Saúde
Por , Em Colaboração para Marie Claire — São Paulo

O Brasil é o segundo país com mais casos de síndrome de burnout, ficando atrás apenas do Japão, e a paulista Carla Ramalho faz parte dessa estatística. A criadora de conteúdo e consultora de marketing de 32 anos relata que o fluxo intenso de trabalho fez com que ela desenvolvesse ataques de pânico e, posteriormente, recebesse o diagnóstico de síndrome do esgotamento mental, conhecida como burnout.

Ramalho precisou pedir demissão do emprego para conseguir sair da crise aguda da doença e procurar um psiquiatra para seguir um tratamento medicamentoso.

“Sentia pavor toda vez que eu abria o notebook, porque tinha a sensação de que ia trabalhar muito e não ia chegar a lugar nenhum. O mesmo acontecia quando ouvia o barulho de ligação de chamada de vídeo, porque eu tinha reuniões muito exaustivas em que não se resolvia nada e depois tinha que trabalhar até mais tarde para entregar o que tinha prometido. Era uma sensação de não resolução, o que me estressa muito”, explica.

Ramalho reflete sobre o burnout não acontecer do dia para noite. Afetada pela questão geracional de negligência em relação à saúde mental e por ser alguém que sempre se cobrou muito, a criadora de conteúdo demorou para assumir para si mesma que havia algo de errado.

“Eu sempre tive essa impressão de que eu poderia fazer mais. Só que essa sensação de nunca estar satisfeito com o trabalho que você está fazendo é muito delicada. Porque ao mesmo tempo que você quer sempre melhorar, o que é algo bom, você se cobra e martiriza se você acha que não está fazendo um trabalho suficiente, o que é ruim. Essa cobrança vira uma bola de neve até que se torna um sintoma físico e pode desencadear um burnout que é como se seu cérebro estivesse cozido”, reflete.

Ramalho só percebeu que a situação havia fugido do seu controle quando passou a ter ataques de pânico. “Tinha uma sensação de que estava tendo um infarto. Só que, ao medir meus batimentos cardíacos, eles estavam normais. Para quem assistiu Divertida Mente 2, a sensação é exatamente como é descrita no filme. Você quer controlar o seu corpo e não consegue. Começa a sentir uma dor no peito, como se algo muito ruim fosse acontecer. No burnout, depois que passa essa crise, seu cérebro não consegue processar o raciocínio direito”, explica.

A criadora de conteúdo precisou procurar o pronto-socorro em uma das crises de pânico. Isso fez com que o médico que a atendeu a afastasse por 14 dias do trabalho para tentar remediar o burnout. Durante esse período, ela melhorou significativamente. Só que ao retornar para suas atividades profissionais, os sintomas voltaram.

Ramalho continuava fazendo acompanhamento psicológico e foi orientada pela terapeuta a procurar por um psiquiatra. Seu quadro indicava a importância da intervenção medicamentosa para controlar os sintomas do esgotamento mental.

Ramalho fez tratamento com psicólogo e psiquiatra — Foto: Arquivo pessoal
Ramalho fez tratamento com psicólogo e psiquiatra — Foto: Arquivo pessoal

“O tratamento do meu burnout foi através de medicação. Precisamos quebrar o tabu de usar remédios para melhorar a saúde mental porque também é um desequilíbrio químico que acontece no nosso cérebro. Além disso, no meu caso, a alternativa encontrada que surtiu efeito foi pedir demissão do meu trabalho. Mas sei que isso é um privilégio… Ter dinheiro guardado, conseguir me estabelecer de outras formas financeiramente e ter uma rede de apoio ”, relata.

A criadora de conteúdo reflete que, embora receber o diagnóstico de síndrome de burnout não tenha sido fácil, ela encontrou conforto em saber que tinha explicação para o que estava acontecendo e, mais do que isso: que havia tratamento. Ter um transtorno psicológico não identificado ou diagnosticado incorretamente pode ser bastante solitário.

Saber o que eu tinha foi um alívio. Percebi que não estava louca ou vivendo uma realidade paralela. Existia um nome para o que estava sentindo
— Carla Ramalho

Para além do medicamento, Ramalho conta que precisou mudar o ritmo de vida para que não voltasse ao ciclo do burnout. “O primeiro passo foi aceitar que minha mente tem limitações e que eu preciso aprender a lidar com elas se eu quiser ser saudável. Além disso, passei a tratar meu autocuidado como prioridade, ou seja, alimentação, atividade física e sono”, pontua.

Síndrome de burnout: o que é, sintomas e tratamento

A síndrome de burnout é reconhecida como uma doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2022. De acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% dos brasileiros sofrem com a condição. Ela está diretamente relacionada com excesso de trabalho e/ou condições trabalhistas ruins.

Quem nunca passou pelo burnout pode ter dificuldade para entender o que ele é, mas a psicóloga Kellen Munhoz, especialista em psicologia organizacional e do trabalho, faz uma analogia:

“Você tem um tanque de combustível que lhe dá energia para trabalhar, se relacionar e viver a vida. Todo dia esse combustível é gasto e abastecido para continuarmos “funcionando”. O burnout acontece quando esse tanque está completamente vazio, e já não conseguimos mais reabastecer. A sensação é de que não conseguimos mais repor nossas energias”, explica a especialista.

Acordamos pela manhã tão cansados quanto quando fomos dormir. É como se você estivesse em um estado de exaustão profunda, física e emocional, que lhe impede de funcionar normalmente. Esse estado de exaustão se dá por um longo período de estresse crônico e é provocado pelo trabalho”
— Kellen Munhoz, psicóloga

A síndrome de esgotamento mental pode acarretar em uma série de sintomas tanto psicológicos quanto físicos. De acordo com Munhoz e com a psiquiatra Vanessa Greghi, diretora médica do Instituto de Psiquiatria Paulista (IPP), os principais são:

- Cansaço extremo;
- Irritabilidade/agressividade;
- Mudanças bruscas de humor;
- Isolamento;
- Dificuldade de concentração;
- Crises de ansiedade e depressivas;
- Falta de motivação;
- Dor de cabeça;
- Excesso de sudorese;
- Palpitação;
- Sensação de falta de ar;
- Pressão alta;
- Insônia;
- Dores musculares;
- Distúrbios gastrointestinais.

“O tratamento do burnout precisa de medicação associada à psicoterapia e, muitas vezes, a um período de afastamento do trabalho. Os fármacos mais utilizados são os antidepressivos, que são úteis tanto na melhora dos sintomas depressivos quanto ansiosos”, explica Greghi.

O que fazer para evitar a síndrome de esgotamento mental?

Munhoz enfatiza que para que o burnout seja evitado é preciso combinar medidas individuais e coletivas. Individualmente, o trabalhador precisa estabelecer limites entre sua vida pessoal e o trabalho, ressignificar o que é ser produtivo, cultivar hobbies para além do serviço e cuidar da saúde física também, como Ramalho fez ao aderir à atividade física e uma boa alimentação diariamente.

“As empresas também têm um papel fundamental na prevenção do burnout, promovendo um ambiente de trabalho saudável com carga de trabalho equilibrada, reconhecimento do esforço dos funcionários, oportunidades de desenvolvimento profissional e apoio à saúde mental. Existem estudos que demonstram que líderes que fomentam um senso de pertencimento e valorização da equipe também contribuem para prevenir o burnout”, esclarece a psicóloga.

Socialmente, a síndrome de esgotamento mental também precisa de atenção:

Precisamos parar de valorizar a cultura non-stop, em que vemos o descanso como recompensa e não como um direito. É necessário também ressignificar nossa relação com o trabalho, entendendo que ele é uma parte importante da vida e merece equilíbrio, tirando-o de um lugar de vilão, em que eu passo os dias esperando pela sexta-feira e com pânico das segundas, ou como mocinho, em que encontro o propósito de vida só no trabalho
— Kellen Munhoz, psicóloga
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