Contínua, descentralizada e com processos bem definidos: essa é a fórmula ideal da inovação, para Ricardo Sanfelice, diretor executivo de Produtos, Clientes e Inovação do BV – banco controlado pelo grupo Votorantim e pelo Banco do Brasil. Segundo o executivo, muitas empresas tentam alcançar a inovação criando uma área específica, um laboratório ou uma aceleradora, e delegando a responsabilidade para uma única pessoa, ou grupo de pessoas.
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“Isso não funciona. No BV, entendemos que a inovação tem que ser algo descentralizado, e que inovar é responsabilidade de todos. Se você olhar para empresas nativas digitais como Netflix, Amazon, Google, ninguém vai procurar onde fica o departamento de inovação. Se você tem processos definidos e bem estabelecidos, qualquer pessoa consegue inovar, seja qual for o setor”, diz Sanfelice, em entrevista a Época NEGÓCIOS.
Foi com esses princípios em mente que o BV criou, no ano passado, o BVx, seu ecossistema de inovação e parcerias digitais. Na prática, o BVx reúne algumas frentes de atuação estratégicas para a inovação, como corporate venture capital, inovação aberta, open finance, banking as a service, e relacionamento com o ecossistema brasileiro.
"O BVx não é uma área específica, e sim algo transversal que atinge todos os departamentos do banco”, diz Sanfelice. “Além do BV Lab, área responsável por incubar novos produtos e serviços, inclui também os investimentos em CVC, os nossos programas de inovação aberta, as parcerias digitais e todas as iniciativas de aproximação com o ecossistema de startups."
Sanfelice conta que, antes de consolidar o BVx, o banco trabalhou muito nos processos internos. “Criamos uma estratégia chamada Limpa Trilhos, para eliminar todos os obstáculos para o relacionamento com as startups e torná-lo muito mais ágil. “Saímos de um prazo de 200 dias, em 2022, para 15 dias, em 2023, para fechar um negócio. Foi um ganho de tempo de 85%.
Por conta dessa estratégia, no ano passado foram fechados quatro vezes mais contratos com startups do que em 2022. “Hoje, a conversão das startups conectadas em contratos ativos é de quase 80%”, afirma o executivo. Como resultado, atualmente o BVx conta com 250 empresas conectadas, 13 investidas e 40 contratos ativos.
Embora não revele números, Sanfelice diz que o BVx foi fundamental para que o banco tivesse acesso a novas soluções de produtos e serviços ofertados aos clientes. Dessa maneira, colaborou para que o BV chegasse a um lucro de R$ 1,154 bilhão - uma queda de 21,2%, em relação ao ano anterior, por conta do aumento da inadimplência e do cenário macroeconômico desafiador, segundo a empresa.
Score de crédito
Entre as parcerias de sucesso do último ano, Sanfelice destaca uma fintech israelense, a Innovative Assessment, que fornece uma solução inovadora de “score de crédito”, traçando o perfil do cliente para entender se ele está hábil para receber um empréstimo. “Somente essa startup gerou mais de R$ 100 milhões em contratos novos ao BV. Sem suas análises de crédito, não teríamos aceitado a maior parte desses clientes.”
Outros investimentos do ano passado incluem aportes diretos em empresas como Méliuz, Neon, Trademasterk, Dr. Cash e Klavi, e participação em 12 fundos, entre eles Kaszek, Iporanga, Monashees, Redpoint eventures e Astella. A empresa não revela o valor total de recursos destinados a fundos de inovação, dizendo apenas que "são investimentos relevantes". "Nossa estratégia é investir em inovação que gere diversificação de receita", diz Sanfelice.
Segundo o executivo, as três principais teses de investimento atuais são: o dinheiro do futuro (o BV foi uma das instituições selecionadas pelo Banco Central para participar do projeto piloto da versão digital do Real, o Drex); tornar-se um banco completo, que resolva toda a vida financeira do cliente; tirar o melhor proveito possível da inteligência artificial generativa, tanto no atendimento ao cliente quanto em tarefas mais avançadas, como recomendação de investimentos.
Há também uma busca por startups que colaborem para a área de ESG da empresa. Um exemplo disso foi o investimento na startups Portal Solar. "Para entrar no segmento de energia renovável, achamos que era melhor a empresa se associar com alguém que já conhecia muito bem o tema, em vez de começar do zero." Outra parceria, dessa vez com a startup Deep ESG, possibilitou ao banco incluir na fatura do cartão de crédito a pegada de carbono de todas as compras realizadas. Como plano futuro, pretende fornecer aos clientes uma solução de compensação de carbono.