezos, respectivos líderes da SpaceX e Blue Origin, começaram seus próprios empreendimentos no início dos anos 2000. Musk, temendo que uma catástrofe de algum tipo pudesse deixar a Terra inabitável, ficou frustrado com a falta de progresso em tornar a humanidade uma espécie multiplanetária. Ele fundou a SpaceX em 2002 com o objetivo de primeiro desenvolver tecnologia de lançamento reutilizável para diminuir o custo de chegar ao espaço. Desde então, a empresa obteve sucesso com seu foguete Falcon 9 e a espaçonave Dragon.

O objetivo final da SpaceX é criar assentamento humano em Marte, já que enviar clientes pagantes para o espaço é uma etapa intermediária. Musk diz que espera mostrar que as viagens espaciais podem ser feitas facilmente e que o turismo pode fornecer uma fonte de receita para apoiar o desenvolvimento de um sistema maior focado em Marte.

Bezos, inspirado pela visão do físico Gerard O'Neill, quer expandir a humanidade e a indústria não para Marte, mas para o próprio espaço. A Blue Origin, fundada em 2004, avançou lenta e silenciosamente no desenvolvimento de foguetes reutilizáveis. Seu foguete New Shepard, lançado com sucesso pela primeira vez em 2015, é a espaçonave que leva turistas em viagens suborbitais até a borda do espaço neste mês de julho. Para Bezos, esses lançamentos representam um esforço para tornar a viagem espacial uma rotina confiável e acessível como um primeiro passo para permitir uma maior exploração espacial.

Jeff Bezos em frente ao foguete New Shepard, que será lançado com tripulação em 20 de julho (Foto: Reprodução/Blue Origin)

Jeff Bezos em frente ao foguete New Shepard, que foi lançado nesta terça-feira, 20 de julho (Foto: Reprodução/Blue Origin)

Perspectivas para o futuro

A Blue Origin não é a única empresa que oferece aos passageiros a oportunidade de ir ao espaço e orbitar a Terra. A SpaceX atualmente tem dois lançamentos turísticos planejados: o primeiro está programado para setembro de 2021, financiado pelo empresário bilionário Jared Isaacman; a outra viagem, prevista para 2022, está sendo organizada pela empresa norte-americana Axiom Space.

Essas viagens serão caras para os aspirantes a viajantes espaciais e irão custar US$ 55 milhões (aproximadamente R$ 288 milhões), sendo que o preço inclui o voo e uma estadia na ISS. O alto custo levantou críticas de que o turismo espacial – e o acesso privado ao espaço de forma mais ampla – possa reforçar a desigualdade entre ricos e pobres.






Embora a Blue Origin tenha aceitado ofertas para uma vaga no primeiro lançamento, ela ainda não anunciou o custo de uma passagem para viagens futuras. Os passageiros também precisarão atender a várias qualificações físicas, incluindo pesar de 50 a 101 kg e medir entre 1,5 e 1,9 metros de altura.

A Virgin Galactic, que continua testando a SpaceShipTwo, não tem um cronograma específico, mas seus ingressos devem custar entre US$ 200 mil e US$ 250 mil (preço que varia de mais de R$ 1 milhão a 1,3 milhão).

Embora os valores sejam altos, vale a pena considerar que a passagem de US$ 20 milhões de Dennis Tito em 2001 poderia potencialmente pagar 100 voos na Blue Origin em breve. A experiência de ver a Terra do espaço, entretanto, pode ser inestimável para uma nova geração de exploradores espaciais.

*Wendy Whitman Cobb é professora de Estratégia e Estudos de Segurança na Escola de Estudos Avançados Aéreos e Espaciais da Força Aérea dos Estados Unidos. O texto foi publicado originalmente em inglês no site The Conversation.