Mais da metade do suco de laranja consumido no mundo todo é produzido no Brasil. De acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), as exportações brasileiras do produto representam 75% do mercado global. Neste cenário, a maior exportadora global de suco de laranja obviamente também é brasileira: a Citrosuco.
Com sede em Matão (SP), a companhia fornece cerca de 25% do suco de laranja global, e 45% do mercado brasileiro. Os números expressivos também trazem desafios à altura para a companhia, que há uma década tem focado em desenvolver alternativas para evitar desperdícios e fazer o melhor uso da fruta como um todo - incluindo partes como bagaço, casca, folhas, flores e sementes da laranja.
Em 2019, a empresa criou o departamento de PDA (Product Development and Application), com a missão de desenvolver tecnologias e encontrar aplicações de maior valor agregado para esses excedentes. Mas ao perceber o potencial do novo negócio, a Citrosuco decidiu investir ainda mais no projeto, lançando, três anos depois, a Evera, hub focado em criar produtos utilizando ingredientes naturais para diferentes indústrias.
"Percebemos que estávamos lidando com um negócio notavelmente distinto, exigindo competências específicas que não estavam alinhadas com as operações centrais da Citrosuco. Essa percepção levou a estudos adicionais, os quais acabaram por justificar a criação de uma unidade de negócios independente, com uma equipe totalmente dedicada e separada da Citrosuco", explica John Lin, CBO (Chief Business Officer) da Evera.
Um ano de Evera
A Citrosuco pertence ao Grupo Votorantim, multinacional brasileira controlada pela família Ermírio de Moraes - que encerrou o terceiro trimestre de 2023 com uma receita líquida de R$ 12,8 bilhões. Para a criação da Evera, a companhia investiu cerca de US$ 10 milhões (R$ 49 milhões, na cotação atual) para pesquisa e desenvolvimento de produtos e a instalação inicial de produção, além do estabelecimento de parcerias com entidades e universidades brasileiras e estrangeiras, como a holandesa Wageningen University, referência global em agritech e foodtech, e seu braço de inovação, o StartLife.
Oficialmente lançada no final de 2022, a Evera compartilha da estrutura física da matriz da Citrosuco, contando com mais de 50 funcionários.
A empresa já nasceu com uma expectativa alta de faturar US$ 150 milhões por ano. A Evera não revela sua receita atual, mas, segundo Lin, "a previsão atual indica que encerraremos o ano de 2023/2024 com uma receita superior a esse patamar. Estamos projetando um crescimento de dois dígitos para os próximos três anos", revela.
Quando foi inaugurada, a Evera já contava com 18 produtos em seu portfólio, desenvolvidos pelo departamento de PDA da Citrosuco. Os produtos atendem a diferentes setores, com foco especial em alimentos e bebidas, incluindo alimentos plant based (à base de plantas) como hambúrguer, ketchup, maionese, calda de chocolate e smoothies. Todos eles contam com insumos da Citrosuco na formulação - em torno de 3 a 5 toneladas.
"Dispomos de uma ampla gama de tecnologias em nossos produtos, que vão desde técnicas mais tradicionais, como destilação, concentração e fracionamento, até tecnologias inovadoras, como aquelas empregadas no purê de fibras, na disrupção de biomassa e na super homogeneização", explica Lin.
Mercado internacional
Neste primeiro ano, a maior parte da produção da Evera foi para os Estados Unidos e a Europa - especialmente Inglaterra, França e Alemanha, países onde já existe uma demanda madura para os insumos e onde a nova unidade pode se beneficiar de relacionamentos comerciais já construídos pela Citrosuco.
Embora alimentos e bebidas sejam o carro-chefe da Evera, a empresa tem investido no desenvolvimento de outros produtos, como óleos essenciais extraídos da casca da laranja e que podem ser utilizados em cosméticos e perfumaria ou pela indústria farmacêutica.
No portfólio da empresa, Lin também destaca o projeto Smash, que desenvolveu um produto com textura e características únicas: o FiberFeel, um purê de fibras de laranja provenientes da polpa da fruta. "Apresentamos duas versões desse produto, uma com sabor de laranja e outra sem. A versão sem sabor não apenas oferece uma textura singular, mas também possui propriedades de emulsificação e texturização, eliminando a necessidade de adição de gomas, espessantes e emulsificantes artificiais", explica Lin.
"Por ser um produto único no mercado, ainda estamos explorando todas as potenciais aplicações desse ingrediente, mas eles foram desenvolvidos para preservar os nutrientes da fruta e proporcionar alternativas mais nutritivas para o consumo humano. Por exemplo, a fibra de laranja foi empregada em uma calda de chocolate para sorvetes, substituindo a gordura de soja, possibilitando uma redução de 40% no valor energético", detalha o executivo.