• Emily Chan - Vogue International
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Natureza Sustentabilidade Plantação Plantar Vegetais Vegano Vegetariano Salada (Foto: Arquivo Vogue/ Rogério Cavalcanti )

A moda pode ter um impacto positivo no planeta? (Foto: Arquivo Vogue/ Rogério Cavalcanti )

Em anos recentes, a moda acordou para a necessidade de reduzir seu impacto ambiental, desde a diminuição de emissões dos gases de efeito estufa (um tarefa urgente, considerando que a indústria é responsável por entre 4 a 10% de toda a emissão globalmente) até problemas como o desmatamento e a poluição por microplásticos.

Recentemente, porém, o foco também se voltou para a questão: a moda pode realmente ter um impacto positivio no planeta? Marcas como a Burberry e o grupo dono da Gucci, o Kering, lançaram grandes iniciativas biodiversas para restaurar a natureza no ano passado. Além disso, a Sustainable Markets Initiative’s Fashion Taskforce, organizada pelo Príncipe Charles, anunciou seu Regenerative Fashion Manifesto, que delineia a necessidade de movimentos da indústria para um futuro mais "positivo para a natureza e o clima".

Para começar, essa "força-tarefa", que inclui grandes nomes como Burberry, Chloé e Stella McCartney, está lançando um programa de investimento de 1 milhão de euros no Himalaia, a fim de restaurar a biodiversidade na região, conhecida por sua caxemira, algodão e seda, assim como por seu tradição artesanal. “É o primeiro em uma longa lista de projetos", contou Federico Marchetti, ex-CEO da Yoox Net-a-Porter e diretor da Fashion Taskforce, à Vogue. “Estamos comprometidos como um progresso em direção à moda regenerativa; eu realmente acredito que a moda pode ter um impacto positivo."

Sustentabilidade (Foto: Arquivo Vogue/ Mar+Vin)

A moda pode ter um impacto positivo no planeta? (Foto: Arquivo Vogue/ Mar+Vin)

Regenerativo” se tornou uma palavra-chave na moda ultimamente. Em resumo, ela fala sobre reconstruir os nossos ecossistemas de uma forma que permite que eles se recuperem continuamente, saindo da zona de ameaça causa pela atual indústria e se aproxiamando de uma realidade mais circular e natural. "É sobre investir de volta na natureza, na biodiversidade", explica Marc Palahi, diretor da Circular Bioeconomy Alliance, que se tornou parceira da Fashion Taskforce no Regenerative Fashion Manifesto.

Dado que muitas das nossas roupas vem diretamente da natura (seja algodão, lã ou couro), grande parte desse investimento significa fazer a mudança em direção à práticas de agricultura regenerativa, como a lavoura, o cultivo de diferentes plantações e a integração de gado. “Agricultura regenerativa é o futuro", diz Beth Jensen, diretor de clima e estratégia no Textile Exchange. "É sobre trabalhar em harmonia com a natureza, aumentar a biodiversidade, falar sobre os problemas da água e tudo relacionado à saúde do solo. É a nossa habilidade em encontrar materiais que estejam de acordo com os planos de dar mais ao meio-ambiente do que estamos tirando."

Maggie Marilyn faz parte do número crescente de marcas, que também inclui a Patagonia, Eileen Fisher e Christy Dawn, que está focando em agricultura regenerativa. A label da Nova Zelândia trabalha atualmente com a Good Earth Cotton, a primeira fazenda de algodão positivo do mundo, e a Lake Hawea Station, uma fazenda de lã de merino (uma raça de ovelha) climaticamente positiva. A Maggie Marilyn também lançou recentemente seu relatório de Agricultura Regenerativa, apontando estratégias para os próximos 18 meses.

Sustentabilidade (Foto: Hick Duarte)

A moda pode ter um impacto positivo no planeta? (Foto: Hick Duarte)

“Precismos estar constantemente nos desafiando e descobrindo como podemos fazer melhor", explica a fundadora Maggie Hewitt. “Nossa missão na Maggie Marilyn é usar a moda para criar um mundo melhor. É por isso que existimos como negócio. Não é suficiente apenas continuar usando algodão orgânico ou a lã como o selo  Responsible Wool Standard.”

Para Hewitt, ter uma relação próxima com fornecedores é crucial quando o assunto é transicionar para uma sistema mais baseado na regeneração. “Não podemos esperar falar de verdade sobre agricultura regenerativa antes que as marcas de moda saibam de onde vem a fibras que elas usam", ela diz, adicionando que a chave é a colaboração. “Todas as nossas relações são parcerias; não é sobre marcas ditando como fibras deveriam estar sendo plantadas ou colhidas."

Considerando a variedade de práticas envolvidas em colheitas regenerativas, encontrar uma definição que agrade a todas as partes ainda é um desafio. “É algo que realmente já fui muito desafiador para nós, assim como concordar sobre os mecanismos para pedir o quão regenerativas realmente somos. Não é consenso sobre um único certificado", diz Hewitt.

Sustentabilidade (Foto: Arquivo Vogue)

A moda pode ter um impacto positivo no planeta? (Foto: Arquivo Vogue)

A questão sobre como medir os impactos da agricultura regenerativa é particularmente importante quando se trata do sequestro de carbono ou a absorvição de CO2 da atmosfera, um dos principais benefícios da melhora da saúde de solos. Críticos já descreveram as dificuldade em manter o carbono no solo e a contagem falha do elemento na terra. “Quando se tenta olhar para quantidades específicas de carbono sequestrado e por quanto tempo ele fica no solo, ainda não há um consenso científico sobre o assunto", explica Jensen. Ainda assim, os benefícios gerais da agricultura regenerativa são claros. "Em um nível mais amplo, nós temos absolutamente dados e evidências suficientes para mostrar que essa é a direção certa", adiciona.

Para além das práticas de produção regenerativa, inovadores materiais também estão fazendo suas partes para criar um impacto positivo da moda no planeta. O AirCarbon da Newlight Technologies, uma nova alternativa para o couro, involve organismos marinhos que convertem o dióxido de carbono em uma molécula que pode ser derretida. “Com a AirCarbon, mostramos que produtos podem ser feitos com carbono capturado", diz Mark Herrema, CEO da Newlight Technologies. “Se você puder imaginar uma indústria da moda onde tudo é feito com o carbono que, anterioramente, estaria no ar... isso é um objetivo realmente atraente."

Enquanto é incrível que o AirCarbon já tem sua pegada de carbono neutralizada, aumetar a escala do processo ainda é difícil, apesar de uma nova parceria com a Nike ser um começo. "As pessas ainda estão ouvindo falar e aprendendo sobre o AirCarbon for the first time,” Herrema continua. “Acho que, ao passo que isso ganha mais momentum, a demanda vai aumentar consideravelmente".

Apesar de ser crucial que a indústria da moda se preocupe em ter um impacto mais positivo, investir em projetos de biodiversidade, agricultura regenerativa e bio-materiais levará tempo para fazer uma real diferença. No meio tempo, a necessidade urgente da moda é cortar as emissões de gases de efeito estufa e lidar com o problema do consumo exagerado. “Não acho que exista uma solução única e perfeita", diz Hewitt. “Será uma combinação de coisa: como plantamos nossas fibras naturais, como vendemos e distribuímo produtos, operar dentro de uma economia circular.”

Sustentabilidade não se atinge de uma hora para outra (Foto: Giampaolo Sgura/ Arquivo Vogue)

A moda pode ter um impacto positivo no planeta? (Foto: Giampaolo Sgura/ Arquivo Vogue)

A moda pode realmente ter um impacto positivo no planeta a partir de agora? "Ainda temos um longo caminho para seguir, mas qual seria o sentido se pensassemos que não?", Hewitt conclui. “Eu não seguiria investindo nisso se não acreditasse que conseguimos."

Essa matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Conheça o projeto aqui.

Um Só Planeta (Foto: Vogue Brasil)

Um Só Planeta (Foto: Vogue Brasil)