‘Temos que perceber a cultura como um fator de economia saudável do nosso país’, dizem diretoras do Instituto Inhotim

Patrimônio público do Brasil, o museu, localizado em Brumadinho (MG), é o maior do mundo e traz à pauta da 10ª edição do Power Trip Summit a discussão a respeito da preservação da cultura nacional e do papel da instituição em resistir às tecnologias que ameaçam experiências sensoriais presencialmente

Por , redação Marie Claire — de Belo Horizonte (MG)


Na 10ª edição do Power Trip Summit, Paula Azevedo e Júlia Rebouças, diretora presidente e diretora artística, respectivamente, do Instituto Inhotim Bruna Brandão

As coleções permanentes dos museus são desproporcionalmente masculinas e esmagadoramente brancas. Um estudo que analisou o catálogo dos 18 maiores museus dos Estados Unidos descobriu que 85% dos artistas são brancos e 87% são homens. Através da arte, as pessoas comunicam suas emoções, ideias e interpretação do mundo. Ela é uma das formas de expressão individuais e coletivas mais poderosas que existem sobre justiça social, direitos humanos e desigualdade.

A lente de um homem branco, por mais talentoso que ele seja, não é capaz de capturar todas as nuances da experiência humana. Quando a arte é dominada por homens, é inevitável que o viés masculino se torne a verdade absoluta. Na 10ª edição do Power Trip Summit, Paula Azevedo e Júlia Rebouças, diretora presidente e diretora artística, respectivamente, as duas mulheres à frente do maior museu aberto do mundo que há dois anos virou patrimônio público, o Instituto Inhotim, debateram a respeito de como multiplicar o olhar na produção artística e importância da instituição para a arte nacional.

Os desafios de administrar uma instituição que era privada, se tornou pública e ainda está localizada a céu aberto são extremamente distintos do que se costuma entender de um museu. Esse ponto foi algo que Paula desenvolveu, explicando o tamanho da responsabilidade envolvendo o instituto: “O Inhotim não é só um museu de arte contemporânea, ele é também um jardim botânico e um parque. Então, para tratar de um museu singular, a gente precisa de práticas de gestão que sejam também singulares. Quando a gente fala em grandiosidade, o Inhotim tem muitos desses dados, 140 hectares, 24 galerias, enfim, uma coleção enorme, espécies botânicas, tem sempre um aspecto superlativo, a gente está falando também da necessidade de inventar práticas que dêem conta dessa grandiosidade.”

Paula Azevedo, diretora presidente do Instituto Inhotim, na 10ª edição do Power Trip Summit — Foto: Bruna Brandão

Júlia Rebouças ainda comentou sobre sua trajetória de mais de 15 anos — entre idas e vindas — em Inhotim e como as mudanças comportamentais da sociedade influenciaram em uma renovação no posicionamento do museu a respeito de representatividade. “Cheguei em 2007, o museu tinha acabado de abrir ao público, e vim para trabalhar na curadoria. Fiquei nessa função por oito anos e ano passado eu voltei como Diretora Artística. Fiquei também oito anos fora desenvolvendo outros projetos e aconteceu um grande amadurecimento, mas sem dúvida, o que a gente está vivendo agora em termos de inovação e de gestão nessa virada de 2022 para 2023 é sem precedentes.”

Ela reconhece a coleção majoritariamente masculina de Inhotim, mas enaltece que esforços estão extremamente direcionados para essa garantia de visibilidade: “Estamos tratando disso com toda seriedade, com todas as nossas metas e compromissos. Mas hoje, das nossas 18 galerias permanentes, 50% são de artistas mulheres. Esse direcionamento é muito importante, porque o que se faz num espaço cultural, reverbera no mundo inteiro.”

Júlia Rebouças, diretora artística do Instituto Inhotim, na 10ª edição do Power Trip Summit — Foto: Bruna Brandão

Paula acrescenta que o receio a respeito da chegada da inteligência artificial no âmbito cultural não é necessário, já que cada vez mais o indivíduo preza pelas vivências que o façam sentir algo: “No Inhotim, de fato, o que a gente tenta promover é uma experiência que coloca nosso corpo num espaço e num tempo diferente. Então a ideia mesmo é desacelerar. E isso pra gente é um ativo muito importante e faz parte do que a gente está manejando o tempo inteiro no nosso trabalho.”

A diretora presidente finaliza com um apelo para que se valorize a arte e reconheça a sua importância não só cultural, como econômica: “Hoje o setor criativo representa 3,11% do PIB brasileiro e a gente tem cerca de 7,3 milhões de trabalhadores no setor criativo no Brasil. Então é para a gente lembrar que cultura não é luxo, não é dispensável, a gente tem que perceber a cultura como um fator de economia saudável do nosso país.”

Sobre a 10ª edição do Power Trip Summit

O principal encontro de líderes mulheres do Brasil, o Power Trip Summit, promovido por Marie Claire com patrocínio master do Banco do Brasil, patrocínio de L’Oréal Paris, Vivo e Dove, apoio do Magalu, Musquée, Mastercard, Liftera e MSD, parceria educacional da MUST University, apoio institucional do Instituto Inhotim, participações de Oshadi e Dior e parceria editorial da Pantys. Foi realizado nos dias 26, 27 e 28 de maio, no Hotel Fasano Belo Horizonte, em Minas Gerais.

Em sua 10ª edição, o evento aborda o tema “Visionárias” e reuniu na plateia executivas, CEOS e líderes da sociedade civil nos campos dos negócios, cultura, beleza, moda, política, ciência e tecnologia. O Instituto Inhotim, sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e o maior museu a céu aberto do mundo, foi parte da agenda.

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