A importância de líderes LGBTQIA+ no mercado de trabalho

"A permanência no mercado de trabalho é um dos maiores desafios da população LGBTQIA+. Problemas como preconceito, assédio moral, discriminação – mesmo que velada –, entre outros, são fatores decisivos nas vidas profissionais dessas pessoas", diz Camila Farani, uma das maiores investidoras-anjo do país

Por Camila Farani


Camila Farani Divulgação/ Acervo Grupo Farani
audima

Compartilhar a minha experiência como liderança feminina, lésbica e negra em um cenário ainda pouco inclusivo significa assumir um papel muito desafiador: além de cumprir as responsabilidades profissionais inerentes a qualquer posição de liderança, há o desafio adicional de navegar e transformar um ambiente que muitas vezes pode ser resistente ou hostil à diversidade de raça, gênero e sexualidade.

Desde cedo trabalhei muito, já vivi e presenciei muitas situações. Cresci na zona norte do Rio de Janeiro e hoje me tornei uma das maiores investidoras anjo do país. Passei a frequentar espaços onde poucas pessoas pretas e LGBTs estão presentes. Mesmo ocupando este lugar de destaque e privilégio, assim como qualquer pessoa, também já senti medo, ansiedade e aquela sensação de impostora, como se eu estivesse ocupando ambientes que não pertenciam a mim. Por muitos anos, vivi este conflito. Isso porque, por mais que fosse subindo na carreira – cada degrau sendo o resultado de muito trabalho, preparo, estudo, esforço – menos eu me via em pares, menos conseguia identificar um “igual”. O ambiente corporativo ainda é muito masculino, branco e heterosexual.

Um exemplo disso foi quando fui convidada a participar de uma reunião, que foi uma das minhas primeiras como investidora, pois era necessário ter uma perspectiva feminina sob o negócio que estava sendo avaliado. Eram 18 investidores e eu, a única mulher.

Não à toa, pessoas LGBTQIA+ são as que mais sentem dificuldades de entrada nas organizações, de acordo com uma pesquisa recente realizada pela consultoria Santo Caos. Da mesma forma, a comunidade também segue sendo a que menos se sente representada em cargos de liderança – o que vai ao encontro da percepção de que o grupo também enfrenta mais barreiras no desenvolvimento de carreira. Dentre tantos recortes que podemos dar, este cenário é um reflexo de uma sociedade que, durante muitos anos, seguiu uma estrutura heteronormativa.

Os líderes LGBTQIA+ têm a oportunidade de serem agentes dessa mudança. Desafiando estereótipos, preconceitos e abrindo caminhos para que outras vozes sejam ouvidas e valorizadas. Por experiência própria posso afirmar todos os pontos positivos que é investir em um time diverso e plural na minha companhia, a Farani Escola de Negócios (FEN). Isso não apenas beneficia a comunidade, mas enriquece a cultura organizacional como um todo, promove a diversidade de pensamento que resulta em uma maior sensação de pertencimento e engajamento entre todos os funcionários.

Pessoalmente, por meio das minhas redes sociais, onde tenho a oportunidade de impactar milhares de pessoas, busco levar a minha imagem e a minha voz para que elas possam se inspirar na minha história, se sentirem fortalecidas e representadas. Este trabalho é muito gratificante, pois todos os dias vejo o resultado disso com centenas de mensagens de mulheres, pretas, gays, que se aproximam de mim para compartilharem suas histórias, ideias de empreendedorismo, dúvidas, incertezas.

Inspirada em muitas mensagens que recebo das pessoas que me seguem nas redes sociais, criei um dos projetos dos quais mais me orgulho muito, o “Ela Vence”, que é uma comunidade exclusiva para mulheres para gerar networking e ensinar, entre outras coisas, o autoconhecimento, gerenciamento do tempo e inteligência emocional, assim como a elaboração de um plano de negócios, branding, estratégias de vendas e gestão financeira.

Acredito que muito mais do que compartilhar experiências, liderança é sobre usar sua posição e voz para posicionamento, promover a conscientização, fomentar a empatia e impulsionar mudanças culturais e estruturais dentro e fora do mundo corporativo. As organizações que liderarem essa mudança não apenas garantirão sua relevância futura, mas também desempenharão um papel crucial na construção de um mundo com negócios e empresas mais sustentáveis, inclusivas e inovadoras – com um impacto profundo na sociedade, podendo ser o motor de transformações em cadeia.

Tula Tavares, Camila Farani e Lucca — Foto: Reprodução/ Instagram

Agora, como mãe, tudo que mais quero é que meu filho possa viver em um futuro melhor do que temos hoje e do que já tivemos um dia. O Lucca é fruto de um grande amor que vivo ao lado da Tula, minha esposa. Lembro que em momentos especiais da minha vida, como quando anunciei meu relacionamento com a Tula e, posteriormente, a nossa gravidez, recebi uma enxurrada de comentários cheios de amor e carinho, mas também uma série de “hates” e inclusive perdendo seguidores.

Diante disso, um dos meus maiores desejos é ajudar a construir uma realidade em que os valores do amor e de como respeitar as pessoas, independente das diferenças que existam, sejam o que mais importa. Para mim, diversidade e inclusão transcendem a agenda ESG; são os alicerces essenciais para moldar uma realidade verdadeiramente igualitária.

Mais recente Próxima Empreendedora no divã: "A mulher que os homens temem"

Leia mais