Sua Idade

Por Adri Coelho Silva (@vivaacoroa)

“De repente, você chega numa idade e aí muda tudo, de uma forma que você nem acredita”, diz a atriz Neusa Borges, aos 82 anos, mais de 60 de carreira e reconhecimento. “Ainda estou embasbacada com o que está acontecendo. Eu não esperava por tudo isso nessa fase da vida”, completa ela, referindo-se à intensa agenda na TV e no cinema.

São três novos longas — Mussum, o Filmis, Deus é Brasileiro 2 e A Festa de Léo — e papéis em séries e especiais da Globo e Globoplay, como Encantados, Falas Impossíveis e Divisão. A atriz também recebeu um Kikito de Ouro, premiação máxima do Festival de Gramado, por sua interpretação em Mussum, o Filmis, que tem estreia prevista para novembro. No longa, ela interpreta Dona Malvina, mãe do humorista. O artista foi um grande amigo de Neusa.

Ela está com tudo. E avisa: "não venha me chamar de guerreira, de 'Deusa Borges' e o escambau. Detesto isso". Em certo momento da nossa conversa, a atriz se define como "coroguete", misto de coroa com periguete. Eu amei o termo. Ela ama vivê-lo. Fala com naturalidade sobre relacionamento, contrariando o senso comum de que a libido cai quando a idade sobe. Neusa foi casada nove vezes.

Quando perguntei sobre a possibilidade de um décimo casamento, respondeu aos risos: "não posso prometer que não". "Depois de uma noite de sexo, a pele fica bonita, eu arrumo a casa toda. O mundo não acaba porque você fez 70, 80 anos. Eu ainda acredito naquela coisa de pele. Piscou, eu pisco de volta, as coisas acontecem."

Quando as coisas não acontecem, Neusa parece ser daquelas pessoas que fazem acontecer. Ela conta que a maioria de seus trabalhos começou como um convite para uma participação especial — incluindo suas novelas de sucesso Dancing Days e Carmen — mas, no fim, os papéis se transformavam em personagens fundamentais das tramas.

Neusa Borges no filme "Mussum, o Filmis" — Foto: Divulgação
Neusa Borges no filme "Mussum, o Filmis" — Foto: Divulgação

"Eu não trabalho só por amor à arte, trabalho por dinheiro. E não gosto dessa coisa de ‘vida de artista’. Se preciso de emprego, eu peço”. Simples assim. O drama parece não ter espaço na vida pessoal da artista. “Eu já dormi no chão da casa da minha mãe para emprestar a cama para as minhas filhas. Já passei por apertos financeiros”. O passado vem como um registro, e não com um tom de “olha, eu venci”.

É assim também que ela conta que não foi ao Festival de Gramado deste ano. "Teria que cobrir meus custos, então vou assistir ao filme como a maioria das pessoas, no cinema". A noticia do prêmio chegou enquanto lavava as roupas em casa. "Adoro a casa limpa. Quer me ver beiçuda? É só deixar louça suja em cima da pia", brinca. O Kikito foi entregue dias depois para a atriz em Salvador, onde mora.

"Levei para benzer na igreja do Nosso Senhor do Bonfim e dediquei à Léa Garcia, grande atriz, amiga e comadre, que batizou minhas duas filhas e me inspirou a ser atriz. O que eu sou hoje, devo a essas grandes mulheres, que foram a minha escada, que sofreram o pão que o diabo amassou. Eu também sofri", conta.

Léa Garcia faleceu durante o Festival de Gramado, onde seria homenageada. Neusa prefere não falar em morte e afirma que não está pronta para partir. "Quando morre alguém da minha família, não ficamos tristes, fazemos festa. Não gosto de velório, de cemitério, de nada disso. Uma vez, fiz um comercial em um cemitério. Ganhei até jazigo. Nunca mais voltei lá", ela ri. Neusa é uma sobrevivente. Enfrentou dois AVCs e duas contaminações por Covid-19, além de uma queda de um carro alegórico que lhe rendeu mais de 20 parafusos no quadril. "Mas fui ao médico e já estou ótima", garante. "Posso até trabalhar, sabe?", diz ela, em tom irônico, usando o verbo trabalhar no sentido de transar.

Neusa Borges em "A Festa de Léo" — Foto: Divulgação
Neusa Borges em "A Festa de Léo" — Foto: Divulgação

Eu ouvia e sorria. Cheia de plot twists, Neusa tem tudo para ser a companhia ideal para uma cerveja, sua verdadeira paixão. "Em todo lugar que eu vou, levo minhas cervejas. Se eu for à casa do presidente, eu vou com meu cooler, com minhas cervejas". Deu ainda mais vontade de um brinde. Enquanto eu imaginava levantar o copo, ela fala do seu carinho pelo diretor do filme Mussum, Silvio Guindane. Os dois se conheceram nos sets de filmagem quando ele ainda era uma criança. "É o filho homem que eu não tive", afirma — Neusa tem duas filhas e também é avó.

Sobre Mussum, a atriz relembra as escolas de samba que já o homenagearam na avenida e a conexão que tinha com o comediante. "Quando vi o Ailton [Graça, que interpreta o artista no filme] vestido como o Mussum, pensei: ‘Jesus, misericórdia, é ele’. Era de arrepiar. A equipe do filme era muito unida, tinha um clima de fraternidade. As pessoas estavam todas abençoadas por alguma luz”.

Sobram elogios também para o time por trás do filme A Festa de Léo, o primeiro longa produzido pelo grupo Nós do Morro, com elenco todo composto por artistas que fazem parte da história da associação cultural sem fins lucrativos. Ao longo dos mais de 30 anos oferecendo oficinas de teatro e oportunidades para os moradores do Morro do Vidigal, no Rio De Janeiro, a organização já formou artistas como Babu Santana, Marcelo Mello Jr. e Jonathan Azevedo. 


"Minha relação com o Nós do Morro vem desde a novela De Corpo e Alma (1993). Fiz muito show de graça para construir a sede deles e tenho muita consideração pelo Gui [Fraga, fundador]. Fico mais feliz ainda em ter essa história para contar na minha carreira". Neusa também tem uma trajetória musical de sucesso, e já cantou Brasil adentro. Ela foi a primeira intérprete da famosa música Folhetim, com estreia no Fantástico.

Neusa Borges em "A Festa de Léo" — Foto: Divulgação
Neusa Borges em "A Festa de Léo" — Foto: Divulgação

Mas ela quer mesmo é falar do presente. "Quem interpreta Léo em "A Festa de Léo é o Nego Ney, anota aí, um talento". Outro merecedor da admiração da atriz é o ator Clayton Nascimento, autor do monólogo Macacos, sobre a urgência da vida negra no Brasil. "O Clayton é um fenômeno. Em 60 anos, nunca vi ninguém trabalhar como ele. É um espetáculo". Neusa diz que tem poucos amigos no meio artístico e não é de rasgar seda. Mas não se esquece de quem mexe com suas emoções positivamente.

Ouvir o nome de Solano Trindade (1908-1974), ator, poeta, ativista e escritor negro essencial para a arte nacional, faz Neusa perder o ritmo acelerado. “Ah, pelo amor de Deus, meu amor. Eu sou negra, nasci mulher negra e vou morrer mulher negra. E Solano Trindade representa a negritude brasileira. Eu só fui mesmo me encontrar com a negritude leal e verdadeira com a obra e com Solano Trindade". Depois veio Dalmo Ferreira, o primeiro diretor negro da Globo.

"Eu vivi e me lembro muito bem do black is beautiful [movimento cultural dos anos 60]. Para onde enviaram? Onde foi parar o black is beautiful?", questiona ela quando pergunto sobre racismo em nossa sociedade.

Neusa alegrou meu coração com sua potência e vontade de vida em nossas duas horas de conversa. "Eu vivo em um um mar de diversão. Estou muito feliz, me achando bonita e gostosa. Me sinto em paz", garante. Eu deixo o meu viva para Neusa, e sugiro um brinde.

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