Cultura

É com entusiamo e energia vital de sobra que Lenny Kravitz dá bom dia, com a câmera ligada, diretamente do seu apartamento em Paris, na França. A videochamada com a GQ Brasil é para falar sobre a maré boa e, diga-se de passagem, agitada, que o músico norte-americano tem vivido nos últimos tempos.

A começar pelo aniversário de 60 anos, que serão completados no próximo domingo (26), e condecorados com o 12º disco da carreira, Blue Electric Light. O álbum chega em todas as plataformas nesta sexta-feira (24). Uma turnê para promover o novo som também está a caminho – a capital francesa tem sido o endereço dos ensaios – e o astro roqueiro também é a atração principal da final da Liga dos Campeões, que acontece no próximo dia 1º de junho.

As novidades são mesmo numerosas. Mas, o ponto de partida da conversa com Kravitz não poderia ser outro, se não a sua ligação íntima e curiosa com o Brasil. Uma afeição tamanha, que soa até pouco usual para alguém que nasceu no Brooklyn, em Nova Iorque, e cresceu nos badalos de Los Angeles, Califórnia.

"Sim, sinto falta daí", diz ele em tom de confissão, nos primeiros instantes da entrevista. "A última vez que estive aí foi antes da pandemia. Não vejo a hora de voltar com a turnê e também para curtir um tempo na minha 'fazenda'", afirma, arranhando o português na última palavra da sentença.

Quase brasileiro

Última vez que Lenny Kravitz veio ao Brasil foi em 2019 para o festival de música Lollapalooza, em São Paulo — Foto: Mark Seliger
Última vez que Lenny Kravitz veio ao Brasil foi em 2019 para o festival de música Lollapalooza, em São Paulo — Foto: Mark Seliger

Apaixonado e bem-relacionado com a "cultura, arquitetura e o povo" (ele cita estes três pilares), quando desembarca em solo brasileiro nem precisa se hospedar em hotel, pois tem uma residência para chamar de sua. Em 2007, o artista adquiriu uma propriedade rural em Duas Caras, município no Rio de Janeiro. Seu refúgio brasileiro só perde para Bahamas, onde passa a maior parte do tempo livre e é capaz de acessar a genética caribenha provinda da família materna.

A minha fazenda no Rio é um lugar mágico, com uma energia maravilhosa. Já fiquei 6 meses consecutivos lá e quase não voltei. Quase me aposentei para virar um fazendeiro [risos]. Mas eu amo muito fazer música e sou atraído por esse estilo de vida."
— Lenny Kravitz

Fã declarado de Bossa Nova e da dupla dinâmica Gil e Caetano, Kravitz sonha um dia produzir um álbum inteiramente brasileiro, gravado na própria casa – esta que se encontra disponível para alugar no Airbnb com diárias de R$ 18 mil. "Tenho convicção que um disco espera por mim. Sei que vai ser diferente, profundo e espiritual. Ainda não sei quem vai participar, preciso esperar o espírito criativo me dizer. Só faço o que escuto, não planejo nada. A música simplesmente vem até mim." Ele pensa em um período de um ano para colocar o projeto de pé, mas só "quando tiver esse tempo sobrando."

Apesar de evitar dar nomes, o artista simpatiza com Seu Jorge e Anitta. A última vez que esteve em São Paulo, em 2019, disse à GQ Brasil que adoraria trabalhar com a cantora carioca. Atualmente, desconversa sobre a ideia. "A encontrei uns meses atrás em uma festa. Mas não sei, eu deixo as coisas fluírem naturalmente. Temos amigos em comum, então a conheço, mas prefiro deixar a vida me levar. Veremos."

Já a amizade com Seu Jorge surgiu graças à filha Zoë Kravitz, fruto do casamento com a ex Lisa Bonet. "Ela o adora, era o sonho dela conhecê-lo", conta. A única herdeira do músico casou-se em junho de 2019 e a ocasião foi prestigiada com um show acústico e particular do cantor brasileiro.

"Ele nos deu esse presente maravilhoso no casamento da minha filha. Pude conhecer o ser humano incrível que ele é. Uma alma linda e uma voz inacreditável. Agora nos conhecemos e eu o considero da família e faria qualquer coisa por ele", afirma, eufórico.

Disco eletrizante

Lenny Kravitz coloco no mundo o seu 12º álbum de estúdio 'Blue Electric Light' — Foto: Mark Seliger
Lenny Kravitz coloco no mundo o seu 12º álbum de estúdio 'Blue Electric Light' — Foto: Mark Seliger

Em 43 anos de carreira, Lenny Kravitz nunca "sentiu-se tão inspirado e motivado" como agora. Ele afirma que encara o novo álbum como um "novo capítulo lindo de sua vida". Está no melhor momento em todos os âmbitos: mentalmente, espiritualmente e fisicamente.

Rodeado por inspirações divinas, estas que "chegam até ele" durante o processo criativo, o astro não sabe dizer exatamente de onde tirou a ideia para o Blue Electric Light, o primeiro álbum de estúdio desde Raise Vibration (2018). Grande parte do disco fora feita durante os anos pandêmicos, mas a conclusão só aconteceu recentemente – ele explica que a música-título foi uma das últimas a entrar na obra.

"Sabia que desejava escrever algo com esse nome. Depois que gravei a música, o Craig Ross, meu guitarrista e engenheiro de som há abençoados 30 anos, disse que este deveria ser o título. Tudo fez sentido", conta.

O músico acredita que "não existe algo mais poderoso do que viver a sua autenticidade" e realmente prova esta tese mesmo após quatro décadas na estrada. Sobre o aprendizado que leva até aqui, ele ressalta a tranquilidade antes das apresentações.

Não tenho um grande ritual. Sou muito calmo e gosto de ficar em silêncio. Aprendi a ser mais calmo com a maturidade. Mas também consigo ser muito intenso."
— Lenny Kravitz

Idade não é documento

Lenny Kravitz é vegano e regrado com sua alimentação: não ingere fast food e industrializados — Foto: Mark Seliger
Lenny Kravitz é vegano e regrado com sua alimentação: não ingere fast food e industrializados — Foto: Mark Seliger

A idade também trouxe algo além dos anos de experiência no showbusiness. Isto é: a chancela de galã do rock. A prova disso são os vídeos do artista malhando sem camisa, publicados em seu perfil do Instagram.

Com um físico escultural, Kravitz é discreto quando diz respeito à autoimagem. Afirma que segue uma dieta vegana e faz o seu melhor para alimentar-se saudável, apenas com orgânicos. "Não sou de comer muita porcaria", diz sobre industrializados e fast food.

"Faço muitos treinos para manter o meu corpo em forma e jovem (...) Minha rotina depende de onde estou", comenta. Quando está em sua residência em Bahamas, o exercício físico incluí um mergulho no mar durante as manhãs. Já no Brasil, gosta de andar a cavalo e se perder na abundância de frutas frescas. "Água de coco, manga e maracujá" são as suas favoritas – todas pronunciadas por ele em português.

Sobre os vídeos de treino que fazem sucesso nas redes sociais, o que mais chama atenção é a roupa usada por Kravitz para malhar: sempre uma calça jeans ou couro, de cintura-baixa. Questionado porque deixa roupas de ginástica de lado, ele diz que simplesmente não se importa com isso.

Às vezes tenho que malhar na hora que dá para malhar. Se estou na rua e vou direto para academia, vou malhar não importa como. Fiquei sabendo [dos comentários]. Não leio todos, mas os que leio me divertido muito. Não imaginava que 'quebraria a internet' com esses vídeos."
— Lenny Kravitz

Um verdadeiro ícone fashion

Lenny Kravitz gosta de usar os acessórios herdados da mãe Roxie Roker — Foto: Mark Seliger
Lenny Kravitz gosta de usar os acessórios herdados da mãe Roxie Roker — Foto: Mark Seliger

Além das calças justas e regatas transparentes, que tornam seu estilo autêntico e implacável, Lenny Kravitz é vidrado em óculos de sol. Quando este tópico é abordado, ele faz questão de dar uma visão privilegiada: levanta rapidamente a armação.

"Bom, tenho centenas e centenas de óculos. São muitos mesmos, desde os vintages até os mais modernos", diz o artista, que já perdeu a conta da sua coleção. "Acontece que tenho sensibilidade à luz clara. De noite, na minha casa, fico apenas à luz de velas", revela sobre o uso frequente.

Além de rock-star, o músico é um fashionista nato. Legado que herdou da mãe, a atriz Roxie Roker, influente em Hollywood. "Sempre fui o garotinho da mamãe [risos]. Cresci cercado por mulheres negras incríveis e celebro isso através da moda. Gosto de brincar com o guarda-roupa dela. Uso seus cintos, chapéus e botas. É outra forma de se expressar, de se comportar... Hum, então, sim, é divertido."

Ser considerado um sexy symbol no auge dos 60 anos é para poucos. Mas para o músico, não é isso que brilha os seus olhos. "Não penso nisso. Só estou tentando fazer o meu lance, mas não penso: 'Oh, isso é sexy'. Nem pensar. De jeito nenhum", enfatiza.

Com uma personalidade capaz de transbordar as telas, Kravitz termina a entrevista com a mesma simpatia do início, e com a mesma fixação pelo Brasil. "Muito obrigado, beijos", se despede, em português.

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