Quando a situação piorou em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, a empresária Alana Curia não pensou duas vezes. Ela decidiu entrar na linha de frente para auxiliar as famílias que perderam tudo por conta das enchentes. O que ela não imaginava é que a iniciativa de ajudar as pessoas em situação de vulnerabilidade fosse interrompida.
Com a ajuda de amigos, ela comprou um barco que seria usado para resgatar moradores e levar suprimentos para quem não conseguisse sair de casa. Em uma das incursões, o veículo foi assaltado. A situação deixou a empresária perplexa.
“A gente conseguiu comprar o barco para ajudar e no outro dia roubaram. Está um verdadeiro estado de calamidade. Os preços das coisas aumentaram e as pessoas começaram a saquear os voluntários. Chegaram a ter algumas mortes. É um cenário realmente de guerra, quem não tá por dentro, quem não tá aqui, não consegue mensurar como está, mas é um cenário verdadeiramente de guerra”, disse em entrevista por telefone para a Marie Claire.
Alana ainda contou que o barco foi utilizado durante os primeiros dias da catástrofe.“Isso me chocou de verdade, porque era para ajudar as pessoas. Só quem está atuando na linha de frente sabe como está a situação. Pessoas abandonando as casas com a roupa do corpo, idosos que estão na cadeira de rodas e não conseguem sair de onde estão. Com o barco conseguimos ajudar uma grávida que deu à luz no telhado. Fizemos até enxoval para ela depois”, pontua.
Os roubos forma confirmados pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que solicitou ao Ministério da Justiça um aumento no contingente da Força Nacional. A expectativa é que 400 homens estejam atuando no estado já na próxima semana. Agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal também estão atuando em postos estratégicos. Leite também cancelou férias e licenças dos policiais, autorizou horas extras e mobilizou militares da reserva para intensificar o policiamento nas áreas afetadas pelas inundações.
Além da capital, as cidades de Canoas, Eldorado do Sul, Novo Hamburgo e São Leopoldo também têm registrado incidentes, de acordo com boletins emitidos pela Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul.
'Casas de amigas estavam debaixo d'água'
Quando os temporais começaram na madrugada do dia 3 de maio, Alana conta que viu vizinhos e conhecidos abandonando suas casas - muitas já estavam completamente alagadas.
“As casas das minhas amigas estavam debaixo d’água. Elas tiveram que sair correndo, uma delas com neném de colo. Perderam tudo que tinham. Vendo essa situação, comecei a ir no mercado, mesmo com medo, para conseguir comprar comida para doar para as pessoas que estavam precisando”, explica.
Mas, vendo que mesmo aquilo não era suficiente, Curia começou a mobilizar mais pessoas para se voluntariar. “Chamei amigos que tinham jet ski, conseguimos trazer um avião com doações, arrecadamos dinheiro para gasolina e para comprar o barco que foi usado para pegar as vítimas”, relembra. Ele também levou comida e itens de higiene para adultos e crianças.
![Alana Curia está na linha de frente dos resgates das vítimas no Rio Grande do Sul — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/blDVJWjaNEBhX8FWbeKxszW6SXw=/0x0:1170x1977/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/4/A/PwUTWFTOmjM41ncubvig/whatsapp-image-2024-05-09-at-17.18.28-1-.jpeg)
![Alana Curia está na linha de frente dos resgates das vítimas no Rio Grande do Sul — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/F_6ZBG7kjm0Q6BbZxntXEHVsSdI=/0x0:1170x1661/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/c/i/m2iKw2TVy7B79QMtarEg/whatsapp-image-2024-05-09-at-17.18.30.jpeg)
'Em nenhum momento a gente pensou em desistir'
Mesmo com o cenário desolador, a empresária conta que continua fazendo seu trabalho, não só como voluntária, mas também alertando seus mais de 12 mil seguidores sobre os riscos que ainda seguem.
“Em nenhum momento a gente pensou em desistir, parar de ajudar. Vamos seguir ajudando seguir. O que importa é a gente tá com saúde e que Deus nos deu esse dom de estar conseguindo ajudar as pessoas. Nunca me veio na cabeça desistir de alguma coisa, estamos fazendo o que conseguimos. Estou dormindo três, duas horas por noite. Não consigo dormir, descansar e tô tocando mesmo assim porque a ajuda não pode parar”, finaliza.
Agora, a preocupação é com o retorno das chuvas. O MetSul, que tem feito previsões para a região, alerta que pode cair até 200mm de chuva até a próxima terça-feira (14).
“Nosso maior medo são as chuvas voltarem. Hoje (sexta, 10), por exemplo, choveu e a previsão do tempo diz que vai durar até terça-feira (14). Devido à ventania, os aviões que trazem ajudam tiveram que dar uma travada. Então, a gente que está na linha de frente está trabalhando em dobro para não faltar nada para quem precisa. Mesmo com medo”.