Me hospedei em um camping luxuoso na serra ‘espiritual’ do Ceará e conto como é possível ter glamour no meio da natureza

O que seria apenas uma casa de descanso foi crescendo. O bastante para se tornar uma hospedagem, mas não o suficiente para que Dias se tornasse um estranho em seu próprio refúgio. E o glamping imprime exatamente isso: um lugar onde você pode fugir da rotina, mas ainda assim se sentir em casa.

São apenas seis hospedagens disponíveis, sendo cinco em domos geodésicos (estruturas arquitetônicas que lembram cúpulas ou abóbadas feitas de lona e metal) e uma em construção tradicional , a “Toca”.

Com a área da cozinha aberta para a área comum da hospedagem, quem se hospeda pode escolher uma rotina mais individual ou coletiva. O deck da piscina também é sala de estar e sala de jantar e é lá que existe uma extensa mesa para as refeições feitas por Maria Gleiziane de Sousa, ou Gleizi, como é conhecida.

No período em que Marie Claire teve a estadia por ali, uma das sugestões da cozinheira foi o prato de fettucine com camarão rosa cearense, acompanhado de trufas negras e molho branco. Para quem quer viver o camping de maneira mais independente, também há opção. Mas esqueça os fogões improvisados ou panelas adaptadas para uso externo. Cada espaço tem uma varanda onde é possível fazer o seu próprio churrasco aproveitando a vista.

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O glamping é um termo criado para, em bom português, definir os espaços em que se pode dormir em meio à natureza, mas sem perrengue. Todas as habitações dessa unidade, por exemplo, possuem camas king ou queen size, lençois de fios egípcios, roupão, máscara para sono e som ambiente com música clássica. “A música clássica é atemporal, até os animais e plantas gostam dela”, diz o proprietário. “Mas, nós, seres humanos, esquecemos que somos natureza”.

No quesito conforto, o modelo de negócio de hospedagem também não fica atrás. “Sei o quanto a experiência com hospedagem é importante. Se você ficar num hotel de cimento e vidro, por mais luxuoso que seja, vai ser igual a ficar em um hotel em qualquer lugar no mundo. O estilo diferenciado daqui é estar perto da natureza sem perder o conforto”, explica. Uma materialização desse pensamento é o café da manhã: ao invés de um buffet, o hóspede recebe uma cesta de piquenique e pode escolher onde e que horas quer comer. No meio da mata? Na piscina? Na varanda do quarto? Na área do lago?

Na refeição, aliás, o luxo se encontra com o tradicional. Além de pães e frios, a equipe oferece comidas típicas, como a “broaca”, quitute típico sertanejo feito de trigo e açúcar e frito na manteiga de garrafa.

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De cada acomodação, se sente que, embora a Serra de Estevão esteja localizada no sertão central da cidade, no meio da caatinga, o local tem, num dia só, todas as estações do ano. Depois do amanhecer frio e com neblina, a temperatura vai esquentando, esquentando, esquentando até o sol ficar bem forte no meio da tarde; à noite, volta a esfriar.

Para que os hóspedes tenham opções de atividades a qualquer momento, o glamping também capricha nas atrações: piscina, passeio de cavalo, voltinha de buggy ou voo de parapente para os dias e observação de estrelas e cinema ao ar livre com vinho e marshmallow na fogueira para a noite.

No início do dia, explorar as redondezas e a vocação “espiritual” da região podem fazer parte da agenda de quem se hospeda, por meio de trilhas. Há diversos caminhos, para diversos preparos físicos, mas uma coisa é certa: as paisagens, independente de quão atleta você for, são de tirar o fôlego. A serra é uma das mais preservadas do Brasil, com um relevo encantador e boa quantidade de animais selvagens e, quem sabe, até de ETs. O guia que me levou ao passeio, Carlos Daniel da Silva Nascimento, garantiu que extraterrestres não só existem como visitam a serra. “Mas você só vê se tiver muita sorte”, diz. Não tive nenhuma sorte e, infelizmente, não vi nenhum ET.

Natural de Dom Maurício, distrito pertencente a Quixadá, Nascimento se criou como agricultor e começou a trabalhar no glamping há três anos. Ele inclusive foi o responsável por abrir a trilha que percorremos. “Fui escolhendo os pontos de que mais gostava e achava bonito”, explica.

No trajeto, não vimos seres de outros planetas, mas, sim, alguns animais, como mocó, prá e o gavião-carcará, em seu habitat natural.

Quem nos esperava no último ponto da trilha eram Tina e Fred, duas alpacas consideradas “hóspedes permanentes” do Dom. “Elassão comuns no Peru, mas essass são brasileiras”, contou Dias, destacando que os bichos são mansos, mas devem ser observados de longe, inclusive porque Tina está grávida e se assusta facilmente.

A área do hotel tem 15 mil metros quadrados e, por mais que o glamping respeite o relevo da serra, uma alteração na natureza é sempre uma alteração na natureza. Pensando em como mitigar as alterações, a hospedagem propõe uma atividade aos hóspedes: quem quiser, pode plantar uma muda de árvore para ajudar no reflorestamento. Para deixar minha contribuição, escolhi uma muda de açaí que, embora não seja nativa da caatinga, Nascimento me garantiu que irá vingar. O nome dado foi Marie Claire, mas ele logo abrasileirou para Marriclé. Gostei. Vida longa à pequena Marriclé e à Serra do Estevão!

A diária vai de R$ 850 a R$ 2.000 e o Dom Luxury Glamping fica em Quixadá, no Ceará. A reserva pode ser feita pelo Instagram da hospedagem, o @dom_luxury_glamping.

*A repórter foi convidada pelo Dom Luxury Glamping