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Reynaldo Gianecchini tem se desafiado nos palcos ao interpretar Mitzi Mitosis, em Priscilla, a Rainha do Deserto - O Musical, mas também descobriu um novo mundo com a arte das drag queens. Além de possibilitar que o ator experimente outras habilidades, a peça, que é seu primeiro musical e está em cartaz no Teatro Bradesco, em São Paulo, narra a coragem de pessoas que escolheram esse tipo de arte como forma de expressão. "Acho um momento muito bonito a gente poder trazer para teatro mainstream, o teatro de acesso grande para o público, trazer esses personagens que antes estavam marginalizados, que antes ficavam restritos aos guetos e que ninguém olhava direito", diz, em entrevista exclusiva com Vogue Brasil.

Com adaptações apresentadas em inúmeros países, como Austrália, Inglaterra, Suécia e Coréia do Sul, a montagem inédita no Brasil é baseada no filme homônimo de 1994, do diretor Stephan Elliott, e conta a história de duas drag queens e uma mulher transexual que são contratadas para fazer um show em pleno deserto australiano. De acordo com o ator, o musical aborda com humor muitas questões vividas pela comunidade LGBTQIAPN+, mas com a ideia de que o conteúdo seja universal e possa atrair olhares com visões mais humanas sobre as pessoas.

"Como ela fala de liberdade de ser, de autoexpressão e de coisas muito humanas, ela é pra qualquer lugar do mundo, mas acho que especialmente no Brasil ela pode tocar em vários pontos, principalmente nesse ponto do preconceito. Nesse aspecto, ela vai fazer as pessoas ampliarem o olhar e entenderem a beleza do ser humano que está sendo colocado nos personagens e ampliar o olhar sobre si mesmo."

Na era em que a disseminação de conteúdo cada vez mais rápida através das redes sociais, Gianecchini, que divide o palco com nomes como Diego Martins e Verónica Valenttino, não teve com fugir de reações controversas antes mesmo de a peça estrear. Alguns citavam a necessidade de ter uma drag queen no papel de Mitzi, mas o ator defende que é um bom representante. "Posso contribuir muito pra que esse espetáculo seja visto de uma forma bonita como ele tem que ser. Eu dei meu sangue, suor e lágrimas pra estar lá representando muito bem esse universo das drags que admiro, que eu reverencio como artistas tão potentes e espero muito que elas se sintam felizes de estarem representadas lá no palco. Posso dizer que eu realmente dei o meu melhor e estou dando o meu melhor. Espero que as pessoas que assistam, venham sem preconceito, venham só com o olhar aberto para poder se deixar contagiar por tamanha beleza que estamos propondo ali", explica.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

Vogue: Em uma época em que drag queens estão ganhando cada vez mais reconhecimento, como é fazer parte de um trabalho como Priscilla?

Reynaldo Gianecchini: Eu tô muito orgulhoso de fazer esse trabalho, muito feliz. Tô achando de uma importância gigante a gente falar sobre essa liberdade de ser único, de ser potente, de trazer esse olhar pro outro e ao mesmo tempo se enxergar, que é o que a gente propõe na peça. E tudo isso embalado por músicas incríveis, um show de encher os olhos com um time de talentos gigantes. Tudo é muito atraente, e muito importante nesse momento exaltar a arte drag, que tem crescido tanto e traz tantos artistas. É de uma complexidade maravilhosa. É realmente um momento muito especial.

Vogue: Como você acha que a peça se relaciona com os desafios e experiências enfrentados pela comunidade LGBTQIAPN+?

RG: A peça mostra a jornada muito bonita das três personagens drags que têm suas questões, seus medos, suas dores, mas que também têm uma força e uma alegria de seguir adiante e de enfrentar tudo isso e se conhecer e chegar no ponto de estar muito apropriado de sua potência, de sua beleza, de sua autoexpressão. A peça não fala só do universo LGBT, mas fala também de amizade, de família, de aceitação, de acolhimento, e também de não acolhimento. A gente traz tudo. Então ela lança um olhar sobre esse momento que a gente tem de olhar pro próximo com empatia. Tem uma importância gigante.

Reynaldo Gianecchini — Foto: Divulgação/ Pedro Dimitrow
Reynaldo Gianecchini — Foto: Divulgação/ Pedro Dimitrow

Vogue: A arte tem o poder de promover mudanças sociais e ajudar a combater estereótipos e preconceitos. Como é para você interpretar um papel sobre uma profissão que há não muito tempo era muito marginalizada?

RG: Acho um momento muito bonito a gente poder trazer pro teatro mainstream, o teatro de acesso grande para o público, trazer esses personagens que antes estavam marginalizados, que antes ficavam restritos aos guetos e que ninguém olhava direito. Acho importantíssimo todo mundo ir lá e exercitar esse olhar, e entender que tem um ser humano ali, que tem os seus direitos como todo mundo, e que são lindos. Que talvez ninguém tenha olhado tanto para eles, mas vão reconhecer pessoas ali de uma beleza, de uma força, de talentos que não podem ser desprezados, pelo contrário, têm que ser reconhecidos e acolhidos.

É uma delícia estar presente nesse momento fazendo parte disso, eu escolhi de forma bem pensada e me convoquei pra estar nesse lugar. Não foi à toa que estou nesse palco. Eu, como artista, quero fazer cada vez mais coisas que eu acho importante, que tenham uma comunicação bonita e necessária com o público.

Vogue: Qual foi a dinâmica de trabalho com o restante do elenco, especialmente considerando a visível harmonia entre vocês?

RG: Fazer um musical é juntar uma equipe gigante, é muita gente, e todo mundo é multitalentoso, e tem que ser rápido. Tem que ser profissionais que consigam resolver as questões técnicas e artísticas muito rapidamente, porque nunca tem muito tempo para ensaiar.

Eu adoro trabalhar em grupo e me senti bastante acolhido. É um ambiente muito novo pra mim, o mundo dos musicais, é o meu primeiro e eu nunca frequentei. É muito fora da minha zona de conforto, e eu fui muito bem acolhido, e eu tenho aprendido muito com os meus colegas. É o que eu sempre proponho quando eu faço alguma coisa nova, minha maior vontade é sempre aprender e sempre poder dar o melhor de mim pra poder no mínimo não atrapalhar (risos) aquele trabalho que é tão lindo e difícil.

Vogue: Quais aspectos da história da peça você acha que ressoam mais com o público brasileiro?

RG: A nossa versão não é uma franquia, então a gente pode fazer do nosso jeito. Colocamos muitas coisas brasileiras, tem muito humor brasileiro, tem vários memes colocados em vários momentos. Eu acho que a peça é universal, ela fala de coisas universais, ela não fica restrita a nenhum país. Como ela fala de liberdade de ser, de autoexpressão e de coisas muito humanas, ela é pra qualquer lugar do mundo, mas acho que especialmente no Brasil ela pode tocar em vários pontos, principalmente nesse ponto do preconceito.

A gente é o país que mais mata trans, LGBTs, então, claro que a gente tem que por uma lupa nesse olhar da humanidade com essa comunidade. Nesse aspecto, ela vai fazer as pessoas ampliarem o olhar e entenderem a beleza do ser humano que está sendo colocado nos personagens e ampliar o olhar sobre si mesmo. Acho que o público vai e consegue entender a beleza do que tá sendo ali no palco e entender também a beleza de se olhar, de se conhecer. Afinal, sempre tem coisas pra você se identificar quando estamos falando de sentimentos super reconhecidos nos seres humanos no geral.

Cena de "Priscilla, a Rainha do Deserto" — Foto: Divulgação/ Caio Galucci
Cena de "Priscilla, a Rainha do Deserto" — Foto: Divulgação/ Caio Galucci

Vogue: Como foi trabalhar com a caracterização e figurinos para dar vida à Mitzi Mitosis?

RG: A parte de caracterização e de figurino talvez tenha sido a mais divertida. É um universo completamente novo pra mim e é absolutamente fascinante. Sempre fui ligado em moda e essa versão tem bastante coisa de Alta Moda. Depois que RuPaul apareceu foi mudando muito a arte drag, ela foi ficando muito virtuosa no sentido de Alta Moda mesmo, de conhecimento, de estética, e as drags foram aprimorando cada vez mais essa coisa da estética.

Eu amo. Comecei a entrar nesse universo de achar bonito as maquiagens e toda vez que você já coloca um figurino ou se monta, já dá um lance, já vem uma persona, já vem metade do personagem ali com a caracterização.

É muito divertido a gente poder olhar pra esse lado feminino, pra essa grande brincadeira que é se montar, se divertir com a expressão que você coloca através da sua roupa, do jeito que você se monta, se maquia. É bonito. Nesse ponto esse espetáculo é uma diversão à parte. Tenho certeza que o público vai ficar muito impressionado com tanta variedade, com tanta expressão bonita.

Vogue: Como você encarou a reação controversa nas redes sociais ao seu papel, antes mesmo da estreia no Brasil?

RG: Quando anunciaram meu nome para esse musical, já veio uma enxurrada de críticas, de gente se posicionando contra, e eu entendo todas as questões de representatividade que as pessoas cobram, mas no nosso espetáculo nos preocupamos muito com isso e ele tem toda a representatividade que precisa. Inclusive eu me acho um bom representante para estar lá no palco falando da comunidade LGBTQIAPN+. A arte drag, lembrando que é uma arte para todos, então eu acredito que tá tudo certo eu estar fazendo uma drag.

Entendo todo mundo cobrar os espaços, mas entendo também que é muito legal eu trazer um público que eu tenho e que me acompanha nas novelas pra ver essa peça e exaltar a arte drag e exaltar toda a comunicação que a gente quer pra todo mundo olhar pra essa liberdade e essa potência de você ser inteiro e ser quem você quiser, que é o que a gente propõe no espetáculo.

Então, eu acho que sim, eu posso contribuir muito para que esse espetáculo seja visto de uma forma bonita como ele tem que ser. Eu dei meu sangue, suor e lágrimas pra estar lá representando muito bem esse universo das drags que admiro, que reverencio como artistas tão potentes e espero muito que elas se sintam felizes de estarem representadas lá no palco. Posso dizer que eu realmente dei o meu melhor e estou dando o meu melhor.

Sempre foco muito no meu trabalho. Sou muito dedicado às coisas que assumo como prioridade, e eu assumi esse trabalho com todo respeito e com toda a minha gana de vencer, com todas as minhas limitações e meus medos em estar naquele palco pra poder falar todas aquelas coisas bonitas que a gente fala. Considero essa jornada muito bonita e espero que as pessoas que assistam venham sem preconceito, venham só com o olhar aberto para poder se deixar contagiar por tamanha beleza que estamos propondo ali no palco.

Serviço:
Teatro Bradesco: R. Palestra Itália, 500 - Perdizes | Até 1 de setembro de 2024. Saiba mais sobre
ingressos aqui.

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