Thiago Queiroz: o curioso caso dos pais sortudos

Claro, eles não ficaram radiantes em ouvir isso, mas foram se despedir das visitas e de nós, dando um abraço e um desejo de boa noite. Foram então para o banheiro, cumprir as primeiras etapas do “dente-xixi-cama” e, em seguida, para seus quartos.

Nossos amigos ficaram sem reação:

– Como assim? Você falou três palavras e deu tudo certo? Vocês são muito sortudos!

O que conversamos a partir daí é o que quero trazer para a nossa conversa aqui: será que é realmente sorte? Ou será que são anos de trabalho, construindo uma rotina respeitosa, fortalecendo vínculos e focando na conexão?

Eu jamais romantizaria o trabalho (ou sobrecarga) dos cuidados parentais, como se fosse algo que nós deveríamos fazer como um martírio para, então, obtermos filhos que colaboram com o que pedimos a eles. Não é sobre isso, até porque ignoraria aí completamente o fato de que nossos filhos e seus comportamentos são o resultado de vários fatores.

Crianças não são folhas de papel em branco onde os pais escrevem o que quiserem, mas são influenciados por suas próprias personalidades, o ambiente onde crescem e se desenvolvem e por todas as relações construídas com seus cuidadores principais, além, claro, da exposição que eles têm à socialização na escola, por exemplo.

Ou seja, não temos todo esse controle sobre como nossos filhos se sairão na vida, mas alguma contribuição nós temos, com certeza. A nossa expressão “dente-xixi-cama” é resultado de literalmente anos trabalhando em busca de uma rotina noturna que não apenas funcionasse, mas que atendesse às nossas necessidades e às necessidades dos nossos filhos.

É resultado de anos de trabalho meu e da minha esposa, desde quando Dante era bebê e gritava em protesto todas as vezes que eu dizia para ele “filho, está na hora de dormir”. Um trabalho de acolhimento, de buscar rotinas que funcionavam para toda a família, mas, principalmente, um trabalho de conexão com meus filhos, para que consigam confiar, ouvir e colaborar.

E, claro, não são todos os dias que o “dente-xixi-cama” funciona tão bem assim, mas, no geral, é mais sobre como nós lidamos com esses momentos desafiadores do que necessariamente “sorte”.

Afinal, criar filhos é um trabalho. E dos mais importantes que temos.

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