Monica Pessanha

Por Mônica Pessanha

É psicanalista de crianças, adolescentes e mães. Coautora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de dois, um que virou “estrelinha" e de Melissa, 13 anos

 


Com certa frequência, recebo mensagens de pais que ficam preocupados com o fato de seus filhos, durante um acesso de birra – geralmente porque alguma coisa lhe foi negada –, baterem a cabeça no chão, morderem a si mesmos e terem outros comportamentos que podem machucá-los. A maioria quer saber se esse comportamento é normal e como eles devem agir. Essa é uma questão um pouco delicada porque o que acontece é: uma criança que está no meio de uma birra e só tem esse impulso de bater a cabeça no chão ou em alguma coisa ou de se morder, na verdade, está seguindo uma resposta orgânica. Principalmente se estivermos falando de crianças entre os 2 e 4 anos de idade. Mas, nessas situações, são nossas emoções e nossa reação como pais que realmente importam.

Como reagir quando seu filho tem um ataque de birra? — Foto: Crescer
Como reagir quando seu filho tem um ataque de birra? — Foto: Crescer

É claro que, nesse momento, ficamos preocupados e, muitas vezes, aflitos. Somos humanos estamos diante de um filho com um comportamento que pode levá-lo a se machucar. Isso é um pouco assustador, principalmente para pais de primeira viagem. A tendência, nesse momento é que o adulto faça tentativas de persuadir a criança a parar por meio de palavras. Compreensível, mas não eficaz. É justamente a forma como respondemos a essas situações que agravam o problema. Ou seja, a sua reação acaba influenciando o seu filho a querer repetir o que notou 'ao acionar o botão' das emoções dos pais. Estamos fundindo a situação e temos a tendência de tornar nossa qualquer emoção que a criança esteja sentindo.

As criança são aprendizes incríveis. Elas são profundamente compelidas a descobrir coisas, especialmente sobre seus pais. “O que os faz funcionar? O que está acontecendo? O que causa uma reação neles? Por que eles perdem a calma às vezes, quando estou apenas fazendo algo impulsivo?”

Então, tendem explorar isso. As crianças podem ainda estar em um acesso de raiva, mas agora existe esse elemento adicional para o qual elas vão nos atrair, por meio de seu comportamento. Obviamente, é aí que não queremos chegar, porque é nesse lugar que o comportamento natural e agressivo de uma criança pode se tornar mais perigoso. Por si só, esse tipo de comportamento de colapso não tende a causar danos graves. As crianças não vão se ferir intencionalmente. É preciso ter em mente que elas agem dessa forma muito mais porque querem se conectar com algo, sentir algo, do que atacar ou machucar alguém ou se machucar.

Mas quando nos envolvemos, isso pode ultrapassar esses limites. Obviamente, essa é a última coisa que queremos que aconteça. Então, temos este trabalho muito desafiador de não apenas confiar que sentimentos, a birra, o colapso e a frustração vão produzir aprendizado, mas também confiar na maneira como eles se manifestam; tendo em mente de que é algo importante para nossos filhos experimentarem. Veja: não se trata de deixar a criança fazer o que bem entende, sem nenhuma intervenção. É claro que precisamos ser capazes de bloquear um comportamento prejudicial, quando ele vêm contra nós ou quando vai machucar a criança.

Seremos sempre capazes de colocar a mão e dizer: “Sim, você quer me bater agora. Que coisa!" Ou se a criança está realmente no meio de uma tempestade de birra, a melhor coisa é não dizer nada, mas apenas deixar que isso seja o nosso subtexto. Se a criança fizer contato visual, acenamos com a cabeça, usamos a mão facilmente para parar o que quer que esteja acontecendo.

Se, nesse momento, a raiva da criança se dirige a ela mesma, ainda assim temos que confiar. Não podemos ficar com medo. No entanto, quando isso acontece, a maioria de nós quer parar essa carga de emoção que toma conta da criança, principalmente se ela estiver gerando um comportamento que nos deixa assustados ou envergonhados. Mas, novamente, quando tentamos parar essa carga emocional e não permitimos que a criança a experimente, isso vai fazer com que esse comportamento se torne mais frequente. Portanto, temos que ver as coisas por uma outra perspectiva, com confiança. E depois que tivermos essa atitude de confiança, há algumas coisas que podemos fazer. Mas precisa ser de um lugar tranquilo.

Em outras palavras, numa situação em que a criança está se mordendo, por exemplo, você pode dizer: “Ah, você quer se morder. Aqui tem algo que você pode morder.” Então oferecemos um anel de dentição ou algo assim. Nesse caso, não estamos tentando sair daquela situação o mais rápido possível. Estamos apenas oferecendo uma sugestão. É o melhor que podemos fazer. Nisso, temos boas chances de que nosso filho nos aceite, aceite nosso gesto e não precise continuar a usar seu comportamento como estratégia contra nós.

Agora, vamos fazer de conta que seu filho está batendo a cabeça no chão e digamos que ele nem olha para você. Nesse caso, eu não diria nada, a não ser que ele estivesse me olhando. Eu pegaria um travesseiro fino ou algo assim – se a situação me permitisse, obviamente – e colocaria embaixo da cabeça do meu filho, enquanto ele tenta sair dessa tormenta de emoções. Veja que em nenhum momento, estou tentando parar a emoção, mas encorajando-o a tentar se autorregular, a desabafar, porque sei que isso precisa acontecer. É a melhor coisa a fazer. Meu papel é oferecer pequenas sugestões, apenas para tornar as coisas mais seguras.

É isso que cria resiliência e, eventualmente, as crianças passam a ter mais autocontrole. O que podemos fazer é oferecer segurança e confiança e a mensagem de que “tudo bem para você sentir o que está sentindo. Eu quero que você faça isso. Não quero que você tente afastar isso de você, guardar para si ou fazer com que pareça diferente. Estou aqui apenas para me certificar de que você não se machuque e nem machuque a ninguém."

Entendo que esse conselho não é algo fácil de seguir. É uma atitude. Mas se há algo que pode resumir - de certo modo - tudo isso que tentei trazer é o fato de que precisamos entender que nosso papel nessas situações é mais como terapeuta, com o compromisso ético da escuta – daquilo que está sendo dito e do que não está - e que deixa espaço para expressão de sentimentos.

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro 'Criando filhos para a vida'. É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Crescer
Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro 'Criando filhos para a vida'. É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos (Foto: Arquivo Pessoal) — Foto: Crescer

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