Moda

Por Estela Braga, redação Marie Claire — São Paulo (SP)


Anne Hathaway não conseguia se sentar com vestido da Versace. — Foto: Reprodução/Instagram @annehathaway
Anne Hathaway não conseguia se sentar com vestido da Versace. — Foto: Reprodução/Instagram @annehathaway

Durante a Semana de Moda de Milão, a atriz Anne Hathaway foi convidada para apreciar o desfile da coleção de Inverno da Versace. A peça escolhida para a ocasião foi um vestido vermelho em couro rente ao corpo, com corset que, inclusive, foi desfilado naquele dia.

Em um vídeo bem-humorado publicado no Instagram de Anne Hathaway e Donatella Versace, designer-chefe da marca, Hathaway tenta se sentar em um sofá sem sucesso, já que o corset do vestido não a permite dobrar o corpo.

O tom do post era cômico, inclusive, a legenda de Hathaway dizia “Respirar? Sentar? Te amo, Donatella”, no entanto, a situação nos faz questionar: por que as celebridades continuam vestindo roupas tão desconfortáveis?

A montanha-russa da moda feminina

Para a consultora de estilo Amanda Souza, ativista pela liberdade pessoal e autoestima feminina, a moda feminina sempre foi uma grande montanha-russa. “A moda da mulher tem esse movimento cíclico: ora liberta, ora espreme”. Sim, estamos falando de saltos, espartilhos, sutiãs e muitas camadas de roupa, como na era vitoriana.

Foi só mais tarde, nos anos 1920, que o anseio pelo conforto e pela liberdade do pós-guerra inspirou Coco Chanel, que revolucionou a moda feminina ao rejeitar os espartilhos e trazer roupas mais soltas e confortáveis às mulheres. Se hoje podemos optar por calças, sapatilhas e suéteres, é graças à estilista, que sempre reforçou a importância do bem-estar no luxo. Como ela dizia, "a moda tem dois propósitos: conforto e amor, a beleza vem do encontro deles”.

Mesmo com essa abertura histórica, fato é que conforto e estilo sempre estiveram numa corda bamba quando o assunto é roupa feminina. Temos liberdade, sim, para vestir o que quisermos, mas diversos fatores entram na equação: além de estilo pessoal, há a feminilidade, o olhar masculino sobre o corpo e a aparência da mulher, o acesso às roupas, a exclusividade, a convenção social. E isso povoa não só nossas cabeças, como a de diretores criativos que fazem o mercado da moda de luxo girar.

Os estilistas

Os estilistas têm um papel crucial no que diz respeito ao equilíbrio entre o conforto e a estética nas criações, no entanto, para a consultora de estilo Janaína Souza, há mais do que isso. Afinal, moda também é arte.

Considerando que os estilistas são profissionais criativos, é compreensível que algumas peças sejam criadas não para serem vestidas e comercializadas, mas para fazerem parte de um contexto maior e simbolizar uma expressão artística.

“Os estilistas devem, sim, equilibrar esses dois fatores, mas não acho que a responsabilidade seja deles. É mais uma questão da escolha de quem usa”, disse Souza sobre celebridades que sacrificam o conforto em nome de uma imagem mais expressiva e impactante a partir de peças criadas para contemplação.

Olhar masculino

O lugar da mulher como mero objeto de apreciação, em que se exaltava a beleza, jovialidade e feminilidade, ainda existe. Infelizmente, há um resgate bastante romântico desse olhar, principalmente pelos homens, com a ideia de que “em outros tempos, as mulheres se vestiam com mais glamour”.

Janaina Souza considera que “hoje, estamos mais atentas e críticas” a isso. Amanda Souza, por sua vez, aponta que a predominância dos homens na alta costura cria, ainda que inconscientemente, situações desconfortáveis para a mulher. É com muita esperança, aliás, que se vê cada vez mais mulheres desenhando e criando para uma ergonomia psicológica e física feminina.

A imagem que vale tudo

Para as celebridades, estão dados alguns códigos de mobilidade e inflexibilidade para expressar elegância e luxo. É difícil e inalcançável? Talvez isso seja uma forma de se destacar. Vale dizer que sapatos e vestidos apertados sempre fizeram parte desta "aura" dos tapetes vermelhos e dos eventos sociais que ficam sob holofotes do mundo todo.

No Globo de Ouro de 2024, a cantora Dua Lipa exibiu um vestido Schiaparelli preto super justo, com adornos dourados que lembravam um violino. Na ocasião, a artista postou um vídeo em seu Instagram com dificuldades para se sentar na cadeira do evento e brincou: “Faltou uma cadeira reclinável”.

Entre críticas e elogios, o look foi um dos mais comentados da noite e seu vídeo viralizou nas redes sociais.

Isso acontece mesmo eles tendo mais opções para escolher looks comfy. "Teoricamente, elas têm condições de escolher qualquer peça que as deixem confortáveis, mas optam por roupas que são verdadeiras obras de arte, mas não são usuais", analisa Janaina.

A exclusividade

Para Amanda Souza, a imobilidade das peças está ligada à diferenciação dos demais. É só pensar nas saias-lápis: ainda que as mulheres mal consigam andar dentro delas, existe uma conotação de elegância e autoridade na peça.

E a volta triunfal dos anos 2000 trouxe essa ideia. É como se as celebridades fossem "peças de museu", e a rigidez das peças ostenta o inalcançável.

As Kardashians são um ótimo exemplo: sinônimo de ostentação, as irmãs frequentemente são vistas em peças milionárias extremamente justas, que espremem suas curvas e demonstram muito desconforto.

Em entrevista para a apresentadora Ellen Degeneres, em 2022, Kim Kardashian reforçou seu comprometimento com a estética e afirmou: “Não importa o quão desconfortável eu esteja e nem quanto tempo eu tenha que usar. Se eu tiver que usar fralda e não ir ao banheiro”.

Ainda que, hoje, isso seja mais democrático, o luxo é um valor que nos diferencia dos demais. E é aqui onde entram as celebridades. É como se pensassem (e transmitissem): “Eu tenho uma equipe para me ajudar a ficar imóvel, além de um corpo extremamente magro que me permite vestir essas roupas, isso comunica elitismo”, diz Janaina Souza.

Conforto ou beleza? Por dentro das escolhas e influências

“Cada escolha, uma renúncia”, diz Janaina Souza. Para a consultora de estilo, não há problema em criar essa imagem deslumbrante se o conforto não é prioridade. Mas, vale dizer que, por um momento, o confortável "esteve em alta". De 2020 para cá, com o impacto do isolamento social e do home office, todos queriam adotar o estilo comfy e usar pijamas e tecidos leves.

Um estudo do Sebrae Digital indicou que, nos Estados Unidos, por exemplo, em 2020, as vendas de calças de moletom aumentaram em 17%, as de roupas de dormir, 6%e a de calçados como chinelos cresceram 21%. Para Janaina, a “malemolência do conforto da moda” mostrava que o conforto pode, sim, ser elegante.

E agora?

Agora, dizem as especialistas, a ressaca veio: nos últimos dois anos o processo de tornar a moda acolhedora e confortável se afastou, e o ciclo de “espremer e libertar” entrou novamente na era da ode à magreza e aos looks que evidenciam o corpo assim -- ainda que exista movimento forte para evitar que isso prejudique a autoestima, principalmente das mulheres jovens.

“A gente realmente quer prestar atenção nas tendências mais confortáveis, ou é mais cool pertencer ao grupo de quem prega a falta de mobilidade e a magreza extrema?”, se pergunta Amanda Souza.

A consultora e ativista assume que sente falta de quando a tendência comfy estava em alta, para que as mulheres continuassem a ver que conforto tem, sim, a ver com elegância e autoridade: “Para mim, tem muito mais a ver. Isso mostra o que é ter as rédeas da própria vida, e não valorizar a opinião alheia.”

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