Como ter equilíbrio entre vida pessoal e profissional? Esta talvez seja a pergunta que eu mais vejo sendo feita para quem tem filhos e trabalha. Seja nas capas de revista, títulos de matérias, nas entrevistas com mulheres em altos cargos ou artistas famosas, é bem comum ouvirmos: como você faz para conciliar os seus papéis? Como você consegue dar conta de tudo? Como você equilibra seus pratinhos?
Já dei e já vi também toda sorte de respostas. Desde o “passo a passo da conciliação” até o famoso “eu não dou conta e pronto”. Todas me ajudam muito a construir o que penso sobre isso. Porém hoje, grávida pela terceira vez e com quarenta anos, tenho sentido uma coragem diferente. Não sei se é o novo bebê que já desde a barriga chega para somar no meu currículo, ou se é a idade, ou tudo junto e misturado.
Quando entramos nas empresas com a Filhos no Currículo e me pedem para explorar esse tema do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a primeira coisa que gosto de fazer ao planejar um roteiro de conversa é buscar o significado das palavras no dicionário. Dessa forma, me aproximo do que estamos falando. Muitas vezes a falta de entendimento das coisas acontece por não termos conseguido nomeá-las direito e, por vezes, também por estarmos falando de conceitos abstratos, tão cheios de significados e interpretações que podemos estar até concordando sobre o assunto, mas nos perdemos no debate.
“Equilíbrio”, segundo o dicionário Oxford, é um substantivo masculino que significa: "1. Posição estável de um corpo, sem oscilações ou desvios. 2. Física: condição de um sistema em que as forças que sobre ele atuam se compensam, anulando-se mutuamente”.
Imediatamente ao ler essa definição do dicionário encontro as contradições com aquilo que estamos buscando ao falar de uma vida equilibrada. O que isso quer dizer? Será que é possível viver uma vida sem oscilações? Sem desvios? Ou ter nossos filhos e nosso trabalho de forma que eles se compensem e se anulem?
Rapidamente chego à primeira conclusão: na vida não há soma zero. Tudo o que eu faço gera impacto em outras áreas e as coisas estão mudando o tempo todo. Nada é estático.
O que é essa busca por esse tal equilíbrio então?
Para responder essa pergunta é preciso investigar um pouco mais. Traçar o objetivo. Qual é o resultado, ou quais sinais você terá quando viver finalmente uma vida equilibrada? Qual será o troféu quando você chegar lá? Só é possível alcançar aquilo que podemos medir. Ter clareza da meta que você espera alcançar, é o primeiro passo para se desenhar a caminhada.
Quando escuto as respostas dos participantes das rodas de conversa que já facilitei em empresas, elas começam a se apresentar como respostas prontas e automáticas, quase que esperadas para a pergunta feita. Lembrei do livro que estou lendo atualmente, “Nós” - da Tamara Klink, que conta a sua história como a pessoa mais jovem do Brasil a cruzar o Atlântico sozinha, aos seus 24 anos. No livro ela descreve os triunfos e percalços dessa expedição e também as resultantes da exposição de sua história. Nele, ela conta que ao dar entrevistas entregava as respostas que os entrevistadores estavam buscando, mas sem ouvir o que ela mesma estava dizendo.
Isso reforça para mim o quanto é preciso ter clareza: Com um objetivo traçado individualmente, fica mais fácil não ser raptado pela comparação, um outro problema que surge a partir dessas “respostas automáticas”.
Imersos nas redes sociais, vamos consumindo maternidades “perfeitas” e recortes de uma vida incrível, e isto torna quase impossível não se comparar. Ligada à comparação, vem a culpa. E assim fazemos com que um problema simples, que era encontrar um equilíbrio para nós, rapidamente se transforme em outros vários problemas imaginários. Sem perceber, vamos alimentando nossas frustrações e adoecendo ainda mais.
Vamos pensar de forma prática? Uma possibilidade de mapear o que é equilíbrio para a sua vida é descobrir o seu tal “troféu” para dias mais equilibrados, depois reconhecer quais são as características e ações principais das pessoas do mundo que você considera como um bom parâmetro. Você consegue identificar três características universais desse objetivo? Por exemplo, para mim, o troféu de viver uma vida equilibrada é chegar no fim do dia em casa com uma sensação de dever cumprido, sem sentimento de culpa, e satisfeita com as minhas escolhas. Ou seja, para mim - se eu pudesse listar 3 características universais de quem vive uma vida equilibrada, seriam eles: saber fazer boas escolhas; conseguir se cuidar; lidar bem com as próprias emoções.
Diante dessas características que eu defino, tenho um mapa de possibilidades de competências que posso desenvolver, como priorizar ou gerir melhor o tempo; incluir uma atividade de autocuidado; comunicar minhas necessidades; definir limites claros, e essas são algumas das ações que eu posso incluir no meu dia-a-dia para alcançar o meu troféu do equilíbrio.
Mas entenda, é você quem vai dizer quais são as ações que precisa fazer para se sentir assim. Não sou eu, nem ninguém. A cada pergunta que você faz para você mesma, você vai desconstruindo algo que é bem abstrato e começa a construir um passo a passo mais concreto de ações que te levarão ao seu desenvolvimento individual. Você pode também considerar outras questões como:
- Quais recursos eu preciso? Pense se você precisa de ajuda para isso, ou se precisa aprender algo novo para alcançar esse patamar.
- Quanto tempo eu preciso para desenvolver essa competência? Aqui, não se pode desconsiderar o tempo que se leva para aprender algo novo, e a presença de falhas e erros nesse processo.
Eu sigo acreditando que é possível encontrar o equilíbrio, não este imaginário do conto de fadas, mas aquele que você define para você. Do contrário, ele seguirá sendo a busca por um pote de ouro no fim do arco-íris.
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