O que está por trás da 'proibição' da França a fast fashions?

O país quer, acima de tudo, combater o desperdício de roupas entre os consumidores

Por Teneal Zuvela, de Marie Claire Austrália, com tradução de Nathália Geraldo, de Marie Claire Brasil


Imagem de uma vitrine da Zara Getty Images

No mês passado, a câmara baixa do parlamento da França votou unanimemente a favor de um projeto de lei que visa reduzir o fast fashion. O projeto de lei é o primeiro do seu tipo e, se aprovado pelo senado, fará da França o primeiro país do mundo a legislar contra o setor da moda e seus impactos devastadores.

Como um país conhecido por suas marcas de luxo como Chanel, Dior e Louis Vuitton, o atrativo dos produtos de fast fashion de baixo custo e produção em massa não só tem implicações ambientais severas, mas também econômicas e culturais.

"Essa evolução do setor de vestuário em direção ao fast fashion, combinando volumes crescentes e preços baixos, está influenciando os hábitos de compra dos consumidores ao criar impulsos de compra e uma necessidade constante de renovação, o que não é isento de consequências ambientais, sociais e econômicas", afirma o projeto de lei.

O "golpe" no mercado vem logo após o país lançar um esquema de reparo que incentiva os franceses a consertar suas roupas em vez de jogá-las fora.

No ano passado, o governo francês investiu 154 milhões de euros (168 milhões de dólares) na iniciativa, que reembolsa os consumidores em até 25 euros (27,20 dólares) por cada item reparado.

No entanto, o novo projeto de lei foi descrito como outro "grande passo adiante" pelo ministro do meio ambiente da França, Christophe Béchu, que se manifestou após a votação bem-sucedida na câmara baixa. "Um grande passo foi dado para reduzir a pegada ambiental do setor têxtil", acrescentou Béchu.

Implicações do projeto de lei

Ainda será possível entrar na Zara na Champs-Élysées? Abaixo, explicamos tudo o que você precisa saber sobre a 'proibição' do fast fashion na França.

  • O projeto de lei foi descrito como uma 'proibição' ao fast fashion, mas o significado exato da 'proibição' é um pouco mais complicado.
  • Essencialmente, o projeto de lei não impedirá que fast fashion seja produzido ou vendido na França.
  • Trata-se mais de estabelecer legislação que dissuada os consumidores de comprá-la e as marcas de produzir e vender em excesso.

Isso inclui:

  • Uma proibição completa de publicidade de marcas de fast fashion
  • Uma taxa ambiental de 5 euros em cada item de moda rápida produzido
  • Uma parte essencial da taxa ambiental inclui um aumento gradual da taxa para até 10 euros até 2030.

Isso deve tornar mais caro para as empresas produzir e vender itens 'de baixo custo'. No entanto, a taxa não pode representar mais de 50% do preço do item - portanto, para itens com preço mais baixo, a taxa também será menor. O dinheiro da taxa será usado para apoiar marcas mais sustentáveis e ecologicamente corretas na produção de produtos.

O projeto de lei também estipula que as marcas de moda rápida, como Shein e Temu, serão obrigadas a publicar mensagens claramente visíveis sobre o impacto ambiental de seus produtos em seus sites e incentivar seus clientes a reciclar itens. Se as marcas não cumprirem, terão que pagar até 15 mil euros.

O que é fast fashion?

É geralmente considerado como roupas produzidas rapidamente, em massa e em resposta às últimas tendências da moda.

Os itens geralmente são baratos para produzir, baratos para comprar e de baixa qualidade. O modelo oferece aos consumidores um guarda-roupa constantemente renovado de novos itens de baixo custo, reforçando uma mentalidade de consumo elevado que deixa os trabalhadores têxteis mal remunerados e o meio ambiente a pagar as consequências.

O novo projeto de lei da França mira especialmente marcas de moda ultra rápida como Shein e Temu, mas afetará qualquer marca de moda que seja culpada do descrito acima. É esperado que isso inclua marcas populares como H&M, Zara e Mango. Para decidir, o país utilizará um novo sistema de pontos ecológicos para avaliar empresas de moda.

O que as marcas acham do projeto?

É seguro dizer que as marcas não estão exatamente satisfeitas com o novo projeto de lei. A Shein, uma empresa de moda ultra rápida da China, argumentou que o projeto de lei "piorará o poder de compra dos consumidores franceses, em um momento em que já estão sentindo o impacto da crise do custo de vida", em comunicado à BBC.

Um porta-voz do gigante chinês Temu também disse à BBC que sua marca "reconhece as importantes preocupações ambientais abordadas pela proposta legislação francesa" e argumentou que não operam como uma empresa de moda rápida porque são um mercado e não fabricam seus próprios produtos.

O que falta para virar lei?

Antes que o projeto de lei se torne lei, ele precisa passar pelo senado francês para a votação final.

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