Retratos

Por Alice Arnoldi, Colaboração Para Marie Claire — São Paulo

Larissa Duque, especialista em gestão e governança, 25, não teve uma infância e uma adolescência fáceis. Sua mãe tem traços narcisistas e sempre a enxergou como inimiga. Isso a levava a ter atitudes perigosas como tentar matar a filha queimada aos cinco anos e obrigá-la, junto a seus irmãos, a assisti-la transando com diferentes homens.

“Eu e meu pai estávamos na cama, dormindo. Minha mãe estava cozinhando e acordei porque comecei a ouvir o barulho da panela de pressão chegando perto de mim. Ela jogou a panela quente, saindo fumaça, na cabeça do meu pai. Em seguida, foi para o meu lado e colocou um pano quente e isqueiro perto de mim e queimou minha nádega direita”, relata.

Duque lembra do seu pai a segurando no colo e batendo um pano no local para o fogo cessar. Ela tem uma cicatriz até hoje. “Quando ficavámos em casa sozinhas, a minha mãe colocava fogo perto de mim ou na roupa e ficava me ameaçando”, lembra.

A especialista em gestão relata que essa não foi a primeira vez que a genitora demonstrou que não suportava tê-la como filha. A avó materna da jovem conta que, logo após Duque nascer, sua mãe saiu da maternidade com ela nos braços e tentou deixá-la em uma biqueira como forma de pagamento.

Até mesmo os traficantes acharam um absurdo o que estava acontecendo e entraram em contato com a família de Duque para explicar o ocorrido. A avó materna da jovem foi até o local, mas a filha e a neta não estavam mais lá.

“Minha avó diz que me achou em uma lixeira, perto da casa da minha mãe. Ela me pegou para ficar com ela, mas depois eu acabava voltando para a casa da minha mãe. Quando uma cansava de mim, mandava para outra”, explica.

A tristeza de ficar sendo jogada de um lado para outro

A realidade de ficar migrando de casa em casa se estendeu por toda a infância e adolescência. Até mesmo professores tentavam abrigar a aluna de tempos em tempos.

A especialista em gestão lembra de uma professora que tentou obter a sua guarda, ao observar o comportamento da aluna e ouvir o que sofria em casa. “Os professores perceberam que eu comia muito, fora do normal, porque eu morria de medo de comer a comida da minha mãe. Ela dizia que ia envenená-la”, conta.

Duque contou que vinha sendo agredida pela mãe, o que justificava suas manchas roxas pelo corpo. A genitora chegou a ser denunciada no conselho tutelar, mas a avó materna da criança tinha influência sobre o órgão por ser inspetora de alunos.

Diante da inércia do conselho tutelar, os professores se revezavam para ficar a criança, até uma professora pedir a sua guarda: “Quando minha mãe soube, começou a chantagear essa professora. Dizia que, se ela não desse determinada quantia de dinheiro, ia me pegar de volta”, relata.

Duque sofreu nas mãos da mãe e de outros adultos ao longo da infância — Foto: Arquivo pessoal
Duque sofreu nas mãos da mãe e de outros adultos ao longo da infância — Foto: Arquivo pessoal

Cansada das ameaças, a professora acabou desistindo e mandou a criança de volta para a casa da mãe. As denúncias ao conselho tutelar continuavam e o máximo que acontecia era Duque e os irmãos passarem um tempo em abrigos e depois voltarem para a família.

O prazer em ver a filha machucada

Uma das explicações para os comportamentos da mãe de Duque, segundo psicólogos e psiquiatras que atenderam a jovem de 25 anos ao longo da vida, é o fato de ela ser narcisista.

“Essas genitoras, infelizmente, são uma ameaça real para a saúde emocional e psicológica dos filhos porque são egocêntricas, indiferentes, maldosas, negligentes e controladoras”, explica a psicóloga Letícia Centurion, especialista em neuropsicologia e vítimas de narcisismo.

Duque lembra, por exemplo, de ter ganhado um par de patins rosa da mãe aos sete anos. Só que o que parecia um presente se tornou um pesadelo. “Ela pegou copos de vidro, os quebrou e colocou no meio da rua, onde eu ia andar. Então, ela colocou as mãos nos meus ombros e foi me levando até os vidros e me empurrou. Eu caí por cima deles”, relata. A jovem ainda tem cicatrizes no joelho.

Duque tem marcas no joelho por cair sobre cacos de vidro — Foto: Arquivo pessoal
Duque tem marcas no joelho por cair sobre cacos de vidro — Foto: Arquivo pessoal

Outro episódio de sadismo materno aconteceu quando a mãe da especialista em gestão disse que iria levá-la a um lugar e mandou ela arrumar sua mochila.

“Era noite e começamos a andar muito. Esse dia foi o que eu tive mais medo porque de tanto minha mãe falar que ia me matar, que me odiava, eu pensava que ela ia fazer algo comigo. Então, ela me deixou em uma passarela, no meio do mato e disse que era para eu fugir de casa e não voltar, porque, se eu voltasse, ela ia me matar”, conta.

Duque dormiu na passarela e acordou com as pessoas andando, de um lado para o outro, perguntando o que uma criança tão pequena estava fazendo ali. Ela foi levada para a delegacia e revelou o que havia acontecido. Só que um dos policiais tinha envolvimento com a mãe da jovem. A genitora disse que deixou a filha no local por brincadeira e nada aconteceu com ela.

O pai da especialista em gestão decidiu levá-la para morar com ele, mas a estadia na casa não durou mais de dois meses. A ex-esposa começou a ameaçá-lo dizendo que ele iria ser preso por estar com Duque sem sua guarda.

O abuso sexual e as filhas de mães narcisistas

A psicanalista Taryana Rocha, que dedica seu trabalho a estudar sobre o narcisismo, explica que a mãe narcisista pode ter diferentes perfis, mas sempre vai partir do pressuposto de que está certa.

“Tem a mãe narcisista que é a vítima, está sempre doente ou inventando doenças para fazer chantagem emocional e causar culpa. Tem a mãe narcisista que é religiosa, moralmente superior. Ela usa disso para mandar na vida dos filhos e do marido. E tem aquela que pode ser histriônica, usando da aparência e da sexualidade para se sentir grandiosa”, detalha.

Para Duque, sua genitora se enquadra no último caso. “Minha mãe trazia vários homens diferentes para casa e transava com eles na minha frente e na dos meus irmãos. Quando não era isso, ela e os caras ficavam pelados e ela pedia para eu tirar foto deles. Me dá ânsia de vômito falar disso”, conta.

Rocha explica que mães narcisistas também têm a tendência a desvalidar as filhas caso elas passem por situações de abuso, principalmente quando o crime é cometido por uma pessoa próxima.

Aos 9 anos, Duque adorava passear na casa de um casal de amigos da avó. Em um dia que havia dormido por lá, a esposa saiu e o marido ficou com a jovem. Ele a convidou para assistir a algo na TV.

“Sentamos na cama para ver o filme e esse homem começou a mexer comigo. Ele tirou a parte de baixo da roupa e falou que eu era muito pequenininha. Ele perguntou se eu queria crescer e ser alta e eu disse que sim. Ele falou que, para isso, tinha que colocar minha mão no pênis dele e ficar subindo e descendo. Eu fiz, porque ainda não entendia o que era”, lembra.

Quando Duque voltou para casa, contou inocentemente que iria crescer porque havia feito o que o homem mandou. “Nesse dia, eu apanhei muito. Muito mesmo. Eu apanhava e minha mãe e minha avó falavam que eu era mentirosa e que eu ia ficar sem comer e ir para escola”, relata.

A jovem ainda lembra de sempre estar com muita roupa porque começou a apanhar sem nenhum motivo aparente e se recorda também de ter que comer comida estragada.

“Lembro que ficava uns bichinhos pretos no arroz e umas almofadinhas de mofo no feijão. Ela me fazia comer e eu vomitava, porque era muito ruim o gosto. E aí ela me fazia comer meu próprio vômito”, conta.

Um dos motivos da perversidade da mãe narcisista é porque ela sente profunda inveja da filha. “Devido ao seu senso de grandiosidade, ela não suporta ver qualquer pessoa melhor do que ela. O sucesso, a beleza, a juventude da filha fere o orgulho dessa mãe, porque na sua mente doentia é ela quem tem que se destacar”, reflete Centurion.

Já na adolescência, Duque descobriu que o sogro da sua mãe, de um homem com quem ela estava se relacionando, estava abusando das suas irmãs e nada acontecia porque ele dava dinheiro em troca do silêncio da mãe. Mais tarde, a especialista em gestão chegou a ser molestada pelo mesmo homem.

A jovem decidiu ir para a internet denunciar tudo o que estava acontecendo. Depois de muita luta, ela conseguiu que o Ministério Público abrisse uma denúncia contra a sua mãe, em 2016. O processo segue aberto até hoje, sem nenhuma conclusão.

“Nas audiências, minha mãe fala que eu minto desde os nove anos, porque ela não acredita que o amigo dela abusou de mim, fazendo eu masturbá-lo”, conta.

As consequências de ter uma mãe narcisista

Rocha explica que o stress constante que é sentido ao ter pais narcisistas desgasta a saúde psicológica dos filhos, o que os deixa mais suscetíveis a desenvolverem transtornos psiquiátricos dos mais variados tipos. Eles também ficam mais vulneráveis a formas graves de doenças psicológicas se tiverem predisposição a desenvolvê-las.

“Tenho ansiedade, depressão, tomo remédio para dormir e para transtorno de humor e já fui internada em clínica psiquiátrica, só que parece que nada adianta”, lamenta Duque. Ela também tem o diagnóstico de autismo, que foi escondido dela pela mãe e pela avó ao longo da vida.

A especialista em gestão começou a ter uma nova perspectiva em relação à vida quando conseguiu se afastar completamente da família materna, indo morar com a namorada, em 2022.

Ainda que a romantização que ronda relações familiares diga que é necessário suportar tudo, Centurion explica que não é bem assim que funciona, principalmente em casos de narcisismo materno. O rompimento de todo e qualquer laço com a figura narcisista pode ser fundamental para conseguir reconstruir a vida e sair do ciclo de sofrimento vivido por tantos anos.

“O único contato que tenho com a minha mãe hoje é quando ela cria fakes para falar comigo e eu sei que é ela porque ela tem um erro de português específico. Tiro print e guardo como prova. Mas logo bloqueio”, explica Duque.

Mais recente Próxima ‘Ela estava devendo mais de um milhão de reais’: empresária diz que irmã tirou própria vida por conta de jogos de azar
Mais do Marie Claire

Em publicação nas redes sociais, ela se declarou para Jake Bongiovi; no clique, os dois surgem trocando olhares

Millie Bob Brown publica primeira foto após casamento com filho de Jon Bon Jovi: 'Para sempre'

Nomes como Marieta Severo, Marjorie Estiano, Alanis Guillen e Lucy Alves participaram da iniciativa

Campanha 'Rio Sem Preconceito' contra homofobia e transfobia reúne elenco de celebridades

Veja fotos com unhas radiantes em tons de laranja para se inspirar e reproduzir

Unhas decoradas laranja: inspirações com tons alaranjados que você vai ficar encantada

As direções do universo parecem claras: devemos atender em igual medida às nossas responsabilidades do mundo real e às nossas práticas sensíveis ou criativas e fortalecer os nossos valores espirituais. Nesta coluna, Fatima Assumpção te mostra o que esperar para este mês

Tarô de Julho: a força das emoções e um conselho dos Arcanos do Tarô

Ex-participante do BBB16 surgiu só de biquíni nas redes sociais; veja as fotos

Ex-BBB Cacau Macedo posa de biquíni, exibe corpo real e manda recado: 'Sou feliz assim'

Em fotos nas redes sociais, ela apareceu só de maiô aproveitando o verão europeu

Filha de Leonardo, Jéssica Costa posa de maiô durante férias na Itália: 'Cada dia mais linda'

Em apresentação na Biblioteca Pública de NY, o estilista foi hipercolorido em roupas propositalmente caricatas; rolou até versões repaginadas de Minnie Mouse e Marilyn Monroe e te contamos aqui o que mais amamos

Desfile de Marc Jacobs vira 'ilha de exageros', da passarela às unhas do estilista

Publicação realizada por Bruna Biancardi nas redes sociais deixou os fãs ouriçados; veja

Neymar e Bruna Biancardi voltaram? Fãs criam teoria após louças de café da manhã viralizarem

A transformação da empresária é para novo trabalho como atriz: 'Queríamos uma cor que transmitisse sofisticação e modernidade, algo que se destacasse e trouxesse uma nova vibe para a personagem'

Jade Picon aposta no loiro perolado para nova fase na carreira: 'Me desafiei com um look diferente'