Erika Hilton: 'Mulheres trans sendo reconhecidas enquanto cidadãs é motivo de alarde para extrema-direita'

Só no Twitter, o registro foi assistido mais de 2 milhões de vezes (veja mais abaixo). Nele, Hilton rebatia a fala da deputada Cristiane Lopes (União-RO) na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados. Lopes afirmou que mulheres trans e travestis estão "roubando o lugar de mulheres de verdade” na política.

A Marie Claire, a parlamentar afirma que discursos como os que presenciou na Câmara "é algo que precisa ser parado e combatido instantaneamente".

"Esse movimento que surgiu na extrema-direita no mundo todo de subjugar as pessoas trans a partir da biologia não começa e não vai parar com as pessoas trans. Já fizeram isso contra pessoas com deficiência, negros, judeus, asiáticos, povos árabes, do leste europeu, até mesmo contra as ditas 'mulheres de verdade'."

"Sabemos de onde esses pensamentos vêm, e no que eles podem resultar. E agora, a mera possibilidade de sermos reconhecidas enquanto humanas, cidadãs, é motivo de alarde pra essas pessoas", conclui a deputada federal.

Ao rebater a fala de Cristiane Lopes, Hilton definiu a afirmação como uma tentativa de "desqualificar a mulheridade de mulheres trans e travestis é, sim, transfobia" e reduzir mulheres trans e travestis a um discurso biologizante, como maneira de inferiorizá-las e impedi-las de ocupar determinados espaços. Ela afirmou que o mesmo critério é frequentemente empregado para mulheres negras, por exemplo, ao afirma que elas não precisam de anestesia no parto por serem "biologicamente mais fortes", informação que não é verdadeira.

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“Esse discurso biológico já foi utilizado muitas vezes para dizer, por exemplo, que mulheres negras não precisam de anestesia no parto porque as mulheres de verdade são as mulheres brancas. É o discurso biológico da exclusão, do preconceito. O discurso que não leva em consideração qual é o recorte histórico, social ao qual nós mulheres trans e travestis estamos inseridas na sociedade brasileira”, afirmou a deputada.

"A sociedade ainda nos enxerga como menos mulher. E, ao nos enxergar como menos mulher, também nos enxerga como menos cidadãs, que não merecem proteção, que não podem estar nos esportes, que não podem receber, como a deputada falou, ser consagradas em agremiações e em festivais. Nós temos que estar aonde? Nas esquinas de prostituição? Nos cárceres? No drogadicídio? Aonde que é nosso lugar se também não é aqui discutindo uma agenda de direitos a todas as mulheres? A luta das mulheres transexuais e travestis desse país nunca excluiu nenhum tipo de mulher. Por que a luta de outras mulheres precisa excluir a nossa existência?", continuou.

Ela também lembrou que mulheres trans só conseguiram se eleger a cargos em Brasília pela primeira vez neste ano. Além dela, também foi eleita a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG).

"As mulheres 'de verdade', nas palavras da deputada, estão perdendo espaços para mulheres trans. Que espaços são esses? Porque onde nós estamos é a pergunta que não se calará. Quantas deputadas transsexuais nós temos nessa casa? Quantas médicas travestis temos nesse país? Quantas juízas, advogadas? Queremos espaços dignos na sociedade, direito à cidadania", questionou Hilton.

Por fim, a parlamentar reforça que seu mandato tem o "propósito" de "defender a vida de todas as mulheres sem deixar que nenhuma mulher -- negra, indígena, com deficiência, do campo, quilombola -- seja esquecida, pisada, açoitada. Para que as mulheres avancem, todas nós teremos que avançar." Veja o vídeo completo abaixo.