Como mãe de três, passei a observar algumas situações que me fizeram refletir sobre um tema tão importante e necessário na jornada da parentalidade: o equilíbrio entre cuidar e permitir que nossos filhos cresçam de forma independente.
Tenho pensado bastante sobre esse assunto: até onde um adulto pode atrapalhar a trajetória de desenvolvimento de uma criança com sua superproteção?
Vamos falar, então? Trouxe aqui dois episódios hipotéticos para ilustrar bem essa pauta.
Episódio 1: exclusão em uma festa de aniversário
Imagine uma festa de aniversário em um clube, com crianças animadas participando de um jogo de bola. Duas crianças, não convidadas, decidem se juntar à diversão corajosamente. No entanto, a tia do aniversariante intervém, alegando que essas crianças não devem participar porque durante a semana não deixaram seu sobrinho brincar. Essa situação nos faz refletir sobre como será o dia do sobrinho dela na escola e as consequências para as crianças excluídas, que sentiram a dor da exclusão e da injustiça.
Episódio 2: exclusão no Esporte
Outra situação infelizmente comum: pais não permitem que crianças que não são consideradas "craques" participem de campeonatos de futebol. Eles pressionam os técnicos para que essas crianças sejam excluídas, ao invés de incentivá-las. Essa atitude não prejudica apenas o desenvolvimento esportivo das crianças, mas também envia uma mensagem de exclusão e desvalorização, impedindo o crescimento saudável de nossos filhos, privando-os da oportunidade de aprender com desafios e fracassos.
Esses episódios ilustram o impacto da superproteção, mas é importante refletir como esse comportamento pode afetar nossos filhos a longo prazo.
Além do aspecto emocional, episódios de exclusão e pressão nos esportes e na vida social afetam a autoestima, autoconfiança e habilidades sociais das crianças. Estamos negando a elas a oportunidade de aprender com a vida real.
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E qual seria o caminho para o tão desejado equilíbrio?
Segundo a psicanalista Priscila Segal: “É um desafio para todas as mães encontrarem o lugar da 'mãe suficientemente boa'" ( Winnicott). Ser aquela que provê aquilo que seu filho precisa a seu tempo, sem excessos. É justamente quando as mães se distraem que os filhos crescem. Estamos muito submetidos aos imperativos de ideais dos nossos tempos e as consequências disso são catastróficas para todos, principalmente para as crianças. Vemos o aumento de casos na clínica de crianças com sintomas de depressão, ansiedade, entre outros cada vez mais precoces. Fica o alerta para deixarmos cair os semblantes de pais e mães perfeitos que esperam nada menos que a perfeição de seus filhos, garantindo que a foto do porta-retrato esteja cheia de craques, sem nenhuma manchinha.
Eu acredito de verdade que devemos oferecer orientação, apoio e oportunidade para que eles tomem decisões e enfrentem as consequências naturais. É importante demais preparar nossos filhos para a independência e autossuficiência desde cedo, para que eles se tornem adultos confiantes e cheios de autoestima.
É isso que a gente quer, não é mesmo?
Nossa jornada como pais é, sim, repleta de desafios e a superproteção é um deles. E que tal a gente tentar pelo menos encontrar o equilíbrio necessário para criar crianças saudáveis emocionalmente?
Aproveito para deixar o meu recadinho especial: o amor dos pais se manifesta não apenas em proteger, mas também em preparar nossos filhos para enfrentar o mundo com determinação. Encontrar esse equilíbrio é um presente que lhes oferecemos para toda a vida.
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