![Bolsa Amelie Pichard — Foto: Amelie Pichard](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/uUQL6YPsueb5OfmLfE7krVWhaSo=/0x0:1920x1280/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/v/u/htI9IdRsuDtmcOAgpSUQ/amelie-pichard-leaf-bag-featured-web.jpg)
Está no DNA do estilista gaúcho João Maraschin investigar práticas sustentáveis para incluir nos processos criativos de sua marca homônima. Em busca de uma alternativa para o couro animal, ele conheceu, em 2018, o BeLEAF, produzido a partir da folha da planta orelha-de-elefante. “Este biomaterial se assemelha muito ao couro, em nível de peso, textura e maleabilidade”, conta Maraschin. “Por isso, faz parte das minhas coleções desde o meu primeiro desfile de conclusão do mestrado, em Londres, depois apresentado também na Semana de Moda da cidade.”
A transformação da folha da orelha-de-elefante, planta de uso doméstico e que pode chegar a 1 metro de comprimento, em insumo para a moda aconteceu por iniciativa da Nova Kaeru, um verdadeiro curtume orgânico, com sede no Rio de Janeiro. Através de processos sustentáveis e limpos, a Nova Kaeru produz dois materiais destinados ao universo fashion: um couro da pele do pirarucu, um peixe amazônico, e o couro vegetal BeLEAF
Assim como João Maraschin, outros nomes da moda aderiram ao beLEAF: as marcas brasileiras Misci, Alexandre Birman, Ginger e as internacionais Loewe, Botter e Louboutin estão na lista de clientes que criam produtos que vão de sapatos a jaquetas com o biomaterial.
Desenvolvido pelos sócios Eduardo Filgueiras e Paulo Costa, em 2007, o beLEAF vem sendo exportado para mais de 30 países. “O interesse pela inovação veio da vontade de criar processos que ajudassem a eliminar metais pesados utilizados pela indústria do couro”, diz o diretor de marketing da marca, André de Castro.
A produção da beLEAF acontece em uma área rural da Serra de Petrópolis, região carente de oportunidades de trabalho. Por isso, diz André de Castro, a empresa se preocupa em aliar a tecnologia de ponta à valorização do trabalho artesanal, empregando mais de 150 pessoas do local. “Há um impacto significativo na pequena comunidade em que nos encontramos, que se chama Bemposta, já que somos empregadores e formadores técnicos.”
De Misci a Loewe
Sob o olhar dos criadores de moda, o biomaterial ganha diversos usos. Enquanto João Maraschin e Loewe fazem roupas, a Misci o transforma em tamanquinhos e mules; a Botter, em bolsas no formato da própria folha; Alexander Birman, Louboutin e Ginger em sapatos que valorizam o desenho único da orelha-de-elefante; e a Amelie Pichard em bolsas tipo baú.
![Top feito de BeLeaf da Loewe — Foto: BeLeaf](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/H32yJgiirJ1zxunq7_dubuA61mM=/0x0:1920x2400/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/r/m/xszAgMQNAX3e3fcVEmNA/vogue-pt-1-web.jpg)
A preocupação ambiental da Nova Kaeru, diz seu gerente de marketing, vem desde o início do processo do que viria a ser a beLEAF. A plantação da orelha-de-elefante é feita privilegiando agroflorestas da empresa e em sítios de outros pequenos agricultores da região com quem a Nova Kaeru faz parceria.
É preciso aguardar um semestre inteiro para que a planta tenha o tamanho ideal de 1 metro de comprimento necessário para valer como recurso para a moda. “A planta produz mais quando há sol e chuvas. Então, as folhas maiores são colhidas, para que outras cresçam na mesma muda.”
Depois dessa etapa, a folha passa por diversos processos artesanais, como o curtimento feito com óleos e produtos químicos não agressivos, o tingimento com pigmentos naturais e a inserção do forro de microfibra, colocado no verso de cada folha. É tamanho o cuidado com essa produção que todos os resíduos do processo são usados como fertilizantes nas terras onde as orelhas-de-elefante são cultivadas até serem oferecidas ao mercado fashion.
![Comparação entre a folha da Pata-de-elefante (à direita) e o couro ecológico BeLeaf (à esquerda) — Foto: BeLeaf](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/9evQNTyXK2mjGg1G9Im_I5Xg-CM=/0x0:1920x2400/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/f/m/6hKc2lSg6ANF2gBGAPFA/copia-de-post-beleaf-e-arte-10-upscayl-4x-realesrgan-x4plus-1-web.jpg)
Em uma indústria que ocupa a sexta posição no ranking das mais poluentes do mundo, segundo relatório do grupo londrino The Eco Experts, de 2022, ter opções que ajudem a criar uma nova ordem no ciclo de produção da moda é um alívio. Ainda assim, é preciso que se estabeleça um novo pacto entre fornecedores, estilistas, costureiros, modelistas e consumidores, como avalia Maraschin: “É absolutamente fundamental ter a sustentabilidade como um pilar criativo na moda e eu a vejo como o ‘fator qualidade’. Nós, como designers, não podemos imaginar um produto que não seja sustentável. Se não fizermos dessa forma, estamos fazendo errado”.
De fato, a moda é um fenômeno tão poderoso e de tanta influência que designers e marcas precisam mesmo ter responsabilidade social, ambiental e até política antes de colocar uma peça de roupa nova na vitrine.