Vamos começar com uma verdade indigesta: a criança não aprende a não fazer algo porque é errado, mas porque foi punida e tem medo. Agora, imagine que você viaja para um país onde não conhece bem o idioma nem as regras do local. Quando você faz algo errado, você leva uma multa, sob ameaças de ser preso caso erre novamente.
Você fica apavorado, e até tenta acertar. Você quer muito fazer o que é certo, mas são várias regras, ao lado de uma série de coisas interessantes para fazer, e você sempre acaba fazendo algo errado. A pergunta que fica: como você gostaria de ser tratado? Não seria melhor que alguém estivesse orientando você sobre como as coisas funcionam, em vez de só punir e ameaçar? Como você vai aprender, se passa metade do tempo em pânico de errar novamente?
Bem, com as crianças é exatamente isso que acontece. A diferença é que não estão visitando um país novo, mas tentando entender sobre esse mundo ao qual acabaram de chegar. O cérebro delas ainda está se desenvolvendo, por isso elas têm dificuldades em controlar impulsos, entender causa e consequência, ponderar sobre as próprias decisões e lidar com as emoções.
E é aí que está o nosso papel como pais, familiares, educadores e sociedade: criar um ambiente seguro e emocionalmente saudável para que elas se desenvolvam e aprendam de forma empática e respeitosa. “Mas se não posso punir, como vou educar meus filhos?”
O primeiro passo é dissociar o erro da punição. Punição não pode ser considerada como consequência de um erro. Uma criança que erra precisa ser orientada, considerando a idade e o processo de desenvolvimento dela.
Além disso, precisamos olhar para o erro como uma oportunidade de aprendizagem, para ensinar as regras sociais, ferramentas para lidar com as próprias emoções e como tratar as pessoas com gentileza.
Mas nada disso é realmente possível sem que façamos o mais importante de tudo: nos educar emocionalmente. A mudança só acontece na parentalidade quando vem de dentro para fora. Por isso é fundamental olhar para nós mesmos e assumir quando estamos sem condições emocionais de lidar com aquela situação. Se a criança não estiver em perigo, respire e se acalme antes de reagir.
Lembre-se de que as crianças são boas, estão aprendendo e tentando acertar. Seja aquele que vai quebrar o ciclo de violência e educar por meio de respeito, diálogo e empatia. Não é fácil, mas é possível. E, quando tiver dúvida, siga a regra de ouro: faça com seus filhos apenas aquilo que você gostaria que fizessem com você.
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