Na reta final da gravidez, não há mãe de primeira viagem que não fique ansiosa com o parto. Embora seja um momento único e especial, ele também é conhecido por ser doloroso. Talvez isso esteja relacionado àquelas cenas de filmes e novelas, que mostram mulheres gritando e sofrendo, ou com aquelas histórias trágicas de uma tia, vizinha, conhecida, avó... que alguém sempre tem para contar a uma gestante. Mas, será mesmo que o parto normal dói muito?
A dor do parto nem sempre é algo tão descomunal. Ela está sob influência de nossas atitudes e emoções. Por isso, em vez de alimentar ansiedades enquanto espera seu bebê nascer, é melhor se preparar para esse momento. Saber mais sobre ela é o primeiro passo para encará-la com mais naturalidade.
Como a dor do parto acontece no corpo?
As contrações das fibras uterinas - essenciais para o rompimento da bolsa e para a dilatação - são o que causam a dor durante o trabalho de parto, como explica Ana Paula Beck, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein. "É algo muito pessoal, por isso, o local da dor para cada paciente também varia", afirma. Como o útero se fixa na região lombar, muitas mulheres relatam que a dor começa nas costas e se irradia pelos quadris e pelo abdômen. "Algumas também sentem incômodos significativos na região inferior da barriga", acrescenta a obstetra.
Ela costuma ser mais intensa quando faltam três centímetros para completar os dez de dilatação uterina. As fases seguintes são de expulsão, do bebê e da placenta. Durante esses períodos, é comum a parturiente dizer que “não suporta mais”, para em seguida perceber que pode ultrapassar o limiar da dor, porque ela não aumenta. Isso quer dizer que a grávida não sente mais dor num período do que já estava sentindo no anterior.
A dor do parto é parecida com o que?
De acordo com Ana Paula Beck, os principais relatos são de dores relacionadas a uma cólica menstrual intensa, mas não é constante. Como uma onda, tem começo, meio e fim e as grávidas podem relaxar nos intervalos. "Ela se torna mais intensa no final do trabalho de parto e a mulher pode ter uma sensação de vontade de fazer cocô no período expulsivo", esclarece a especialista.
Vale destacar que esse momento nem sempre é doloroso. "É possível que as mulheres relaxem e até sintam prazer no trabalho de parto", afirma Ana Paula Beck. Algumas mães já até relataram que tiveram um orgasmo durante o parto.
A dor do parto é igual para todas as mulheres?
"A dor do parto é extremamente individual, assim como qualquer outro tipo de dor. Dessa forma, algumas pessoas têm maior sensibilidade que outras", diz a especialista. Muitos fatores podem influenciar no impacto da dor, inclusive os sentimentos e atitudes em relação à gravidez e ao parto.
Quando a gestante está tensa, o organismo produz adrenalina. Um estado crônico ou muito prolongado de tensão produz a substância em excesso, o que pode inibir a ação da musculatura uterina, reduzindo a capacidade do organismo de reagir ao estímulo que provoca a dor. Cientistas chegaram a essa conclusão ao medir o nível de adrenalina no sangue de parturientes que demonstravam tranquilidade, medo e ausência de reação uterina durante o trabalho de parto. O resultado foi um nível baixo nas pacientes não-temerosas, alto no segundo grupo e mais alto ainda no grupo com inércia uterina. "A realização de atividades físicas e questões culturais e sociais também devem ser levadas em consideração", acrescenta a obstetra.
A dor do parto da primeira gravidez pode ser diferente das próximas?
Sim! "Em geral, o primeiro parto leva mais tempo e causa mais dores e desconforto", afirma Beck. Os médicos consideram que a gestante entrou em trabalho de parto quando tem mais de três centímetros de dilatação no útero. Desse momento em diante, um parto demora de oito a 18 horas, principalmente caso seja a primeira gravidez. Já nas próximas gestações, este período pode ser mais curto, entre 6 a 8 horas.
O que realmente alivia a dor do parto normal?
Existem muitos métodos, tanto farmacológicos quanto naturais, que podem ajudar a aliviar se a dor estiver intensa demais. Confira:
- Medidas farmacológicas: como a aplicação de anestesia epidural;
- Hidroterapia: uso da água quente, na banheira ou no chuveiro, para promover uma sensação de relaxamento;
- Acupuntura: a aplicação da técnica da medicina chinesa, em pontos específicos, pode ajudar a aliviar a dor, reduzindo o uso de analgésicos, e até a estimular as contrações, quando necessário;
- Hipnoterapia: por meio de exercícios e técnicas específicas, conduzidas por um profissional, a mãe entra em um estado de relaxamento profundo, que pode ajudar o funcionamento do corpo, além de amenizar a dor.
- Técnicas de respiração: respirar fundo em alguns momentos, mais vezes e de forma mais curta em outros, e alternar as maneiras de inalar e exalar o ar também faz diferença no processo do trabalho parto.
- Aromaterapia: as essências com aromas podem ser usados em difusores, em banhos, escalda-pés e massagens, entre várias outras formas. A aplicação ajuda no relaxamento e na diminuição da ansiedade e do sofrimento.
- Mindfulness: a atenção plena conduz a mãe a viver o momento presente, a focar no que está acontecendo e, assim, a compreender o processo e ajudando o próprio corpo a trabalhar de forma mais eficiente.
- Massagens: massagear as costas, a lombar ou outros pontos do corpo, em diferentes momentos do trabalho de parto, também promove o alívio da dor.
- Estimulação elétrica transcutânea (TENS): Eletrodos superficiais colocados na pele emitem correntes elétricas, que excitam as fibras nervosas e amenizam sensações dolorosas. A aplicação deve ser feita por um profissional especializado.