• Mônica Pessanha
Atualizado em
Meninas se olhando no espelho (Foto: JGI / Jamie Grill / Getty Images)

Meninas se olhando no espelho (Foto: JGI / Jamie Grill / Getty Images)

Não sei se já falei aqui sobre como gosto de receber adolescentes no consultório. Principalmente aqueles que estão vivendo o início dessa fase tão bonita e, ao mesmo tempo, desafiadora. Dar conta de tudo o que acontece em seu corpo e o fato de não estar mais inscrito na infância e nem adultez, é fonte de grande angústia.

+ Fórum Crescer: compartilhe suas experiências e dúvidas com outros pais e mães 

Lembro-me de que uma vez  em que, conversando com um adolescente de 14 anos sobre tudo de novo que adolescência traz, ele me fez a seguinte pergunta: “E se eu crescer e me tornar uma pessoa comum?” Posso dizer que a pergunta não me pegou de surpresa, afinal, o medo que ele expressou por meio dela - de que ele talvez não seja tão excepcional assim - é algo que vejo com frequência em meu trabalho como psicanalista. De alguma forma, aquele adolescente e muitos outros que conheci, equiparavam a autoestima a ser uma pessoa impressionante. Alguém que seja popular e consiga realizações incríveis em sua vida.

Frequentemente ouço de pais que seus filhos lutam com baixa autoestima. Ainda que seus filhos possam parecer, de alguma forma, confiantes, eles estão sofrendo por causa de sua preocupação implacável em julgar a si mesmos. Os pais se preocupam quando veem seus filhos chorando por causa de uma nota menos do que perfeita, preocupados porque algo que eles disseram possa parecer estranho, evitando freneticamente qualquer situação em que eles possam não se destacar instantaneamente ou criticando-se violentamente quando eles ficam aquém de alguma forma.

Esses pais, felizmente, estão percebendo a vulnerabilidade da autoestima de seus filhos. São sujeitos que entraram em uma rotina interminável de ter que provar constantemente seu valor por meio de realizações ou outros sinais de aprovação externa. Isso torna qualquer pessoa, mas sobretudo crianças e adolescentes, terrivelmente vulneráveis. Se eles lutam para aprender algo, cometem um erro, experimentam um revés ou apenas encontram alguém que tem um desempenho melhor do que o deles, eles sentem-se desesperadamente falhos.

Mensagens culturais que as crianças e adolescentes absorvem, sobre serem excelentes em tudo e ter uma boa aparência, de acordo com aquilo que é socialmente desejável, aumentam a pressão para o desempenho. Quando nossos filhos inevitavelmente ficam aquém da perfeição, eles podem se sentir esmagados pela vergonha e desistir ou se esforçar tanto que não encontram alegria em suas vidas. Tentar ser “incrível” pode levá-los a buscar aplausos ou esconder falhas, em vez de agir com integridade e autenticidade. E, dessa forma, sua autoestima se torna frágil, construída sobre uma base instável de autofoco e autopromoção.

Mas como podemos ajudar essas crianças a lidar com isso?

Os pais muitas vezes respondem aos filhos, que duvidam de si mesmos, tentando tranquilizá-los de que são maravilhosos. Em um passado não muito distante, muitos terapeutas recomendavam aumentar a autoestima da criança por meio do elogio. Mas desde então aprendemos que esse método pode sair pela culatra, afinal dependendo da forma como o fazemos, pode levar a criança a criar uma falsa impressão de si mesma, valorizando-se demais e subestimando os outros.

Acho que devemos caminhar por uma outra via. Penso que a chave para promover uma autoestima saudável não é tentar convencer a criança ou o adolescente de que eles são maravilhosos. Em vez disso, devemos ajudá-los a entender que a autoestima se refere à aceitação de nós mesmo como somos, com nossas qualidades e falhas. Dessa forma ajudamos nossos filhos a suavizar o autojulgamento severo. Mas isso só funciona quando eles conseguem se conectar com algo maior do que eles.

Pode parecer contraintuitivo, mas - em vez de mais amor-próprio - a resposta para crianças e adolescentes com uma autocrítica exacerbada é reduzir o autofoco. Ao fazer isso, a criança aprende a diminuir o volume do ego para poder ouvir os outros e também a si mesma, em um esforço para abordar a vida de forma mais humana e compassiva. Desligar o autofoco dá à criança e ao adolescente algum espaço para respirar. Isso não significa que eles terão que se rebaixar, o que é uma forma de autofoco. Muito pelo contrário, é uma espécie de esquecimento de si mesmo ao reconhecer que somos apenas uma parte do universo maior e, definitivamente, não o centro dele!

Embora alguns acreditem que as crianças são muito imaturas ou naturalmente autocentradas para passar por esse processo, eu discordo. Pense na última vez em que você viu seu filho rir com um amigo ou se envolver em um projeto – sobretudo um que cujo objetivo fosse ajudar outras pessoas. Esse tipo de experiência dá às crianças um gostinho de como é não ter vergonha. Como pais, podemos ajudá-las a expandir essa experiência, para que seja mais fácil para abandonarem a autoavaliação constante e melhor desenvolver a confiança.

Assine Crescer a partir de R$ 4,90/mês

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

 (Foto: Arquivo pessoal)

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos.

+ Gostou da nossa matéria? Clique aqui para assinar a nossa newsletter e receba mais conteúdos. 

+ Você já curtiu Crescer no Facebook?

+ Acompanha o conteúdo de Crescer? Agora você pode ler as edições e matérias exclusivas no Globo Mais, o app com conteúdo para todos os momentos do seu dia. Baixe agora!