• Texto Naíma Saleh
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 (Foto: Aleksandar Nakic/Getty Images)

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"Não foi nada.” “Está tudo bem.” “Não precisa chorar.” Quantas vezes você já tentou conter um ataque de raiva ou fazer cessarem as lágrimas do seu filho com frases assim? Embora a intenção seja legítima – afinal, quem gosta de ver uma criança sofrer? –, essa postura desperdiça a oportunidade de ensinar seu filho a lidar com as próprias emoções e, consequentemente, de aprender um bocado sobre si mesmo. Reconhecer os sentimentos que nos afligem e encontrar formas saudáveis de expressá-los são a base da alfabetização emocional, um conceito formulado na década de 1990, época em que surgiram as primeiras pesquisas neurocientíficas para entender como o cérebro humano processa as emoções e os pensamentos. Essa ideia vem ganhando força recentemente, como você vai conferir nesta reportagem.

A alfabetização emocional parte do princípio que, assim como é possível aprender a reconhecer as letras por sua grafia e associá-las a um fonema, os sentimentos também podem ser identificados e atrelados a determinados comportamentos. Basta saber interpretar as reações que as emoções provocam em nós: lágrimas de tristeza, sorriso largo de alegria, mãos inquietas de ansiedade, a voz que se eleva na hora da raiva. Nossas expressões faciais, gestos, tom de voz e as palavras que usamos refletem o que sentimos. Mas a alfabetização emocional não se limita a decifrar esses sinais. “O conceito inclui saber comunicar os próprios sentimentos de forma adequada e produtiva, perceber que as emoções influenciam as nossas decisões diárias e refletir constantemente sobre como nos sentimos em diferentes situações”, explica a psicoterapeuta Fernanda Furia, fundadora da consultoria em Psicologia e Educação Playground da Inovação e mestre em Psicologia de Crianças e Adolescentes pela University College London (Inglaterra).

GANHOS PARA A VIDA TODA

Ao adquirir esse controle sobre as emoções, podemos tomar decisões mais saudáveis e conscientes, sem agir por impulso. “Toda vez que uma circunstância desperta a sua raiva e você responde a esse sentimento agressivo com outra agressão, perde o controle das suas emoções. Com a alfabetização emocional, que leva à educação dos sentimentos, a criança aprende a relevar, começa a pensar que a pessoa que lhe ofendeu talvez não esteja em um bom momento e adquire o controle de suas reações”, diz o educador Celso Antunes, autor de diversos livros sobre educação, com tradução para vários idiomas, como Educar em um Mundo Interconectado – Um Livro para Pais e Professores (Editora Vozes).

Em longo prazo, a alfabetização emocional pode trazer ao seu filho o que se chama de inteligência emocional, que nada mais é do que a habilidade de lidar com seus próprios sentimentos e com os de outras pessoas. Essa capacidade tem sido cada vez mais valorizada tanto no mercado de trabalho como na própria vida escolar. Uma pesquisa feita pelas Universidades Penn State e Duke (EUA), e publicada no periódico American Journal of Public Health, encontrou uma conexão entre as habilidades socioemocionais durante a infância e o sucesso na vida adulta. Os pesquisadores acompanharam 800 indivíduos, primeiro durante a educação infantil, depois aos 25 anos. A avaliação mostrou que aqueles que, quando criança, já demonstravam mais disposição para ajudar e compartilhar, na vida adulta tinham mais chances de ter se formado e conquistado um emprego em período integral. Em compensação, aqueles que, quando pequenos, apresentavam dificuldades na resolução de conflitos, em dividir e em ouvir outras crianças tinham na vida adulta menor probabilidade de ter concluído a faculdade ou o colégio, maior propensão ao abuso de substâncias ilícitas e a ter problemas com a Justiça. Esse e vários outros estudos comprovam o que professores e empregadores já percebem na prática: não basta ter conhecimento técnico, bom raciocínio e uma formação sólida. No mundo de hoje é imprescindível saber se relacionar com as pessoas.

Talvez, o maior ganho que a alfabetização emocional pode proporcionar seja o crescimento do seu filho enquanto ser humano. “A criança que entende melhor sobre o seu próprio mundo emocional tem uma chance maior de ser ela mesma. E isso tem várias implicações positivas”, afirma Fernanda. Crianças que dominam seus sentimentos tendem a reagir menos intensamente às frustrações, desenvolvem uma autoestima maior, entendem melhor os comportamentos das outras crianças, se comunicam com mais clareza, estabelecem relações mais amorosas e colaboram mais com as pessoas à sua volta. Em última instância, a alfabetização emocional também atua na promoção da saúde mental, um termo usado para descrever o estado de bem-estar no qual um indivíduo consegue se desenvolver de maneira plena utilizando suas próprias capacidades. “A educação das emoções serve indiretamente como ferramenta para evitar comportamentos autodestrutivos, porque torna o indivíduo mais forte e equilibrado para fazer boas escolhas”, diz Tânia Paris, presidente da Associação pela Saúde Emocional das Crianças (Asec), de São Paulo.

TÁ DOENDO, SIM!

Muitas vezes, para proteger a criança do sofrimento, os pais tentam minimizar aquilo que ela está sentindo. Mas isso não funciona. A criança só entende que está sendo compreendida se percebe que tem espaço para encarar o que sente. “Uma coisa é identificar o que gerou o sentimento, outra é o sentimento em si. Se ela quebrou um brinquedo, pode ficar profundamente triste. Um adulto pode olhar e pensar: ‘É só um brinquedo’, mas para a criança, isso significa muito. Por isso, os pais precisam fazer um exercício de separar a causa do sentimento em si”, diz Tânia.

Em vez de dizer: “Não precisa ficar bravo. É só um carrinho”, fale: “Que pena, você gostava desse brinquedo, né?”, abrindo espaço para que seu filho se manifeste. “O pai e a mãe devem ajudar a criança a colocar um nome para o que sente. Fazendo isso com naturalidade, ensinamos que os sentimentos são genuínos”, completa Tânia. E esse processo pode começar muito antes que a criança tenha pronunciado as primeiras palavras. Tânia, que já é avó, cita o exemplo de seu neto: “Quando ele era muito pequeno, minha filha colocou na geladeira um monte de carinhas. Ele mal sabia falar, mas, quando ficava com raiva, dizia do jeitinho dele: ‘Eu vou para a geladeira’. Chegando lá, apontava a cara que mais tinha a ver com o que sentia. É simples, mas eficaz”, conta. Vale lembrar que é fundamental manter o contato visual com as crianças desde que são bebês, porque é assim que aprendem a ler as expressões.

Outro ponto importante, segundo Fernanda, é ajudar a criança a fazer a ligação entre o que ela sente e o que faz. “Me dei conta de que, quando você está feliz e animada, gosta de pular.” “Estou vendo que você grita muito quando está com raiva.” “Criando um contexto favorável, o bebê e a criança pequena terão espaço para demonstrar as suas emoções, mais livremente e sem julgamentos”, diz a psicoterapeuta. É claro que isso não quer dizer permitir que seu filho jogue coisas no chão ou agrida alguém. Mas tudo bem admitir que dá vontade de fazer isso vez ou outra. “As crianças, principalmente as menores, não têm muito vocabulário para falar de emoções. Suas reações são mais motoras, físicas. Por isso, empurram o colega que as aborreceu ou se jogam no chão quando estão frustradas”, diz a orientadora educacional Dulce Silveira, da Escola Nossa Senhora da Misericórdia (RJ). Com isso em mente, em vez de recriminar seu filho pela reação que ele teve, mostre que você o entende. Use frases como “o papai também tem vontade de se esconder quando está com medo”. Se colocar nessas situações ajuda a criança a se acalmar e a entender que as outras pessoas passam pelo mesmo que ela. E que não há nada de errado com isso.

Lembre-se de que todo sentimento oferece ao seu filho a chance de aprender algo, mesmo que nem sempre pareça positivo à primeira vista (e que você fique com o coração apertado). A própria neurociência não coloca mais emoções como raiva e medo sob o rótulo de “destrutivas”. Elas são chamadas agora de “emoções defensivas”, por serem desencadeadas como um mecanismo de autopreservação frente a uma situação adversa. Mesmo provocando certo mal-estar, elas podem ensinar muito ao seu filho. Coragem sem medo vira imprudência. Assim como tranquilidade sem uma pitada de raiva pode se transformar em passividade.

SENSAÇÕES TRANSITÓRIAS

A grande chave é mostrar à criança que, além de ser normal ser tomado de vez em quando por sentimentos que não provocam sensações agradáveis, eles são transitórios. Aquela impressão ruim não vai durar para sempre. Relembre um episódio que aconteceu com ele ressaltando como tudo se resolveu depois. Mas saiba que não adianta dizer ao seu filho para não ter medo quando estiver assustado e tremendo. Nem ensiná-lo a lidar com a frustração quando ele acaba de tirar uma nota baixa. É preciso manter  sempre um espaço aberto para que todos na família falem sobre suas emoções. Pergunte ao seu filho quais são os acontecimentos que o deixaram feliz no dia e os que não foram tão bacanas assim, e conte sobre você.

Sim, você! Aprender a lidar com os próprios sentimentos não é uma lição exclusiva para os pequenos: precisa também fazer parte do processo de amadurecimento dos pais. “Da mesma maneira que não é recomendado minimizar os sentimentos das crianças, não dá para negar os nossos. É fundamental que o pai e a mãe se sintam seres humanos e não super-heróis”, alerta Tânia. Isso quer dizer que esse movimento de reconhecimento das emoções deve acontecer nos dois sentidos: dos pais para a criança, mas também dela para aos pais. “Alfabetização emocional é também aplicar esse conhecimento sobre os sentimentos para melhorar a relação com o próximo”, completa Fernanda. É assim que seu filho vai começar a desenvolver a empatia. Demonstre que você tem dias ruins, perde a paciência, tem vontade de gritar, mas que é possível se acalmar e assumir o controle das emoções, em vez de ser controlado por elas. Esse embate entre cabeça e coração, razão e emoção, é uma questão que seu filho terá que aprender a balancear pelo resto da vida. Mas com a sua ajuda, ele pode estar mais bem preparado e confiante. Afinal, não há como controlar os sentimentos, mas é possível encontrar uma forma mais leve de lidar com eles.

 (Foto: Sam Edwards/Getty Images)

(Foto: Sam Edwards/Getty Images)

CADA ETAPA, UM APRENDIZADO

“A base da alfabetização emocional, assim como de todo processo de educação, é transformar o instinto em racionalização para alcançar o domínio do processo”, diz Celso Antunes. Veja como funciona cada passo:

1. Identificação — A primeira tarefa é ajudar seu filho a reconhecer o que está sentindo. É preciso identificar qual é a emoção que está causando as sensações que o incomodam, para saber como lidar. É claro que esse é um processo que precisa ser refinado ao longo do tempo. Uma criança pequena dificilmente saberá distinguir entre frustração, ciúme ou orgulho. Por isso, cabe aos pais e cuidadores irem apontando os nomes corretos, para que ela se familiarize com eles e saiba reconhecer a forma como se manifestam.

2. Expressão — Uma vez que a criança consegue dar um nome ao que sente, é hora de ajudá-la a encontrar ferramentas para manifestar essa emoção de forma saudável. E há muitas formas de fazer isso. Dos esportes às artes, ofereça possibilidades para que o seu filho consiga canalizar essa energia que o sentimento desperta para outras atividades.

3. Controle — Sabendo qual é o sentimento que tomou conta de si e tendo à mão recursos para manifestá-lo de forma saudável, a criança deixa de reagir tomada por impulso e assume as rédeas de seu comportamento. Isso faz com ela se torne mais autoconfiante e lide com as questões que aparecerem, na escola ou na família, de forma mais leve e tranquila.

 (Foto: Sam Edwards/Getty Images)

(Foto: Sam Edwards/Getty Images)

MAIS AMOR

O grande problema na sociedade em que vivemos é que tanto crianças quanto adultos nem sempre encontram acolhimento para suas emoções.  Sentimentos considerados negativos, como raiva, medo, ciúme e a própria tristeza, parecem não ter espaço em um mundo onde as pessoas não podem desperdiçar o tempo e há um imperativo para ser feliz e bem-resolvido o tempo todo. Além disso, a questão de gênero naturalmente impõe alguns padrões sobre como meninos e meninas devem lidar com seus sentimentos. Enquanto eles são encorajados a reagir com a agressividade, elas são incentivadas ao choro e à melancolia, mas sem reação. E isso começa cedo. Uma pesquisa publicada no periódico Behavioral Neuroscience, da Associação Americana de Psicologia, constatou que pais de meninas respondem mais às demandas emocionais das filhas, quando elas choram ou chamam por eles, do que os pais de meninos fazem com seus filhos. Possivelmente, porque há uma tolerância maior aos sentimentos delas.

 (Foto: Artmarie/Getty Images)

(Foto: Artmarie/Getty Images)

ABC DOS SENTIMENTOS

Algumas escolas e educadores desenvolveram projetos inspiradores para colocar as emoções em foco dentro da sala de aula

Na Grécia Antiga, o filósofo Aristóteles já dizia que “educar a mente sem educar o coração não é educação”. Mas o que se vê na prática, séculos depois, é que, embora haja um esforço para ensinar uma criança a andar, falar, ler, escrever, somar, dividir, multiplicar e subtrair, os sentimentos não parecem estar na lista de prioridades do aprendizado. Felizmente, pesquisadores da infância do mundo todo estão se esforçando para colocar as emoções em pauta na escola.

A educadora canadense Mary Gordon foi uma das pioneiras nessa seara. Há 21 anos, ela desenvolveu em Toronto (Canadá) um projeto para trabalhar competências socioemocionais com famílias da escola onde lecionava, com o objetivo de diminuir os casos de agressão e violência. O foco do programa, batizado de Roots of Empathy (Raízes da Empatia, em tradução livre) é trabalhar a alfabetização emocional com crianças do ensino fundamental por meio da observação e da convivência com bebês. Funciona assim: uma mãe voluntária, com um bebê entre 2 e 4 meses, visita a escola cerca de nove vezes durante o ano. É por meio das reações do bebê que as crianças são encorajadas a reconhecer as emoções e a falar sobre elas: Será que ele chorou porque estava com fome ou frio? Fez uma careta de dor? Deu um sorriso porque está feliz em ficar perto da mãe? “Trazemos o vínculo entre mãe e filho para dentro da sala, porque percebemos que não há melhor professor para as crianças do que os pais e não há melhor jeito de ensinar do que pelo amor”, diz Mary. Desde sua fundação, o programa já atendeu mais de 800 mil crianças não só no Canadá, mas em outros países como Alemanha, Estados Unidos, Nova Zelândia, Inglaterra, Suíça e Costa Rica. “As crianças se sentem compreendidas quando suas emoções são levadas em conta. Se percebem que não serão acolhidas, deixam de procurar os pais quando têm problemas”, resume a educadora.

EUA E BRASIL

Nos Estados Unidos, a Universidade de Yale, uma das mais bem conceituadas do mundo, desenvolveu em seu Centro para a Inteligência Emocional uma metodologia destinada a ajudar as crianças a aprenderem sobre as suas emoções, que foi batizada de Ruler, um acrônimo para Recognizing emotions in self and others, Understanding the causes and consequences of emotions, Labeling emotions accurately, Expressing emotions appropriately and Regulating emotions effectively ou, em tradução livre: Reconhecendo as emoções em si e nos outros, Compreendendo as causas e consequências das emoções, Rotulando as emoções com precisão, Expressando emoções de forma adequada e Regulando as emoções de forma eficaz. As escolas que adotaram a metodologia, que integra os princípios da educação emocional ao cotidiano da sala de aula, relatam não apenas que o desempenho acadêmico dos alunos melhorou, mas que os casos de bullying diminuíram consideravelmente e a própria relação entre professores e alunos foi favorecida.

No Brasil, a Escola Nossa Senhora da Misericórdia (RJ) começou no ano passado um projeto-piloto de alfabetização emocional com crianças de 9 anos. A orientadora educacional da instituição, Dulce Silveira, mantinha desde a década de 1990 um trabalho que aliava meditação, relaxamento e contação de histórias como ferramentas para trabalhar as emoções. Em 2016 começou uma atividade com a artista plástica Livia Moura, que havia morado por quatro anos na Itália e visitado a Tailândia, locais onde teve a oportunidade de conhecer retiros budistas e entrar em contato com práticas de autoconhecimento e relaxamento. “Conheci muitas ferramentas que ajudam a lidar com o que sentimos e pensei quanto sofrimento poderia ter evitado a mim mesma se tivesse sido apresentada antes a esses recursos. Quis levá-los às crianças quando voltei ao Brasil”, conta.

SINAL VERDE

Livia realiza um trabalho de duas horas semanais dedicado aos sentimentos. Baseando-se em um exemplo idealizado pelo psicólogo Daniel Goleman, uma das referências no campo da neurociência e da inteligência emocional, ela desenvolveu o “semáforo das emoções”. Por meio das três cores, as crianças são convidadas a classificarem simbolicamente seus sentimentos e ações – são três cartazes colados na parede da sala, cada um correspondente a uma cor. O vermelho sinaliza os sentimentos defensivos, como raiva, medo, inveja, solidão, preguiça e ciúme.  A instrução nessa fase é observar e identificar a emoção sem julgamentos.

Quando o semáforo fica amarelo, a criança precisa encontrar algo que a ajude a se acalmar: desenhar, correr, pular, cantar. Cada um tem que buscar as suas próprias ferramentas. É o que Livia batizou de “reciclagem das emoções”. “A raiva e a criatividade, por exemplo, são dois lados da mesma energia, que pode destruir ou transformar. Reforço sempre com as crianças que existe a possibilidade de não reagir de uma forma violenta”, explica. E por último, quando está tudo verde, é hora de colocar em prática a atitude justa: buscar o diálogo com quem foi ofendido ou ofendeu, pedir desculpas, se for necessário. O verde é a hora da resolução. As crianças também mantêm um “diário de bordo da viagem ao universo das emoções”, um caderno aparentemente comum dedicado apenas ao registro cotidiano dos sentimentos. E, ainda este ano, cada uma vai publicar seu próprio livro, trazendo alguma situação que envolva a resolução de conflitos como foco. Para a orientadora Dulce, o trabalho tem ajudado a dar voz aos alunos. “Quando você consegue falar sobre o que sente,  já existe um distanciamento, uma reflexão. O inominável é impossível de se lidar”, reflete.

A Associação pela Saúde Emocional das Crianças (Asec) também realiza treinamentos para educadores, abordando fatores que contribuem com a promoção da saúde mental – e “sentimentos” é o primeiro módulo do programa. “Treinamos os professores como facilitadores. Eles devem oferecer à criança possibilidades para que ela mesma desenvolva ferramentas para saber o que a faz se sentir melhor quando um sentimento desagradável ou uma dificuldade aparece”, conta Tânia Paris, presidente da associação. Por meio de histórias com personagens que enfrentam situações de conflito, as crianças buscam soluções que acabam abrindo possibilidades para seus dilemas. “Quando perguntamos aos professores como o treinamento estava ajudando no desempenho das crianças, uma educadora disse que percebeu que os alunos estavam aprendendo a pedir ajuda. Para uma criança que está sendo constantemente motivada a ser autossuficiente e, de repente, descobre que pode pedir ajuda, é incrível. Isso torna o clima em sala de aula mais cooperativo do que competitivo”, diz Tânia.

Para Dulce, investir na conscientização sobre os sentimentos é uma aposta para uma sociedade melhor. “O que a gente fez além de educar a mente das pessoas? Eu quero ver educar é o coração. É disso que a gente precisa. Temos que socializar o ser humano integral dentro da escola”, reflete. Porém, para que mais práticas como essas se disseminem, é preciso que as próprias escolas não tratem da educação emocional apenas como uma adição ao conteúdo – já extenso – que as crianças precisam assimilar. E, sim, que haja uma mudança de paradigmas, para mostrar que as relações sociais e o autoconhecimento devem ser tão valorizados quanto o raciocínio lógico e o aprendizado da linguagem ou das ciências. Valores que você também deve repensar aí dentro da sua casa!