Monica Pessanha

Por Mônica Pessanha

É psicanalista de crianças, adolescentes e mães. Coautora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de dois, um que virou “estrelinha" e de Melissa, 13 anos

 


Sempre recebo mães em meu consultório para análise. As queixas são as mais variadas. Lembro-me de uma, em especial, que chegou reclamando que andava muito cansada. Disse-me que podia se lembrar vividamente da última vez em que se sentia verdadeiramente descansada. Falou-me de como, quando mais jovem, iniciou uma tradição com a sua família de dormir às 22h e acordar às 6h para correr. Depois de quinze dias de oito horas de sono por noite, sentia que seu corpo estava descansado. Acontece que quinze anos haviam transcorrido entre o início dessa tradição e aquela consulta.

Vida real: ser mãe é exaustivo — Foto: Crescer
Vida real: ser mãe é exaustivo — Foto: Crescer

É claro que estar cansado antes dos filhos e estar cansado depois de sua chegada são duas situações completamente diferentes. Antes dos filhos, o cansaço era quase uma insígnia de orgulho e possuía significados diferentes. Ele significava que você tinha ficado acordada até tarde, aproveitando a noite com os amigos ou em um show com seu namorado. Significava que você tinha acordado cedo para participar de uma aula de spinning antes de correr para o trabalho, com os cabelos ainda úmidos do banho, para uma reunião matinal. Assim, estar cansada significava que você geralmente se matava para dar conta de tantas atividades diárias, com a diferença de que ainda era bem jovem, ou o suficiente para que, com um pouco de corretivo, pudesse fazer com que a aparência de cansaço sumisse do seu rosto.

Depois que os filhos nascem, estar cansada toma outros significados bem diferentes do da vida sem eles. Agora, estar cansada significa que, ainda que não tenha ido dormir tão tarde, você vai para cama exausta. Talvez você até tenha dormido a noite inteira, mas ainda estará exausta. Você pode não ter se exercitado ou feito esforço físico por semanas, mas ainda se sentirá cansada. E ficar fora até tarde, curtindo a noite com suas amigas? (Quero dizer... isso é a vida real? Já existiu?) Não, você não fez isso. Mas - adivinhou! - ainda está exausta. Provavelmente, você já deve ter dito para seu companheiro que se pudesse dormiria por uns cinco dias direto, se sentiria mais descansada. Considerando que uma mãe perde em média quase dois meses de sono no primeiro ano de vida de seu filho, essa confissão, esse desejo não é algo desmerecido.

É exaustivo sempre colocar as necessidades de outra pessoa acima das suas. Você faz isso de diferentes formas e, às vezes, sem perceber. Quantas vezes você não se pega dando comida para sua filha e deixando de comer pelo simples fato de saber que a refeição é mais importante para uma criança do que para um adulto? Ou você sacrifica sua própria soneca para ficar com seu filho em um sofá não muito confortável, porque isso significa que ele vai dormir mais 30 minutos? Ou você decide pegá-lo no colo e subir alguns lances de escada, coisa que ele é perfeitamente capaz de fazer sozinho, mas você faz isso seja porque ele está cansado ou porque é mais rápido do que pedir para que ele se apresse o tempo todo?

Dessa forma, as mães costumam terminar o dia cansadas, chocadas com o esforço físico necessário para apenas manter viva uma pequena pessoa.

É exaustivo atender tantas demandas. A carga mental é real e, às vezes, causa nelas a sensação de estarem sendo esmagadas. E o pior, quando essa mãe larga um dos mil pratos que estava tentando equilibrar, acaba se entregando à culpa de achar que falhou em sua responsabilidade.

É cansativo não dormir o suficiente. A lacuna do sono não termina após o primeiro ano do bebê. E para ter um tempo para si, as mães acabam indo dormir muito tarde. E quando vão se deitar, aparece uma outra batalha: a de tentar desligar o próprio cérebro. Isso quando, no meio da madrugada, a criança não acorda por causa de um pesadelo precisando ser acalentada.

É cansativo manter qualquer outro relacionamento enquanto mãe. Geralmente, tenta-se não negligenciar o casamento nem as amizades. Tenta-se arrumar tempo para uma interação amigável com os colegas de trabalho. Tenta-se manter todas essas conexões vivas e nutridas, mas o fato é que, em alguns dias, você se sente esgotada.

Claro que você precisa lembrar que esta é apenas uma fase da vida e, sim, é a mais exaustiva. Pelo menos, enquanto eles crescem. Um dia, não tão distante, seus filhos estarão um pouco mais crescidos e poderão tomar seu próprio café da manhã. Um dia, eles realmente vão querer dormir e você vai poder abrir as cortinas e as janelas do seu quarto para começar seu dia (talvez antes deles).

Se você se sente muito sobrecarregada, não pense duas vezes antes de buscar ajuda. Talvez esses sintomas estejam ligados à síndrome de burnout, que é basicamente um estresse agudo ou crônico que aparece quando as mães têm a sensação de que tudo transborda. Às vezes, para parar esse fluxo é preciso que alguém escute esse cansaço e atue nos espaços para ajudar na rotina e na sensação avassaladora de ter que controlar tudo.

Lembre-se: um dia seus filhos sempre vão subir e descer as escadas sozinhos e você poderá tirar uma soneca sem ter certeza de que estão dormindo ou com uma babá. Um dia, eles não vão precisar que você lembre a eles de todas as coisas, porque as grandes lições já terão sido ensinadas.

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro 'Criando filhos para a vida'. É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Crescer
Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro 'Criando filhos para a vida'. É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Crescer

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