Como os eventos de luxo podem se tornar mais sustentáveis no Brasil?

“Quase nada foi realizado nesses últimos 30 anos, desde o prenúncio das mudanças climáticas. Nem mesmo o básico, como a neutralização da emissão de carbono, teve algum avanço significativo”, lamenta Marcos Augustinas, sócio da Pazetto Events.

Há 25 anos, quando a empresa foi criada, seus fundadores já enxergavam a necessidade de haver uma integração entre design, moda, tradição de técnicas milenares, valorização da cultura e sustentabilidade. “Nosso desejo era buscar o equilíbrio entre o homem e o seu ambiente”, explica Augustinas.

De lá para cá, a Pazetto Events neutralizou suas emissões com o dobro de créditos necessários, conquistando o selo DESCARBONIZEI®. A empresa também se tornou um canal oficial Descarbonizei, apoiando os clientes e os fornecedores na busca por ações adequadas em serviços de descarbonização de acordo com seu ramo e seguindo estratégias a curto, médio e a longo prazo. “O negacionismo, o conservadorismo e os combustíveis fósseis estão com seus dias contados. Marcas e empresas precisam entregar não apenas produtos, mas ações ligadas aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, pois se não o fizerem, seus concorrentes o farão”.

A seguir, um bate-papo com Marcos Augustinas:

Vogue: Como você avalia as mudanças no mercado de eventos de luxo para se adaptar às necessidades socioambientais?

Marcos Augustinas: Avaliamos como complexas, já que quase nada foi realizado nesses últimos 30 anos, desde o prenúncio das mudanças climáticas. Nem mesmo o básico, como a neutralização da emissão de carbono, teve algum significativo avanço. No entanto, acreditamos que não fazer nada não é mais uma opção.

V: No que empresas e clientes devem estar atentos na hora de planejar e executar seus grandes eventos?

MA: Eventos corporativos são abrangentes. Podem ir de um lançamento de produto a inauguração de um novo ponto de venda, ou mesmo ser focado em atingir o consumidor. Mas nem sempre a estratégia é explícita. Então, diria que entender a razão do evento é a melhor forma de ajudar o cliente a atingir o seu objetivo. A partir daí diria que três questões são muito relevantes: a escolha do local, a escolha dos convidados, o plano de divulgação e detalhamento do digital nas redes sociais.

V: Como foi o processo de descarbonização dos grandes eventos da Pazetto Events?

MA: O processo de descarbonização é muito mais simples do que as pessoas imaginam. Há hoje no mercado várias certificadoras que atendem empresas de todos os tamanhos. O processo se inicia com um relatório que verifica ao longo do evento todo o uso com transportes das pessoas envolvidas (aéreo, terrestre, marítimo - com queima de combustível fóssil), e também o consumo de energia e água. O relatório também verifica se a madeira utilizada é certificada, e se poderá ser reutilizada. Resumindo, esse relatório entrega a quantidade aproximada de toneladas de CO2 que foi utilizada.

V: Como se dá a neutralização?

MA: A neutralização normalmente se faz a partir da realização de um inventário de gases de efeito estufa, que mapeia as emissões e as reduz em sua origem. A partir daí, como prática de mercado, a neutralização é feita com a aposentadoria de créditos de carbono, onde cada crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2 que deixou de ser emitida ou foi absorvida da atmosfera. Outra possibilidade é via plantio de árvores. Acreditamos que a transparência e rastreabilidade de plantio é o grande “x” da questão. De forma que o publico possa efetivamente verificar onde esse processo está sendo finalizado.

V: Quais os próximos passos da Pazetto Events?

MA: Realizamos o nosso inventário de emissões, e nos certificamos como carbono negativo. Estamos neutralizando o dobro do que nossa operação como empresa gera de gases de efeito estufa. Queremos, de agora em diante, incentivar o mercado da moda e do luxo no Brasil a adotar essas ações para que outras ainda mais complexas possam ser realizadas. Somos o país com maior potencial de geração de energia limpa do mundo. Produtos fabricados na região poderão nascer sem pegadas de carbono tão significativas, e as empresas desse setor deveriam se aproximar mais dessa questão. Estamos também envolvidos em projetos de plantas internacionais que atuam nesse mercado e que trarão soluções para empresas de qualquer parte do mundo. Em breve poderemos dar mais detalhes ao público e aos nossos clientes.