Dossiê

Por Giuliana Cury (@giucury)

Falar de sexo na maturidade, mais do que romper tabus ou refutar estereótipos, é fazer uma desconstrução – e talvez por isso mesmo seja, para muitas pessoas, um terreno desconfortável, apesar de obrigatório, de percorrer. Desmanchar aquela imagem cunhada há séculos, por uma sociedade machista e de culto à juventude, da mulher que, após certa idade (mais especificamente na menopausa, quando deixa de ser fértil), é velha. Não quer transar. Não sente mais prazer.

Poucas coisas são mais subjetivas do que o prazer feminino. Some-se a essa subjetividade as diferentes personalidades, vivências, experiências, preferências. E multiplique isso pelas singularidades que existem em cada mulher. O prazer feminino não tem idade. Não tem cor. Não tem raça. E, sobretudo, não tem receita. Por isso, querer definir que ele começa em uma idade e termina em outra, é puro nonsense. “As mulheres são múltiplas, são plurais. Não existe uma forma única de experimentar a sexualidade na maturidade”, diz a antropóloga e colunista de Vogue Mirian Goldenberg.

Enxergar essas diferenças e individualidades é o primeiro passo para entender que o grau de desejo ou de interesse sexual vai muito além da data de nascimento. Assim como existem adolescentes com personalidades e comportamentos diferentes, há mulheres mais velhas que agem, pensam, sentem e vivem a maturidade de forma única também. É muito simplista querer colocar um mundo de mulheres (pense em quantos anos existem entre os 50 e os 90) em uma mesma descrição.

E os dados comprovam essa diversidade de pensamentos. Um estudo apresentado em 2020 e liderado pela professora doutora Holly Thomas, da Universidade de Pittsburgh, analisou informações de mais de 3.200 mulheres colhidas pelo SWAN (Study of Women’s Health Across the Nation) por cerca de 15 anos e concluiu que as mulheres tendem a encarar o sexo de três maneiras diferentes ao longo do envelhecimento. 28% das entrevistadas valorizavam menos o sexo após os 50 anos, enquanto 27% disseram que o sexo continuava muito importante ao longo dos 40, 50 e 60 anos. A maioria das mulheres (48%) seguiu um terceiro caminho: valorizaram uma vida sexual saudável à medida que entravam na menopausa, mas perderam gradualmente o interesse ao longo dos 50 ou 60 anos.

Em suas pesquisas sobre o tema, Mirian Goldenberg entrevistou diversas mulheres maduras, o que possibilitou à antropóloga comprovar essa imensa diversidade de comportamentos sexuais. “Tenho encontrado mulheres que sempre gostaram de sexo e continuam gostando. Outras que transaram bastante no passado e agora não querem mais. Tem aquelas que vivem intensamente o sexo fora do casamento e as que descobriram os vibradores. E há as que acreditam que o tesão pode estar relacionado a outros prazeres, e não exclusivamente ao sexo…”, descreve Mirian em seu livro A Arte de Gozar - Amor, Sexo e Tesão na Maturidade (ed. Record).

Dossiê Sexo na Maturidade — Foto: Colagem: Vogue Brasil
Dossiê Sexo na Maturidade — Foto: Colagem: Vogue Brasil

Ah, os hormônios, sempre os hormônios

É verdade que existe um componente biológico que compromete a intensidade da libido. Mas isso, por si só, não é um fator determinante para se aposentar o sexo – ou, mais importante, o prazer. “A perda de hormônios na menopausa interfere na disposição sexual, sim, mas não podemos esquecer que o desejo feminino é multifatorial. A mulher precisa ter estímulos e motivação para ter vontade de transar”, diz Carmita Abdu, psiquiatra e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da Universidade de São Paulo (USP).

A especialista conta que, com o passar dos anos, é comum haver uma diminuição na frequência das relações sexuais, mas que, por causa do conhecimento e da experiência, o aproveitamento desses momentos passa a ser maior. “Nessa fase da vida, a maioria das mulheres já criou os filhos, já alcançou certa independência financeira e passa a ter mais tempo para si mesma e, consequentemente, para cuidar do relacionamento e aproveitar mais a vida sexual”, diz a psiquiatra. Entretanto, como o prazer feminino envolve muitos aspectos, inclusive os hormonais, encontrar formas de se motivar, de despertar o desejo, de acender a fagulha, é mais necessário do que nunca.

Fisiologicamente falando, o que acontece com a mulher com o passar dos anos é uma baixa hormonal significativa, que impacta diversas áreas da vida. “Conforme envelhecemos, há uma redução gradual na produção de hormônios importantíssimos para a saúde, tanto física quanto emocional,”, explica Taís Calomeny, ginecologista especializada em reposição hormonal e fundadora da All 4Us Clinic. “Com a chegada da menopausa, o ovário, então, para de produzir estrogênio, progesterona e também testosterona.” A falta desses hormônios trazem diversas consequências, como oscilação no humor e aumento de chances de problemas cardiovasculares (estrogênio); insônia e dificuldade para perda de peso (progesterona); cansaço, desânimo e diminuição de massa magra e força (testosterona).

E, quando se analisa os efeitos na vida sexual, os impactos são igualmente significativos. “A testosterona, por exemplo, age diretamente na libido e, com sua falta, há uma natural diminuição do desejo. A queda do estrogênio leva a um ressecamento vaginal, podendo dificultar a penetração. E, se causa dor, provoca um estímulo negativo no cérebro, levando a uma diminuição da libido”, esclarece a especialista.

Com o avanço da medicina, entretanto, é possível, hoje, reparar essa falta devastadora dos hormônios. “A reposição hormonal pode devolver aquilo que a mulher não produz mais, combatendo os sintomas adversos e resgatando a qualidade de vida. E, mesmo aquelas que não têm indicação para fazer esse tipo de tratamento, por terem histórico de câncer de mama ou endométrio, trombose e doenças cardiovasculares, por exemplo, podem encontrar alívio com tratamentos fitoterápicos. O importante é procurar ajuda e não se conformar com esse descompasso”, explica Taís.

Muito prazer

Independência, liberdade, autoconfiança, tranquilidade. Essas são algumas das declarações de mulheres definindo esse momento da vida. Apesar de todas as transformações pelas quais o corpo passa, a maturidade traz esse conjunto de sensações que supera as inseguranças e possíveis faltas. “Eu nunca pensei que seria tão feliz nessa fase da minha vida. Hoje tenho muito mais clareza do que quero e do que não quero, e isso em todas as esferas da vida: sexo, relacionamento, trabalho. Gosto de mim, de quem me tornei. Viver é um grande tesão! ”, disse a atriz Elisa Lucinda, 65 anos, em entrevista à Vogue .

Esse sentimento de autonomia relatado por várias mulheres de mais de 50 anos – muitas talvez vivenciando isso pela primeira vez – tem a ver, sim, com a maturidade e, sobretudo, com um novo entendimento: “Elas estão descobrindo que o prazer é responsabilidade delas, que isso não depende do parceiro/a”, diz a médica Carmita Abdo. É isso o que a Neon Cunha, uma das maiores ativistas LGBTQIAP+ do país, contou para Vogue: “A sexualidade, nesses meus 53 anos, passou a ser minha escolha. Não tenho um descompasso no desejo, não tenho alteração hormonal. Verdade, entretanto, que o corpo na maturidade tem uma outra perspectiva. Você não sente mais aquela gana da juventude de transar duas, três, quatro vezes… Mas você quer uma gigante, uma que compense tudo”, disse.

O desejo, na maturidade, encontra novos lugares. Ele sai da cama e transborda para muitos outros espaços, como compartilhou a atriz Arlete Salles, 85 anos: “As exigências sobre o prazer sobem. Ele vem acompanhado de mais coisas: você quer um champanhe, quer um jantar romântico, um ambiente sofisticado… A sexualidade muda para um lugar mais delicado, mais amoroso, mais afetuoso”, contou Arlete. O mesmo sentimento foi apontado por Helena Schargel, que se tornou empresária e comunicadora prestes a completar 80 anos (hoje ela está com 83 anos): “Desde que fiquei viúva, não tive mais nenhum relacionamento amoroso. Mas, claro, se pintasse alguém, com sexo ou não, seria ótimo. Estou começando a me inteirar sobre sites e aplicativo de relacionamentos para pessoas acima de 50, 60 anos. Até pouco tempo eu só olhava… Agora eu falei: 'Peraí, eu também estou aqui e vou experimentar!'”.

De mulheres que declaram que o sexo não é mais prioridade em suas vidas às que experimentaram relações sexuais mais plenas e satisfatórias depois que terminaram longos casamentos, como conta a antropóloga Mirian Goldenberg, o fato é que a sexualidade na maturidade está saindo das sombras e ocupando o espaço que sempre lhe foi de direito: um lugar plural, com diferentes formas de ter e dar prazer — e de fazer isso quando e se a mulher quiser.

Vogue conversou com mulheres 50, 60, 70 e 80+ e conta suas vivências com o sexo na maturidade abaixo. Confira!

Arlete Salles — Foto: Divulgação
Arlete Salles — Foto: Divulgação
Helena Schargel — Foto: Divulgação
Helena Schargel — Foto: Divulgação
Eliane Giardini — Foto: Divulgação
Eliane Giardini — Foto: Divulgação
Elisa Lucinda — Foto: Divulgação
Elisa Lucinda — Foto: Divulgação
Neon Cunha — Foto: Divulgação
Neon Cunha — Foto: Divulgação
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