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Por Dennis Herszkowicz*


 — Foto: Getty Images
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O ano de 2023 foi bastante desafiador para a economia brasileira. Apesar das recentes quedas na Selic, passamos pelo calendário inteiro com uma taxa básica de juros alta, bem acima dos 10%, uma situação que dificulta o crescimento e coloca um ponto de interrogação na estratégia de investimentos do setor privado. Isso tudo impacta todo o mercado e, em conjunto com as naturais incertezas que surgem com a chegada de um novo governo, resulta em desconfiança. As principais projeções apontam para um aumento do PIB brasileiro na casa dos 2%.

E, em termos de obtenção de recursos, 2024 deve trazer um cenário muito semelhante, já que o custo e acesso do capital continuam num nível bem mais baixo do que anteriormente, não só no Brasil, como também nas principais economias do mundo. Os EUA, por exemplo, atualmente estão com a taxa de juros em maior nível nos últimos 15 ou 20 anos e sem perspectiva de grandes mudanças nos primeiros meses do ano.

Para minimizar esse cenário, são necessárias ações claras e objetivas. Aliada ao momento global em que empresas estão revendo seus investimentos, a condução da reforma tributária será um fator determinante para o ganho de atratividade do Brasil como pólo de investimentos. Esta é uma pauta extremamente relevante. A economia e a sociedade brasileira precisam de simplificação, e essa simplificação conversa perfeitamente com produtividade e eficiência. Esse movimento não se limita a aumentos percentuais de cobrança, é uma oportunidade de o país contar com uma base maior em vez de uma base igual, que continue contribuindo mais.

Passamos por anos de acesso fácil e de baixo custo ao capital, de forma que a mentalidade dominante de diversos segmentos era a de buscar - e alcançar - o crescimento a qualquer custo, já que os aportes eram relativamente comuns. Com a realidade de juros altos e incertezas em escala global, os investidores passam a exigir também rentabilidade.

Tomando como exemplo o mercado de tecnologia, isso resultou em sérias dificuldades para muitas startups e novos players do mercado, que enfrentaram lay-offs, redução de investimentos ou, até mesmo, encerramento das atividades. Muitas empresas não estavam preparadas ou não tinham um modelo estruturado para se encaixar nesse novo cenário.

Mas, apesar das circunstâncias que fogem ao nosso controle, continuo sempre tendo a visão de que, independentemente do cenário macro, todos os negócios têm uma boa capacidade de se diferenciar no micro. Existem, sim, impactos positivos e negativos do cenário nacional e global, mas há vários caminhos para transformar oportunidades em crescimento e mitigar eventuais riscos.

E, sob essa ótica, o setor de tecnologia segue promissor. Nos últimos 10 anos, houve a percepção de que o investimento em digitalização é a resposta para boa parte dos desafios das empresas, sendo ferramenta para aproveitar oportunidades ou para mitigar ameaças.

Além disso, ainda há um grande gap de investimentos em tecnologia, sobretudo nas PMEs, que são motores importantes da economia nacional. Para efeito de comparação, em termos de tecnologia para gestão dos negócios, as empresas pequenas e médias brasileiras gastam entre 1/3 a metade do que companhias de tamanho similar nos EUA. Isso, sem dúvida, se reflete no desempenho dessas organizações e, consequentemente, de seus respectivos setores. Para o setor de tecnologia, isso significa que há muito espaço para crescer.

Pensando agora em temas que estiveram na pauta das empresas em 2023 e devem continuar em 2024, é impossível não destacar o protagonismo da Inteligência Artificial. Poucos meses atrás estive na Califórnia, junto com parte do time da TOTVS, visitando todos os principais nomes de IA do mundo. Nessa imersão, chegamos a várias conclusões que quero dividir com vocês:

  • Não se trata de uma “espuma”, é uma tecnologia que veio para ficar;
  • A IA e é continuará relevante, mas não vai dominar tudo o que fazemos no cotidiano; a intervenção humana ainda é fundamental;
  • Para estar preparado para seu uso, é necessário reconhecer sua importância e dedicar tempo, esforço e investimentos;
  • E, por fim, o ideal é ter paciência e avaliar tudo de maneira muito criteriosa. Nesse tipo de situação na qual algo muito inovador ganha protagonismo, raramente o importante é ser o primeiro, pois existe uma grande chance de se tomar decisões antes da hora, que podem não ser as melhores e custar muito caro. Se o caminho escolhido não for o melhor, será custoso recomeçar.

Outro assunto imprescindível para o desenvolvimento de nossa economia nos próximos anos é a atenção para a agenda ESG, cada vez mais presente e relevante para a sociedade e para os negócios. Cada vez mais, todos os stakeholders de qualquer empresa vão exigir com mais veemência uma governança transparente, a redução da pegada de carbono, uma gestão sustentável e atenção para iniciativas sociais. Eu vejo a tecnologia como fator essencial nessa equação.

Além de todos estes pontos que já integram (ou deveriam integrar) a agenda das empresas brasileiras, 2024 tem tudo para ser um ano de mais atenção e holofote internacional voltado para o Brasil, já que o país vai sediar dois dos principais eventos globais do próximo biênio: a cúpula do G20, em novembro de 2024, no Rio de Janeiro; e a COP 30, na Amazônia, em 2025. Com olhos voltados para cá, quem estiver preparado vai conseguir não só enxergar, mas aproveitar as oportunidades que certamente virão.

Temos todas as ferramentas disponíveis e a tecnologia, mais uma vez, será o motor importante para alcançarmos estes objetivos de termos não apenas uma economia cada vez mais forte e competitiva, mas também uma sociedade mais próspera e desenvolvida.

*Dennis Herszkowicz é presidente da TOTVS

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