Elisama Santos - Entre laços

Por Elisama Santos

Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 9 anos, e Helena, 7. Autora do livro "Educação não violenta"

 


Eu nunca havia associado o luto à experiência de ter filhos. Cresci escutando que ter filhos é maravilhoso, que são só amor e essas coisas lindas que a gente diz e escuta tanto. Mas a vida tem me ensinado que há um luto constante em educar uma criança, que logo vira um adolescente e, de repente, vira um adulto. Todo dia morrem os filhos que idealizei, a mãe que idealizei, o pai que idealizei, a relação que idealizei. Todo santo dia a realidade se impõe, mais complexa, mais intensa, mais surpreendente. Hoje sou mãe de um menino de 10 anos e uma menina de 8 e, inevitavelmente, eu idealizo o menino de 11, de 12, de 13, a menina de 9, de 10, de 11. E todos os dias essas crianças me mostram que as idealizadas só existiram em minha mente.

"Todo dia morrem os filhos que idealizei, a mãe que idealizei, o pai que idealizei, a relação que idealizei" — Foto: Thinkstock
"Todo dia morrem os filhos que idealizei, a mãe que idealizei, o pai que idealizei, a relação que idealizei" — Foto: Thinkstock

Quando falo de luto e parentalidade, percebo um incômodo quase palpável nas pessoas. Que associação horrível, como ouso fazê-la? Acontece que o enlutamento não se dá apenas na morte, mas pela perda de algo significativo, importante. E há que se assumir a perda da idealização para abrir espaço para o que vai além dela, para o que é real e belo, em toda a sua complexidade. Ontem, durante a minha sessão de análise, dividi o luto por uma decisão que tomei em relação às crianças e que hoje se mostra insuficiente, inadequada. À época, era uma certeza absoluta. Deu lugar à dúvida, ao “será?”. Até que percebi que o melhor para as minhas crianças ideais nem sempre é o melhor para as minhas crianças reais.

Todo santo dia, a realidade se impõe, mais complexa, mais intensa, mais surpreendente
— Elisama Santos

Negar a nossa idealização tem um efeito nefasto na relação: a gente insiste em não ver quem está à nossa frente. Insiste em não conhecer o que é novo. Insiste em encaixar a criança real em uma fôrma que é apertada demais para ela. Que desperdício de energia, de tempo, de vida. Toda relação longeva atravessa inúmeras mortes e renascimentos. Inúmeros lutos e reconstruções. A gente precisa assumir a morte do ideal para acolher o possível com o respeito que ele merece.

Eu não seria capaz de idealizar a criança e o adolescente que hoje eu educo. Não seria capaz de imaginar a firmeza e a doçura de Helena, a impressionante capacidade que ela possui de olhar a realidade com olhos de amor e esperança. Eu não seria capaz, nem em meus maiores sonhos, de imaginar a gargalhada de Miguel – sem dúvidas, um dos meus sons preferidos no mundo. Não conseguiria desenhar um ser que equilibrasse força e delicadeza da forma que ele faz. Assumir que os meus filhos ideais não existem me liberta das certezas sobre eles, me presenteia com uma curiosidade única: quem são essas crianças? Quem é esse menino que adolesce tão rapidamente? Quem é essa menina que se transforma todos os dias?

Filhos são estranhos íntimos. A gente mal se conhece, como se ilude com tantas certezas sobre o outro? O que as suas idealizações te impedem de ver? Que lutos você se recusa a chorar e, por isso, obriga quem te cerca a negar a si mesmo? Que liberdade o seu medo do desconhecido te impede de viver?

Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 8 anos, e Helena, 6 (Foto: Divulgação) — Foto: Crescer
Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 8 anos, e Helena, 6 (Foto: Divulgação) — Foto: Crescer

Quer falar com a colunista? Escreva para: crescer@edglobo.com.br

Saiba como assinar a Crescer para ter acesso a nossos conteúdos exclusivos

Mais recente Próxima "Nasce uma mãe, nasce uma culpada"
Mais do Crescer

A empresária e modelo é mãe de quatro filhos: North, 11, Saint, 8, Chicago, 6, e Psalm, 5, que ela divide com o ex-marido Kanye West

Kim Kardashian revela a única coisa que faria diferente como mãe

A sequência chega aos cinemas em 6 de setembro

'Os Fantasmas Ainda Se Divertem' ganha novos pôsteres; veja

A mulher, que mora com os três filhos, ficou chocada ao se deparar com a barraca montada no quintal

Mãe se surpreende com desconhecido acampando em seu jardim

A mãe Caitlin Fladager compartilhou como ela beija o marido na frente dos filhos para "ensiná-los como o amor deve ser

"Sou criticada por beijar o meu marido na frente dos nossos filhos"

Além do baixo salário, as responsabilidades incluíam transportar as crianças, preparar refeições e manter a limpeza da casa. A babá também deveria estar disponível de domingo à noite até quinta-feira à noite e possuir carteira de motorista válida, veículo confiável, verificação de antecedentes limpa e certificação em Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) e primeiros socorros

Mãe é criticada por oferecer salário de 36 centavos por hora para babá nos EUA

Uma mulher criticou sua sogra por tentar ditar como sua filha será chamada. "Ela me manda de três a quatro mensagens por semana com sugestões de nomes", diz

"Minha sogra exige que eu dê o nome dela a minha filha"

A grávida teria se ofendido com a sua roupa

Mulher é expulsa do chá de bebê da melhor amiga e não entende o motivo

A pequena Maria Alice, de Curitiba (PR), viralizou nas redes sociais porque seus dentes nasceram "fora da ordem". Enquanto os dentinhos da frente são os primeiros para a maioria das crianças, no caso dela foram os superiores. "Começamos a chamá-la de vampirinha", brincou a mãe, em entrevista à CRESCER

"Bebê vampiro" faz sucesso nas redes sociais; veja fotos

Paige Hall, da Inglaterra, contou que tomava anticoncepcional, não teve crescimento da barriga e continuou tendo sangramentos regulares, por isso, nunca suspeitou da gestação. Saiba mais!

Adolescente descobre gravidez aos 9 meses e dá à luz no mesmo dia

O garotinho sonha me fazer um doutorado e se tornar professor. “Faça o que você faz porque gosta, por causa da paixão que sente ao descrever ou fazer”, disse. Conheça a história!

Menino prodígio de 12 anos se forma no Ensino Médio