Roteiro Veneza: 5 exposições para visitar já

Se você tem viagem marcada para Veneza, seja para prestigiar a Bienal ou explorar mais a encantadora cidade italiana, ou tem o destino em seus planos, ainda que sem uma data específica, vale conferir abaixo uma seleção de 5 exposições que você não pode deixar de ver.

Se for a Veneza, não deixe de ver a exposição da belga Berlinde De Bruyckere, uma das mais impressionantes que vi nos últimos tempos. Para começar, o cenário escolhido é uma basílica beneditina do século XVI, a Abbazia di San Giorgio Maggiore, na ilha de mesmo nome, praticamente em frente à Piazza San Marco. Ao entrar no edifício renascentista, nos deparamos com obras da artista que imediatamente nos fazem pensar sobre devoção, transcendência e mortalidade. Arcangeli são monumentais instalações compostas por esculturas de anjos suspensos em pedestais, seus corpos estão parcialmente cobertos por pesados cobertores, como se os mantos impossibilitassem que abram as suas enormes asas, são figuras híbridas, ao mesmo tempo divinas e terrenas, das quais vemos as pernas e os pés. Não é possível saber se estão prontos para ascender ou prestes a tocar os pés o solo. O efeito é arrebatador. A extensa exibição continua por diversos espaços da basílica, que conta ainda com cinco pinturas de Tintoretto e a torre do sino, o Campanille, de onde se tem uma vista fantástica de Veneza.

Berlinde De Bruyckere: City of Refuge III está em exposição na Abbazia di San Giorgio Maggiore até 24 de novembro de 2024

Em ‘Selva’, a parisiense Eva Jospin convida o espectador a entrar em sua floresta encantada. Por ocasião da Bienal de Veneza, a artista ocupa parte do Palazzo Fortuny, grande palácio gótico que era a antiga residência e ateliê de Mariano Fortuny e Henriette Negrin, sua mulher, transformado em museu em 1975. Jospin é conhecida por seu trabalho escultórico em papelão e a sua estreita relação com a natureza, para a exposição, criou um portal mágico, a instalação Galleria (2021-2024): uma passagem em formato de arco feito em papelão, madeira e diversos materiais. A inspiração vem da arquitetura renascentista e barroca, de monumentos históricos, das viagens fez ao longo do tempo pela Itália, mas sobretudo das formas da natureza. Árvores, galhos, folhas, plantas, formações geológicas e estruturas arquitetônicas são recriadas e entrelaçam-se em que parecem sair de um conto de fadas contemporâneo.

Selva de Eva Jospin está em exposição no Museo Fortuny até 24 de novembro de 2024

Duas viagens à Itália, a primeira em 1959 e a outra 10 anos depois, mudaram a forma como Willen de Kooning, um dos maiores expressionistas abstratos do pós-guerra e um dos mais influentes artistas do século XX, criava a sua arte. Aos 65 anos, o holândes radicado nos Estados Unidos voltou à Europa, a primeira vez desde 1926, ano em que entrou clandestinamente em um navio em direção a Nova York em busca do sonho americano. A exposição ‘Willem de Kooning e l’Italia’ é a maior já realizada no país sobre o artista e a primeira que examina a influência de suas estadias em solo italiano sobre seu trabalho. São cerca de 75 obras produzidas entre as décadas de 1950 e 1980, desenhos em preto e branco feitos na capital italiana, conhecidos como série Roma, alguns deles com dedicatórias para amigos próximos; esculturas experimentais em bronze, as primeiras de sua vida, resultado de um encontro casual com um amigo escultor pelas ruas de Roma; e paisagens abstratas, como Villa Borghese, criada após seu retorno a Nova York em 1960.

Willem de Kooning e l’Italia está em exposição na Gallerie dell’Accademia até 15 de setembro de 2024

Sombrio, estranho, tecnológico. Os dois andares da Punta della Dogana estão pouco iluminados ou na penumbra, o ambiente é de silêncio e contemplação. O mundo criado pelo artista Pierre Huygue em parceria com a curadora Anne Stenne para a exposição Liminal combina criaturas marinhas que coabitam tanques com esculturas que por vezes remetem a partes do corpo humano com instalações de IA e vídeos mostram realidades paralelas. O artista questiona a relação entre o humano e o não-humano nesse momento de transição em que os limites entre o humano e o tecnológico são cada vez mais tênues. Agradável ou não, a exposição tem a rara capacidade de transportar o visitante para outro lugar, fazer com que experimente a visão do artista e questione a sua própria realidade.

Pierre Huygue: Liminal está em exposição na Punta della Dogana até 24 de novembro de 2024

A maior exposição da artista etíope, radicada nos Estados Unidos, já feita na Europa. ‘Ensemble’ apresenta mais de 50 obras, entre pinturas e gravuras, produzidas nos últimos 25 anos por Julie Mehretu. Como o título da exposição sugere, Mehretu não está sozinha, a exibição que se espalha por dois andares do Palazzo, é permeada por obras de seu grupo mais próximo de amigos-artistas: Nairy Baghramian, Huma Bhabha, Tacita Dean, David Hammons, Robin Coste Lewis, Paul Pfeiffer e Jessica Rankin. O resultado contextualiza a obra da artista e promove um rico diálogo entre o abstracionismo de Mehretu e obras em diferentes plataformas de seus amigos.

Julie Mehretu: Ensemble está em exposição no Palazzo Grassi até 6 de janeiro de 2025